Por que a Copa América está tão chata?

Quarta ou domingo. Horário de jogo. Ogros reunidos, cerveja ao alcance da mão e a maior invenção do homem (o espeto de churrasco giratório) devidamente acionado e fazendo todo o trabalho sujo. A emoção na hora do hino e o êxtase tomam conta de nossos corpos. Lembranças de Copas passadas e comentários sobre a escalação viram pauta no ambiente.

Vai começar o jogo. “É hoje”, esbraveja um torcedor mais esperançoso.

Vinte minutos do primeiro tempo. Bocejo.

Trinta minutos do primeiro tempo. Uma conferida nos updates do Twitter.

Quarenta minutos do primeiro tempo. Assistir aquele VHS do batizado do seu afilhado vira opção.

Final de jogo. No sofá da sala, solitário, aquele seu amigo que usa sapatênis e dormiu no Show do Intervalo.

Por que, afinal, os jogos da Copa América são tão chatos?

Copa América 2011: nem bonitinha e muito menos ordinária

Antes de qualquer coisa, uma observação: o Brasil não joga, quem joga é a Seleção Brasileira. Seleção essa que perdeu identificação com o seu povo há muitos anos. Especialmente após a debandada de jogadores para os times europeus nos anos 90. Hoje é tudo muito artificial, com jogadores pouco se importando para uma competição sem visibilidade, como a Copa América.

Sendo assim, vejamos o elenco. Não apenas o nosso, mas o dos adversários também – especialmente Argentina, Paraguai e Uruguai. São jogadores que se esbarram com freqüência nos campeonatos nacionais e ligas européias. É tudo muito simpático, com Julio Cesar sorrindo para o Zanetti e o Lucas trocando camisa com o Roque Santa Cruz.

Essa camaradagem fode com o jogo. A Seleção Brasileira, por exemplo, parece um time de molengas. Falta jogador que meta o pé na porta, uma provocação, uma vibração que nos faça levantar do sofá e implorar por um pisão no tornozelo do adversário. Pois, do jeito que a coisa anda, a Copa América lembra mais um torneio de verão europeu.

Pausa para fotos na recreação da colônia de férias

E não me venham com essa desculpa de jogadores cansados e fim de temporada. Isso que estamos vendo nos campos argentinos é má vontade. E uma reação que acaba influenciando até quem é craque e está no Brasil, como o Ganso. O jogo fica em slow motion quando o Ganso toca na bola.

Novo bocejo.

Como mudar? É mais simples do que parece. Qualquer vibração, qualquer esforço observado em um lance quase perdido ou grito na orelha do inimigo já deixaria o jogo mais interessante. A seleção não precisa nem jogar bem para o jogo ficar melhor. Basta entrar em campo. Ralar o joelho, dar uma bica na placa de publicidade, encarar o bandeirinha ou chutar a bola em direção ao banco de reserva adversário. Isso é Copa América.

Está na hora de deixar essa complacência de lado.

Menos cabelo, mais carrinho.


publicado em 11 de Julho de 2011, 10:17
File

Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura