Por que às vezes é tão difícil recomeçar?

A sensação de derrota ou de vazio tenta nos derubar. Mas há mecanismos para fazer mais uma vez. E avançar

O recomeço. Eu sempre amei este verbo.

Recomeçar.

Sempre associei esta palavra a vencedores. Em qualquer biografia que se preze, lá está, o momento da virada, quando após tudo dar errado o nosso herói se ergue, dá a volta por cima de forma triunfante e, obviamente, vence.

O recomeço é poético, quase item obrigatório para qualquer vencedor.

É muito provável que este verbo esteja presente em algum momento de sua vida, seja pessoal ou profissional e, em algumas vidas como a minha por exemplo, ele estará presente mais de uma vez (bem mais de uma vez).

Admiramos quem recomeça e nos sentimos orgulhosos quando conseguimos recomeçar algo.

Mas às vezes, em algumas situações, fica difícil. Simplesmente, ficamos estagnados.

Por que será que isto acontece?

Tenho dedicado um tempo de reflexão a respeito e gostaria de compartilhar minhas conclusões.

Para recomeçarmos, precisamos terminar primeiro

Digo isso muito mais no sentido figurado do que no literal. Muitas vezes, não aceitamos que algo não está indo como gostaríamos, seja em um relacionamento que há tempos não vai bem, seja em um trabalho ou empreitada que tenhamos iniciado. Idealizamos em nossas mentes que aquele caminho é o perfeito para nossas vidas. Não conseguimos imaginar outro rumo e tendemos a insistir, insistir e insistir. Confundimos nosso comodismo ou até mesmo nosso medo de mudança com atitudes perseverantes. Dizemos para nós mesmos “irei insistir, não vou desistir” quando, na verdade, queremos dizer “é melhor ficar com o que eu tenho a ir buscar algo novo que pode não dar certo”.

Não conseguimos avançar pois estamos presos a coisas ou pessoas.

Assim como é preciso ter coragem para ir em frente, é preciso ter coragem para dar meia volta e fazer outro caminho.

A jornada pode até ficar mais longa, mas com certeza a carga será mais leve.

Precisamos aceitar que, eventualmente, perdemos

A dificuldade em aceitar que perdemos é muito comum, principalmente em relacionamentos. Um belo dia (não tão belo assim), sua maravilhosa companheira com quem você planejava envelhecer junto te presenteia com um belo pé na bunda.

Caramba!

“Investi anos da minha vida nesta relação e não deu em nada". "Perdi meu tempo, não posso aceitar”.

“Ela não pode me abandonar assim”.

Esses pensamento, além de nocivos, são extremamente perigosos, pois ao não conseguirmos aceitar que acabou, não vemos razão para recomeçar.

Buscamos culpados e nos culpamos também, como se algo que não era para terminar estivesse sendo interrompido sem motivo.  

É claro que neste tipo de situação temos o direito de viver e curtir a bad e isto é bem saudável.

Mas passado este período, precisamos entender que todas as coisas na vida têm seu tempo (começo, meio e fim) e que o fato de não ter durado para sempre não significa que não valeu a pena ou que houve um culpado.

Talvez não devêssemos idealizar tanto, principalmente quando isso envolve outras pessoas.

Aceitar e procurar beleza no fim das coisas, por mais difícil que pareça, pode nos dar ânimo para buscar um novo começo.

A vida é uma inconstante e coisas ruins e inesperadas acontecem

Este talvez seja o momento mais difícil de recomeçar. Ele ocorre quando coisas inesperadas e até trágicas acontecem.

Lembro quando eu era adolescente. Meu pai, um homem de origem humilde que começou do zero e venceu, chegou a ter uma pequena rede de mercados em nossa cidade. Em um fatídico dia, falimos totalmente. Estávamos todos em uma casa alugada: eu, meus irmãos e meus pais estávamos desempregados. Lembro de um dia em que chovia muito. De repente, “BUM”! Um raio cai ao lado da casa, queimando todos os eletrodomésticos. Lembro bem de ter olhado para minha mãe. Ela estava aos prantos. Eu fiquei paralisado, parecia que o mundo estava contra nós, não conseguia ver uma luz no fim do túnel. Como recomeçar assim?

Há momentos em que a vida bate forte. Somos amassados, triturados, vemos todos os nossos sonhos e ideais serem desfigurados.

Quando essas coisas acontecem, nem conseguimos elaborar uma estratégia. Talvez o melhor a fazer é só continuar andando. Movimento é vida.

Se apegar à sua fé e se dedicar à meditação, podem ajudar a te colocar de volta no eixo.

O importante é manter o movimento e, principalmente, a esperança.

O inesperado pode acontecer e tudo bem não estar sempre pronto para ele. Aceitar que não temos controle nos ajuda a ser mais resilientes.

Quando entendemos que a vida não é uma corrida e sim uma caminhada, talvez consigamos ter mais motivação para recomeçar e recomeçar.

Busque seu recomeço todo dia, pois recomeçar é uma das maiores provas de que estamos vivos.

Como eu amo este verbo!

Bom recomeço.

Até breve.


publicado em 09 de Janeiro de 2019, 00:00
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Rafael Eusebio

Pai, atua no mercado de moda há mais de 10 anos e é estudante de relações públicas por livre e espontânea opção.


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