Posicionamento completo sobre o caso de plágio e invisibilização de mulheres autoras e pesquisadoras

Todas as crises que enfrentamos ao longo desses 15 anos de PdH e Instituto PDH foram atravessadas por meio de escuta, sempre envolvendo pessoas nas quais confiamos de nossas redes e de movimentos interseccionais que admiramos.

O caso de plágio denunciado pela pesquisadora Valeska Zanello, a qual admiramos imensamente, é uma das situações mais delicadas já enfrentadas por nós.

João Marques, que mantém uma página no Instagram na qual fala sobre masculinidades e também contribui editorialmente conosco, foi denunciado. Fomos igualmente pegos de surpresa por tudo que aconteceu, não tínhamos qualquer conhecimento disso.

Já acompanhamos Valeska muito antes desse caso, inclusive divulgamos sua pesquisa em muitas de nossas atividades. Sabemos que a invisibilidade da produção acadêmica das pesquisadoras mulheres é uma questão estrutural gravíssima e uma das faces mais cruéis do machismo. É intolerável que isso siga. Toda nossa atuação enquanto espaço voltado para a equidade atua em prol de mudanças estruturais como essa.

Nossas pesquisas, documentários e produções sempre envolvem mulheres e uma escuta atenta às suas necessidades. Tudo que produzimos é 100% público e visa alcançar o maior impacto benéfico possível.

O que torna essa situação complexa?

Há um atravessamento sério de raça, gênero e classe, o qual não podemos ignorar, sendo um instituto comprometido com atuação interseccional. João é um jovem homem negro cuja família depende 100% de seu sustento, em um país racista.

Ele ter cometido plágio está gerando punições sérias, pelas alçadas devidas. Indo adiante, e em coerência com o que sempre falamos nesses 15 anos, somos contra linchamentos virtuais, assim como uma cultura punitivista de cancelamentos. Esse não é um país que dá segundas chances para minorias — incluindo mulheres e homens negros nessa conversa. A rota mais fácil para proteger nossa imagem seria demissão sem qualquer diálogo ou consideração do contexto maior.

A princípio consideramos o não desligamento imediato. Avançando em nossa escuta, porém, dialogando com pessoas chave de nossa rede e comunidade, leitoras e leitores, entendendo a necessidade de segurança editorial e de clareza das bússolas que guiam nossa jornada pela equidade, optamos então por desligar João do PapodeHomem e oferecer um suporte financeiro voltado para sua família nesse momento crítico, no qual todas suas outras fontes de sustento foram cortadas.

Há mulheres produzindo conteúdo no PDH?

Sim, desde o início. Nos últimos anos, em especial, a maior parte do conteúdo de nosso Instagram foi produzido por Gabriella Feola, atual Coordenadora de pesquisa, produto e impacto no Instituto PDH. Ao longo dos anos tivemos inúmeras autoras, colunistas e editoras de conteúdo.

Por que não dão voz a Valeska nas redes PdH nesse momento?

Conversamos diretamente, ela preferiu não. Iniciamos nossa apuração com essa escuta de Valeska, para entender o que seria chave, em sua perspectiva. Ela não deseja ser mais envolvida no caso ou ter aspas incluídas aqui — e respeitamos integralmente sua posição. Consideramos cuidadosamente tudo que ela nos pediu.

Por que demoramos a nos posicionar?

Porque somos uma instituição pequena, com equipe atravessada por questões de família e saúde também sérias. E optamos por realizar escuta de outras mulheres, pesquisadoras, pessoas negras e ativistas do campo para construir um encaminhamento responsável.

Vocês dão destaque a mulheres no trabalho de vocês?

Constantemente. Nosso principal trabalho hoje não é o Instagram. É a atuação olho a olho, com rodas de conversa e workshops de conscientização por todo o país, indo de escolas a empresas, de igrejas a chão de fábrica, dialogando com homens e mulheres. 

Realizamos incontáveis atividades voluntárias, atuamos com fundações, coletivos e outros grupos de pesquisa.

Todos os anos levamos esse trabalho a milhares de pessoas, prestando suporte e apoio em diversas questões conectadas às masculinidades e gênero.

O eixo de nossa atuação é pautada em responsabilidade, escuta, interseccionalidade e um compromisso permanente com o aprendizado. Acreditamos na possibilidade de mudança, reflexão e transformação, sempre centrando essa conversa a partir da perspectiva dos grupos minorizados. Seguiremos assim.

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Nota sobre comentários:

Como sempre foi tradição na casa, queremos poder dialogar com vocês nos comentários e esse espaço segue aberto para trocas. No entanto, como falamos, hoje temos uma equipe muito pequena que atua em diferentes frentes no Instituto PDH, por isso, podemos demorar alguns dias para responder atentamente aos diálogos que se desenvolverem aqui.


publicado em 10 de Março de 2022, 23:44
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