Estamos o tempo todo dando carteiradas para assegurar aos outros e a nós mesmos quem somos.
Usamos tal combinação de relógio e cinto para contar de nosso bom gosto e conta bancária. Compramos vinhos caros para fechar negócios e arriar calcinhas. Assinamos nossos emails com cargos pomposos para deixar claro o tamanho de nossa pica corporativa – pra que negociar prazos e tarefas quando se pode currar subalternos?
Expomos nossos sentimentos de maneira boazinha, para manipular situações. Somos generosos e agimos "de coração" para, muitas vezes, sufocar os outros construindo uma imagem falsa – um tapa buracos para carências e medos.
Nossas posses, nossos hábitos, nossas falas e nossas ações parecem contar de quem somos. Mas mentimos.
Contam de quem desejamos ser, do que aspiramos projetar, de nossos obstáculos; não do que está por trás. E apesar dessas encenações, lá no fundo sabemos que o que nos move está além, num local não muito claro. Quando ninguém está olhando, essa essência parece aflorar como se estivesse ali todo o tempo, apenas nos esperando.
Para realmente conhecer uma pessoa, proponho um pequeno teste.
Observe como os outros se movimentam em torno dela. Assim como podemos medir a qualidade de um professor por seus alunos, podemos sentir a presença de qualquer um pela qualidade de sua rede e de suas relações autênticas (e não de seu networking). A motivação e os movimentos que somos capazes de inspirar contam daquilo que não se mede pelas aparências.
Observe ainda como os outros falam dela, em especial quando não estiver presente. Esses depoimentos involuntários nos contam de dinâmicas sutis bastante reveladoras.
Procure descobrir quem ela admira, com quem ela aprende. Nossos mestres e fontes de inspiração dão boa medida de quem seremos no futuro.
Entenda como ela age quando julga não ter quem impressionar, quando está sozinha ou distante de olhares conhecidos.
Examine com cuidado as escolhas feitas por ela ao enfrentar situações duras, imprevistas. O que sustentamos no dia a dia é nossa caracterização. Ao sermos pressionados, o caráter aflora.
Acompanhe por onde o olhar da pessoa se direciona. Atente-se para os locais e momentos nos quais ela deposita energia sem piscar. Nosso olhar, sutil ou descarado, nos delata.
Está aí alguém. E você, quem é?
publicado em 06 de Março de 2013, 07:28