O SEMPRE e o NUNCA, quando usados para expressar uma opinião ou criticar o comportamento do outro, normalmente são formas de generalizar seu comportamento ou rotular a pessoa.

A comunicação não-violenta, ou CNV, é um sistema de linguagem que se distancia das generalizações estáticas; em lugar disso, a proposta é trazer observações que devem basear-se em coisas específicas do momento e contexto.

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Ao invés de dizer “você é uma pessoa sem consideração que machuca as outras”, a CNV formularia a conversa mais ou menos assim: “naquela situação, eu senti que você não considerou meus sentimentos e isso me deixou decepcionado”.

O mais difícil para alguns, em contato com essa metodologia, é aceitar que o outro não é o responsável pela sua vida emocional. O outro pode, no máximo, ser o estímulo de meu sofrimento quando ele comete algo grave contra mim ou meus próximos, mas com certeza não é o responsável pelo modo como reajo emocionalmente às situações de conflitos negativos, perdas e outras coisas assim.

O SEMPRE e o NUNCA, quando usados para expressar uma opinião ou criticar o comportamento do outro, normalmente são formas de generalizar seu comportamento ou rotular a pessoa. 

Este tipo de linguagem gera reatividade e impede a conexão.

Além do mais, tragicamente (em especial com as crianças) o SEMPRE e o NUNCA reforçam e criam um pacto de identidade que limita a sua expressão emocional, gerando consequências no modo como se percebem e se relacionam adiante.

Frases como “nunca expresse raiva, pois é feio” ou “sempre se cale quando um adulto falar” produzem na criança uma crença de que será verdadeiramente aceita restringindo a sua comunicação emocional e “mascarando” a sua forma de ser por medo de punição ou rejeição.
Isso abre margem para que esta pessoa aja assim futuramente, pois não foi estimulada a fazer diferente. A pessoa aprendeu, às custas de autolimitar, a se enquadrar no rótulo para ser amada.

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Imagens infantis são reforçadas por este sempre ou nunca. Sabe aquele “seja sempre boazinha!” ou “nunca faça isso, pois o papai não gosta!”?

O que isso nos ensina sobre as relações entre as pessoas? Como, diante dos “sempre” e “nunca” aprenderemos a lidar com as nuances de situações complexas que tem mais de um lado?

A CNV nos convida: tente parar de generalizar os contextos que vive e as pessoas com quem convive usando SEMPRE ou NUNCA, especialmente se estivermos falando sobre em diálogos significativos. 

Aproprie-se de seus sentimentos e necessidades, contextualizando os eventos que ocorrem e as vivências conflitivas em que está inserida/o e evitando rótulos. 

Lucas Amaral

Doutor em Ciência Política. Mestre em Antropologia Social. Professor e pesquisador sobre gênero, raça, sexualidade e relações de poder. Psicoterapeuta corporal e facilitador de CNV em grupos de vivências terapêuticas e rodas de conversa para homens.