Por que alguns homens se calam?

O silêncio é de ouro? Sempre? Sério?

A licença que eu peço agora ao PdH é poética. Para usar poesia. Pode? Como aqui a gente tem a oportunidade de disseminar tanta coisa, ideias, perguntas, buscas, cultura, eu quero aproveitar a delicadeza do tema para citar grandes escritores brasileiros, fazem um bem danado o Manoel de Barros, o Vinícius, o Cartola, o Drummond.

É que eu vou falar de um assunto batido, no sentido de ser tão comum e ao mesmo tempo meio complicado de se entender, pelo menos para as mulheres, digo, para mim e para algumas com as quais já pude compartilhar.

Não tem altura o silêncio das pedras. Manoel de Barros me ajuda a apresentar. É isso. O silêncio. Não o que já foi ou continua a ser imposto em formas diferentes às mulheres, às vezes aos homens também, conforme os interesses. Falo de algo um pouco mais simples, embora nem tanto, uma certa “omissão da expressão” que paira no universo masculino.

“Me, I don’t talk much…” (The man who wasn’t there)

Mas devo observar que não sei se hoje isso é traço tão somente deles, os dias andam agitados, as pessoas perdidas. Talvez nem seja comportamento só de homem, mas de gente, é de cada um, varia, tem de tudo. Mas como estamos no PapodeHomem, e essa postura me parece frequente, não sei, me corrijam se eu estiver enganada.

Eu quero saber, homem, por que é que você se cala? Sei, são diferentes os motivos. Negócio é que isso, tem hora, é uma lacuna difícil de ser preenchida. Ninguém tem bola de cristal. Então segue-se uma lista de cogitações (quando se agrada muito da pessoa-alvo então, a coisa fica feia, ansiedade na veia).

1) Ele não está tão a fim de você, como naquele filme.

2) Ele é tímido. Espera que você tome a iniciativa.

3) Ele é meio bobo e está a testar o grau de “afinzice” que você possui em relação a ele.

4) Vocês super se divertiram, mas foi só, coisa de momento. Está valendo. Mas ele não tem hombridade suficiente para te participar isso de uma forma mais clara ou educada.

5) Ele está tão apaixonado por você que fez o número dois na retranca e perdeu a capacidade de ação.

6) Ele tem namorada, mulher, amante, e não te contou ainda. Ou já te contou.

7) Você fez alguma coisa que ele não gostou ou ele te achou um verdadeiro porre. E aquele papinho “de vamos nos encontrar novamente” saiu meio no automático, quando ele se deu conta já tinha dito, não se iluda: pró-forma, puro ritual, por favor não entenda ao pé da letra.

8) Ele ainda não saiu do século passado e você deu mais do que devia logo no primeiro encontro, pegou mal, sujou sua imagem, você não serve para conhecer melhor, se envolver, namorar, sabe como é. Na próxima vez, seja mais difícil, tenha compostura, recato. Ou procure alguém cuja cabeça acompanha as mudanças dos tempos e dos hábitos, sabe como é.

9) Ele leu muitos artigos com regras generalistas e absolutas sobre comportamento afetivo (como se fosse fácil colocar inúmeras cabeças e sentimentos numa panela para a fabricação de receitas universais). Daí conta, sempre, pelo menos x dias para aparecer de novo. Segue à risca o manual, não pode dar o mole de mostrar antes que te achou bem bacana ou gostosa ou ambos, que vocês podem se ver mais, que quer te contar alguma coisa que aconteceu e tal. Coitado.

10) Fica o etc para este último item, porque as possibilidades são infinitas: (des)interesses, traumas, cicatrizes abertas, engodos mal resolvidos, (in)diferenças, prioridades, tempo, liquidez, "o mundo é grande" (meu conterrâneo Carlos Drummond de Andrade), "o mundo é um moinho" (obrigada, Cartola).

Não há constatação objetiva nesses tópicos, não passam de hipóteses, e não servem apenas para primeiros encontros, acho que podem se aplicar também a relações em andamento. O que me intriga mesmo é se existe algum jeito de as pessoas vencerem a incomunicabilidade.

Se a gente pode ficar menos melindrado caso o(a) outro(a) esclareça que não gosta tanto da gente quanto a gente gosta dele(a) e nos mande passear. Ou não é bem assim, nem é questão de gosto, mas de momento ou circunstância, não vai dar desta vez, sente-se muito, enfim. Ou tomar coragem de assumir as desagradáveis sensações que acompanham a opção de dizer não, passe amanhã, numa outra oportunidade talvez, talvez outra pessoa, definitivamente não. Ainda pode ser melhor que o não dito, este confunde tanto.

Defendo: tudo pode ser falado, com jeito, sem grosseria, sem destratar. Eu sei, o buraco é mais embaixo, a prática é outra, sim, todo mundo tem espelho em casa e histórico, fácil falar, difícil fazer, eu sei, eu sei. É que dá um aperto ler e pensar que "A palavra amor anda vazia. Não tem gente dentro dela" (Manoel de Barros). Não só quando se trata de casais.

Eu admito, sou daquelas que acredita na "arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida" (Vinícius de Moraes, gênio). Logo presumo, pensar no silêncio, falar dele, jogar um pouco de poesia no meio pode não resolver nada por enquanto, mas facilitar para que as coisas evoluam a longo prazo, pelo menos um pouquinho. Como desabafo, já vale. Está aqui o meu suspiro fundo que não me deixa negar, bem depois de digitar este ponto.


publicado em 11 de Novembro de 2012, 08:39
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Carolina Alves

Carolina Assunção e Alves é jornalista, com dez anos de experiência em telejornais, professora universitária em Brasília. Mestre e doutora em Análise do Discurso pela UFMG com estágio doutoral de um ano na França, estuda as sutilezas discursivas do cinema de ficção. Conta histórias de homens, mulheres, encontros e desencontros no blog C'est n'importe quoi!, a partir de imagens de filmes e imaginações.


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