Por que não somos felizes?

Fomos capazes de criar automóveis, estações espaciais e satélites. O que está errado, então?

Não gostamos de nos sentir aprisionados, presos numa realidade que parece imutável, eterna. Não quisemos ficar na Terra, fomos à lua, marte, plutão. A sensação de não saber o que existe além nos incomoda, somos curiosos.

A sonda Voyager está a mais de 16 bilhões de quilômetros da terra, fomos capazes de sair do nosso sistema solar. Não só dominamos o conhecimento sobre elementos astronômicos, mas fomos fundo nas menores propriedades e partículas. Conhecemos átomos, elétrons, bósons, neutrinos. Fomos longe o suficiente para desvendar o código que rege a vida, um elegante modelo composto por duas hélices.

Fomos capazes de criar automóveis, estações espaciais e satélites. Uma simples ligação telefônica vai da terra ao espaço em questão de segundos. Mas não é rápido o suficiente, queremos mais, maior, melhor.

Ontem você queria um celular novo, hoje um carro, amanhã um computador. Sempre existirá um item após o outro em nossa lista de compras. Nossas conquistas são efêmeras, enjoamos rápido daquilo que já temos, virando nossos olhares para o novo, o inalcançado.

Aprendemos que sonhar grande é o segredo para ir além, mas não sabemos qual o truque para continuar admirando o que já temos, o que conquistamos. Ainda não conseguimos conciliar esses sentimentos. A ideia de “querer mais” não surge moderadamente, ela é radical.

Os dias vão passando e nos tornamos mais insensíveis ao mundo que vivemos. Parece que só o novo é capaz de nos trazer algum conforto; mas não por mais do que um ou dois dias.

Como consequência, nos aglomeramos em grandes centros urbanos, exageramos no consumo, na comida, no estresse, nas dívidas. Estamos todos estressados, nervosos e ansiosos. Acima do peso, porque comida é uma rápida forma de satisfação e, quando a sensação de saciedade passar, é fácil comer novamente.

As empresas se aproveitam dessa nossa ansiedade. O marketing desenha novas necessidades. Você precisa do carro do homem moderno, da roupa da mulher emancipada, da tecnologia do executivo super produtivo. Rótulos e fachadas que só querem dizer uma coisa: “eu sei que você quer preencher esse vazio, vou lucrar em cima da sua fraqueza”.

Não é como se o capitalismo fosse de fato a raiz de todo mal, mas nossa insatisfação constante, de todos os lados, gera incentivos para explorarmos e sermos explorados.

Uma resposta para esse conflito parece estar ainda muito distante. Mesmo os que dedicam sua vida na busca por equilíbrio, acabam na busca por mais. Não basta meditar na sala de casa, é preciso meditar numa isolada floresta na India. A busca só muda de formato, sai de algo externo para um elemento interno, mas a insatisfação, o sofrimento, ainda está lá.  

Seria muito fácil apontar e dizer para valorizarmos mais o que temos, deixar nossa insatisfação de lado e contemplar tudo de maravilhoso que já conquistamos. Infelizmente, não é algo tão simples, somos programados para ser assim. 

Aristóteles escreveu que somos “Insaciáveis maquinas de querer mais”. Ele tinha razão.


publicado em 31 de Maio de 2016, 14:00
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Alberto Brandão

É analista de sistemas, estudante de física e escritor colunista do Papo de Homem. Escreve sobre tudo o que acha interessante no Mnenyie, e também produz uma newsletter semanal, a Caos (Con)textual, com textos exclusivos e curadoria de conteúdo. Ficaria honrado em ser seu amigo no Facebook e conversar com você por email.


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