Em meio as movimentações do edredom, o participante do Big Brother Brasil 2020, o participante Daniel, disse para sua companheira Marcela: “Não. Não vou conseguir”. Diante da situação, Marcela demonstra insatisfação e as carícias são interrompidas.

Daniel tem sido criticado por diversos comportamentos da casa, e hoje a hashtag #DanielBrocha foi parar nos assuntos mais falados do Twitter. Vídeo tornou-se mote de piada nacional. 

Marcela, 35, e Daniel, 22, participante do BBB20.

Mas por que usar esta cena? Por que a suposta brochada é o argumento último de deslegitimação do participante? 

Daniel tem apresentado uma série de comportamentos polêmicos e muito criticados na internet: ele demonstra imaturidade, falha em cooperar com tarefas coletivas e, por diversas vezes, desobedece às regras da produção, perdendo as estalecas que seriam usadas para comprar a comida da casa. 

As falhas de Daniel foram confrontadas por outros brothers e as respostas do rapaz de 22 anos justificavam que ele não haveria feito por mal. No entanto, ele voltou a cometer os mesmos erros diversas vezes. Daniel tem sido criticado por espectadores por se comportar tal qual uma criança a que precisa ser vigiada e levar bronca de outros participantes. 

A indisposição de Daniel para qualquer que fosse a carícia que estivesse rolando embaixo do edredom não deveria desmerecer em nada o participante. Mas a cena parece vir a calhar para os que querem a cabeça do brother.

Acontece que somado a todos os questionamentos de responsabilidade que estavam sendo colocados (e que nem sempre são consensuais), vem a força daquele velho estigma do “macho” que perde sua honra ao recusar sexo (e este é supostamente inquestionável).

Trazer o “Não vou conseguir” para o cume da discussão é um desserviço para homens e mulheres, ainda que quem o faça não o perceba. É deslegitimar o participante não só pelo motivo errado, mas juntando duas classes de argumentos que conflitam entre si.

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Se é para discutir o valor ou até mesmo a masculinidade de alguém, vamos voltar o olhar para o cotidiano, para a qualidade das relações: como anda a cooperação com aqueles ao redor? E a responsabilização ativa com as tarefas de casa? Está havendo companheirismo? Ou o namoro se tornou uma forma de depender da parceira?

Estas colocações não são uma forma de apontar dedos a quem tenha disse algo sobre a brochada. Ainda que você não goste de BBB ou não saiba nada sobre que está acontecendo, a reflexão aqui não diz respeito apenas ao caso do programa: é sobre como somos capazes de reunir argumentos incoerentes com os nossos valores quando eles somam alguma força às causas que apoiamos.

É sobre cobrar dele um ideal de masculinidade que, na prática faz mal a homens e mulheres, quando na verdade o problema mora em todas as vezes que ele correspondeu a partes deste modelo: sendo egoísta, impulsivo, cabeça dura, irresponsável entre outras coisas. 

Dizer “não vou conseguir”, diante de uma possível transa não é um problema, é apenas um exercício de liberdade sexual. Nada mais. 

Fazer disso uma piada nacional, pode, sim, reforçar um problema que já temos há muito tempo.

Editora do Papo de Homem e autora do livro <a href="https://www.amazon.com.br/Amulherar-se-repert%C3%B3rio-constru%C3%A7%C3%A3o-sexualidade-feminina-ebook/dp/B07GBSNST1">Amulherar-se" </a>. Atualmente também sou mestranda da ECA USP