"Desde que você fique aqui por oito horas."
Eu costumava ouvir essa frase bastante.
O pensamento é que, se passar uma determinada quantidade de tempo trabalhando (normalmente umas oito horas ou mais), você vai fazer bem seu trabalho e ser bem sucedido.
Nós aprendemos que oito horas de trabalho por dia é o que deveríamos dedicar quase desde o momento em que pisamos na sala de aula. Os dias na escola duram oito horas e as aulas são normalmente estruturadas por faixas de tempo ao invés de pelo que é feito naquele tempo.
Quando você consegue um emprego, normalmente parte ou todo o seu pagamento é baseado nas horas trabalhadas.
Desde que comecei o ooomf, tenho feito grandes avanços em como abordo meu dia para ser mais produtivo, mas às vezes, continuo me pegando olhando para o relógio, calculando quanto tempo eu deveria estar trabalhando ao invés de focar no que estou fazendo naquele tempo.
Nos dias nos quais passo menos do que oito horas trabalhando, eu me sinto um pouco culpado, como se não estivesse me esforçando o bastante. Mas essa é a maneira errada de pensar.
No ooomf, nós não trabalhamos uma quantidade determinada de horas.
Dois dos meus co-fundadores preferem trabalhar tarde da noite, enquanto eu prefiro começar a trabalhar cedo, durante o dia.
Como nós temos níveis diferentes de energia em horários diferentes, seria contraprodutivo para meus co-fundadores trabalhar às 9 da manhã (da mesma forma como seria ineficiente para mim trabalhar às 2 da madrugada).
Claro, há momentos nos quais agendar um horário durante o dia para discutir coisas importantes é necessário (e há muitos dias nos quais nós todos trabalhamos pela noite), mas o importante é que nossas agendas de trabalho raramente são gerenciadas por uma quantidade determinada de horas: ao invés disso, elas são guiadas pelos nossos níveis de energia.
Mais importante, nós temos visto os resultados de trabalhar sem uma agenda determinada na qualidade do nosso trabalho, na nossa produtividade e na nossa saúde.
Mas trabalhar com horário determinado é a norma, então comecei a pensar a respeito de onde essa agenda de 40 horas veio e se há qualquer embasamento científico para o porque de estarmos trabalhando desse jeito por quase um século.
Como surgiu a semana de trabalho de 40 horas
Durante a Revolução Industrial, as fábricas precisavam funcionar dia e noite, de forma que os empregados desta época frequentemente trabalhavam entre 10 a 16 horas por dia.
De qualquer forma, nos anos 1920, foi Henry Ford, fundador da Ford Motor Company, que estabeleceu a semana de 5 dias e 40 horas.
Surpreendentemente, Ford não o fez por razões científicas (ou apenas pela saúde de seus empregados). Pelo contrário, uma das principais razões pelas quais ele teve a ideia de reduzir a quantidade de horas de trabalho da sua equipe foi para que os empregados tivessem tempo livre suficiente para sair e perceberem que eles precisavam comprar coisas.
Em uma entrevista publicada na revista World's Work, Ford explica porque ele tirou seus trabalhadores de uma semana de 6 dias e 48 horas de trabalho, para uma de 5 dias e 40 horas, ainda pagando o mesmo salário:
O lazer é um ingrediente indispensável em um mercado consumidor crescente, pois pessoas que trabalham precisam de tempo livre suficiente para encontrar usos, para consumir produtos, incluindo automóveis. — Henry Ford
Então, as oito horas de trabalho por dia, 5 dias por semana, não foram escolhidas como modo de trabalho por razões científicas; ao invés disso, foram parcialmente motivadas pelo objetivo de aumentar o consumo.
Notívagos vs Madrugadores
Seu corpo mantém a noção de tempo em uma seção do cérebro chamada Núcleo Supraquiasmático (ou NSQ).
Essa parte se localiza atrás dos seus olhos, onde as fibras do nervo ótico se cruzam, o que permite ao seu cérebro usar sinais de luz do seu ambiente para ajudá-lo a manter o controle do tempo:
Luz e genética são os dois principais fatores que ajudam seu corpo a entender o tempo, estabelecendo um ciclo natural de níveis de energia (um ritmo circadiano) pelo dia.
Aqui alguns dos eventos principais que acontecem no seu corpo como parte de um relógio biológico de 24 horas típico.
A duração do seu ciclo de 24 horas pode ser mais longa ou mais curta dependendo da genética.
Se o seu ciclo é um pouco mais longo, você vai ser considerado um notívago, mas se o seu é um pouco mais curto, você provavelmente é um madrugador, diz Katherine Sharkey, MD-PhD, diretora associada do Sleep for Science Research Lab.
Pesquisadores até já apontaram que a presença de um gene em particular, chamado Período 3 ou "gene relógio", poderia ser altamente responsável pelo seu ciclo sono-vigília.
Notívagos duram mais que madrugadores
Um dia típico de trabalho, para a maioria de nós, normalmente começa às 7 da manhã e termina lá pelas 5 da tarde. Este estilo de vida realmente funciona apenas para um tipo de pessoa. O madrugador.
Se você prefere noites de trabalho (cerca de 44% das mulheres e 37% dos homens preferem), então você frequentemente está rastejando por aí com seus níveis de energia baixos e o seu trabalho, provavelmente, é um sofrimento.
Como os notívagos acordam mais tarde, eles às vezes levam uma reputação de serem preguiçosos porque eles estão dormindo quando o resto do mundo está se acotovelando.
Mas, uma pesquisa recente da University of Brussels sugere que notívagos podem bater madrugadores na quantidade de tempo que eles conseguem permanecer acordados e alertas sem ficarem mentalmente fatigados.
Pesquisadores conduziram um estudo com notívagos e madrugadores "extremos". Madrugadores acordaram entre 5 e 6 da manhã, enquanto os notívagos acordaram ao meio dia.
Os participantes passaram duas noites em um laboratório do sono onde os pesquisadores observaram seus níveis de atividade cerebral, medindo estado de alerta e habilidade de concentração.
Depois de dez horas acordados, os madrugadores mostraram reduzida atividade em áreas do cérebro associadas com atenção e completavam tarefas mais lentamente que notívagos.
"São os notívagos que têm vantagem e melhor desempenho do que os madrugadores", diz Philippe Peigneux, um dos publicadores do estudo.
Forçar alguém a trabalhar mais cedo (ou mais tarde) não necessariamente leva a melhores resultados.
Um notívago pode ser tão produtivo (se não mais) do que um madrugador. Ele simplesmente é mais produtivo em um horário diferente.
A importância de ter um respiro
Como nossos corpos foram projetados para trabalhar em ritmos, não por horas seguidas, pausas são tão importantes quanto o trabalho que fazemos.
Uma pesquisa discutida no livro Creativity and the Mind mostrou que pausas regulares melhoram significativamente habilidades relacionadas à dissolução de problemas, em parte, por facilitar para você a busca por pistas na sua memória.
Focar apenas no seu trabalho por quatro ou cinco horas seguidas limita as suas chances de fazer novas e perspicazes conexões neurais, coisa que não vai ajudar quando você precisar ser criativo.
Algumas empresas têm adotado essa necessidade de retirada do trabalho para aumentar produção e criatividade.
No seu TED talk, o designer gráfico Stefan Sagmeister explica a importância do tempo livre e porque ele desativa seu estúdio por um ano. Sagmeister diz que esse afastamento do trabalho permite que ele e seus colegas ganhem novas perspectivas e frescor, culminando em produzir um trabalho melhor.
Quirky, uma empresa web, está trabalhando em um experimento de desativar suas operações por quatro semanas todos os anos. Aqui está uma citação de um e-mail do CEO da Quirky, Ben Kaufman, enviou à equipe (e-mail completo aqui):
Nós estamos desligando a máquina inteira por quatro semanas no próximo ano. Ao invés de funcionar por 52, vai funcionar por 48.
Este é um completo e obrigatório desligamento de todas as atividades internas. Luzes apagadas. Respiração profunda...
Nossa tese é centrada no fato de que isso vai nos levar a trabalhar melhor, mais produtos bonitos e um time emocionalmente equilibrado.
Dê uma pausa não apenas por criatividade (mas pela sua saúde)
Dar a si mesmo uma pausa não apenas pode beneficiar sua criatividade mas também sua saúde.
Dan Buettner, um escritor do National Geographic recentemente reuniu um time de pesquisadores para observarem três comunidades pelo mundo que têm as mais longas e saudáveis vidas no planeta.
No seu TED talk, Como viver para ter mais de 100 anos, Buettner mostra uma dessas três comunidades, os Adventistas do Sétimo Dia na Califórnia.
Os Adventistas do Sétimo Dia devem tirar um dia de folga durante a semana se retirando do trabalho completamente, não importa o quanto eles estejam ocupados.
Buettner aponta que essa oportunidade de se reconectar com pessoas e com o mundo ao seu redor alivia o stress e é parte da equação pela qual os Adventistas do Sétimo Dia têm cinco vezes o número de pessoas que vivem mais de 100 anos do que o resto do país.
4 passos para a felicidade no trabalho-vida
Eu experimentei bastante diferentes técnicas para melhorar o jeito que trabalho. Há duas semanas atrás, tentei não olhar para o relógio por um dia e, ao invés disso, confiar apenas nos meus níveis de energia para me dizerem o que eu deveria fazer (achei praticamente impossível e falhei nas primeiras duas horas).
De qualquer modo, por tentativa e erro, encontrei um sistema que fez maravilhas por mim.
Eu vou continuar tentando mais coisas para melhorar constantemente a maneira como trabalho e seguir reportando minhas descobertas, mas aqui está o que descobri até agora e tem produzido o melhor resultado da minha carreira.
1. Escreva uma lista de tarefas realista
Faça uma lista pro dia que tenha três ou quatro tarefas maiores que você quer que sejam feitas.
Como seu dia vai naturalmente ser preenchido com outras coisas, David Heinemeier Hanson do 37signals, recomenda:
"Planeje-se para 4 ou 5 horas de trabalho real por dia."
Planejar suas tarefas diárias sabendo disso ajuda você a criar uma lista que pode completar consistentemente, ao invés de uma que tem muitos itens e deixa você se sentindo mal, como se estivesse constantemente ficando pra trás.
2. Crie ciclos de trabalho
Você provavelmente tem vários tipos diferentes de tarefas para se preocupar.
Para executar mais das coisas importantes mantendo o equilíbrio dos seus níveis de energia, para não se sentir esgotado, tente dividir seu dia desta forma:
Uma tarefa criativa: começar com sua tarefa mais criativa ou importante antes que os e-mails urgentes comecem a pipocar vai ajudar você a se sentir realizado. Eu normalmente acordo e trabalho uma sessão de 90 minutos na minha tarefa mais criativa antes de sentir meu cérebro e concentração começar a fatigar.
Uma pausa sem tempo estipulado: Sua pausa poderia ser uma corrida de vinte minutos, um cochilo, almoço, ou simplesmente fazer nada por alguns minutos. Isto dá a você a chance de refrescar e recuperar poder mental antes de começar sua próxima tarefa. Mantendo-a sem tempo estipulado você está usando seus níveis de energia como um guia para quando deveria começar a trabalhar de novo, ao invés de um tempo pré-determinado rígido.
Uma tarefa mundana: reunindo suas tarefas mundanas e executando-as todas de uma vez, você vai economizar tempo. Cheque todos os seus e-mails ou tente agendar múltiplas ligações de uma vez. Desse jeito, quando voltar para uma tarefa criativa, não vai ter a nuvem de uma centena de e-mails sobrevoando sua cabeça.
Outra pausa sem tempo pré-determinado.
Repita: tente seguir este ciclo umas três ou quatro vezes durante o dia.
3. Um dia sem trabalho
Steve Blank, o pioneiro do Lean Startup Movemente usa uma Date Night toda semana para se retirar do trabalho completamente. Minha noiva e eu fazemos essa mesma coisa.
Uma noite por semana, temos um tempo planejado, quando nós passamos um tempo sem falar de trabalho (não é permitido checar nenhuma iCoisa).
Tente se ausentar completamente do trabalho por um dia.
Quando você retornar no próximo dia, você provavelmente vai se sentir inspirado e motivado, ajudando a manter as distrações distantes.
4. Encontre uma métrica real para medir suas tarefas
É fácil contar horas mas não tão fácil encontrar outro jeito de medir o trabalho que você executa e que contemple o verdadeiro objetivo do que está produzindo.
Por exemplo, é fácil medir quantas horas você escreveu hoje, mas qual o objetivo da sua escrita?
É simplesmente depositar seus pensamentos? Então talvez você deveria estar medindo quantos dias seguidos está escrevendo.
É aumentar sua audiência de forma que mais pessoas comprem o que você está vendendo? Então talvez você deveria estar rastreando as vendas que resultam de cada post ao invés da quantidade de posts que escreve.
Meça seu progresso usando uma dessas métricas e seu mindset vai mudar de "eu trabalhei x horas para fazer essa coisa" para "eu fiz essa coisa e isso produziu x resultados".
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O sistema é difícil de manter porque várias coisas no mundo são projetadas para roubar sua atenção. Eu me vi caindo na armadilha da sobrecarga de vez em quando.
Mas se você fizer uma tentativa (mesmo que só por um dia ou poucas horas), vai descobrir uma das formas mais produtivas que já trabalhou, assim como eu.
Se você trabalhar em uma empresa que obriga a estar lá por uma determinada quantidade de horas, não estou dizendo que deveria se demitir ou que é um mau negócio.
O importante a se lembrar é que não é a quantidade de horas que trabalha, mas o que você faz nessas horas que conta.
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Nota do editor: esse texto foi originalmente publicado no oomf e traduzido por nós mediante autorização do autor.
publicado em 25 de Agosto de 2013, 21:01