Por mais desespero

E se a gente parar de reclamar e começar a agir?


Em agosto de 2012, lançamos o projeto Imagina na Copa. O Brasil estava sob os holofotes a apenas dois anos de receber a Copa do Mundo. Havia muito negativismo em torno do evento, quase uma espécie de torcida contra. Mas era ainda um tempo de torcida e torcida tem sempre uma esperança. 

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Por quase dois anos, trabalhamos na produção de conteúdo para ajudar a transformar essa esperança em ações concretas que gerassem impacto positivo para o país. O chamado era para as pessoas pararem de reclamar e começarem a agir.

Hoje, o cenário é outro. Não tem mais torcida. Mais que reclamando, as pessoas estão polarizadas, se afastando umas das outras em opiniões extremas.

Nesse contexto, abraçamos a dúvida. Temos as nossas opiniões, mas sabemos que ela pode mudar. Sentimos que cada vez mais precisamos entrar num estado de desespero.

Não me entenda mal. Não é aquele desespero de descontrole, aflição, angústia. Ainda não nos rendemos ao pessimismo! Emprestando a visão do filósofo André-Comte Sponville, seria desespero como des-esperança.

"Tenho esperança de que esse problema de falta de água vai desaparecer".

Quando não sabemos, podemos ter esperança. Se nada sabemos sobre a origem da falta de água, sobre como funciona o abastecimento de casas e indústrias, sobre hábitos de consumo, podemos somente ter esperança de que o problema desapareça. Sem informação, não podemos ter uma expectativa realista nem determinar qual o nosso papel em cuidar da água.

Desespero como des-esperança é conhecimento. Quanto mais informação temos, menos é preciso desejar que algo saia de determinada forma. Se sabemos, não precisamos esperar.

"Tenho esperança de que as pessoas não vão ter sua intimidade rodando na internet ".

Quando não podemos agir, podemos ter esperança. Mas quando somos capazes de realizar, podemos planejar, fazer um projeto - basta querer e agir. Pessoas são expostas na internet porque alguém as filma, alguém compartilha, alguém comenta… Se é uma sequência de decisões de pessoas, é algo que todos estamos empoderados para interromper e evitar que aconteça.

Desespero como des-esperança é ação. Se só depende da nossa vontade para que algo aconteça, não precisamos esperar.

"Tenho esperança de que vou ter mais tempo para mim quando esse curso acabar".

Quando desejamos o que nos falta, podemos ter esperança. Ocupados com o curso hoje, não temos tempo para mais nada. Mas se somos capazes de reconhecer e aproveitar o que temos, aqui e agora, não precisamos ter esperança. Encontramos tempo e vivemos com mais qualidade.

Desespero como des-esperança é prazer. Prazer que vem de não esperar que tudo esteja do jeito que desejamos para só então poder desfrutar. A alegria imediata, que não espera nada.

Para Sponville, o conhecimento, a ação e o prazer não têm nada a ver com esperança. A esperança ficou pra trás, não há espaço para ela. Mas ela não deve dar lugar a extremismo e distanciamento. Precisamos – com urgência – de conhecimento, ação e prazer.

Nasce o imaginavc

Para isso criamos o imaginavc: uma plataforma de conhecimento para provocar mais pessoas para fazer mais coisas em mais lugares. Pessoas como você.

Vamos mergulhar em temas que estão na cabeça de todo mundo e deixando muita gente de cabelo em pé: lixo, aborto, reforma política, política de drogas… a lista é grande. Vamos produzir conteúdo somando diferentes perspectivas, em diversos formatos como vídeos, infográficos, rodas de conversas. O foco é estimular a ação, puxando sempre para o que é possível fazer, cuidando também do olhar apreciativo sobre o que já existe hoje e como pode ser aproveitado.

Mas não vamos fazer isso sozinhos. A plataforma será construída de forma colaborativa, envolvendo uma rede de organizações, projetos e pessoas. Pessoas como você.

E o primeiro chamado à colaboração é para você: o imaginavc foi lançado em uma campanha de financiamento coletivo e só vai acontecer se atingir a meta de captação. Se conhecimento, ação e prazer fazem sentido para você também, conheça o projeto, converse com a gente e apoie com qualquer valor até o dia 08 de maio de 2015.

Vem se desesperar com a gente.



publicado em 29 de Abril de 2015, 17:26
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Fernanda Cabral

Mineira de Ipatinga, vive em São Paulo sem perder o sotaque. É publicitária de formação, pesquisadora-facilitadora de coração, curiosa e tagarela de nascença. É cofundadora do Imagina Coletivo, que realizou o projeto Imagina na Copa.


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