Por dentro do Miami ATP Tour

Domingo. Sob o sol escaldante de Miami, Novak Djokovic se concentra para sacar contra Andy Murray. Match point da final, arena em absoluto silêncio.

Milhões de dólares, olhares e expectativa

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Porém, antes desse pináculo - assistido ontem por milhões de telespectadores ao vivo pela TV e cerca de 15.000 na arena principal do Crandon Park - muito aconteceu.

A história teve início quando recebi um convite da Mastercard para cobrir o evento, com tudo pago. Isso mesmo. Definitivamente há certas surpresas que o dinheiro não compra.

Pré-torneio, nas entranhas de Miami

Como já estava nos EUA para participar do SXSW, resolvi emendar viagens e aterrisei dois domingos atrás, três dias antes do torneio começar. O intuito era respirar livremente um bocado da cidade. O timing não poderia ser melhor, estava em plena Miami Music Week. Festas de sobra. Reservei hospedagem de última hora (vacilo!) e contei com a mão do destino ao conseguir uma vaga num hostel excelente a um quarteirão de South Beach, o suposto local do agito.

Fui explorar os entornos. Trombei com o estúdio do Miami Ink, sou fã dos caras. Orcei uma tatuagem e descobri que minha conta bancária discordava de meus planos de pintura corporal. Merda. Fiquei na vontade. Caminhei a praia de ponta a ponta; vários idiomas, *muitos* latinos e latinas, topless. Sol estalando. Descobri um local onde dava pra alugar carraços como um Rolls Royce ou uma Ferrari. U$300 por hora. Em Miami, ou você tem ou finge que tem. Há espaço para todos. No meu caso, nem A, nem B.

Como cartão de boas vindas, o primeiro dia teve uma bebedeira com uma turma de franceses, no calçadão de South Beach. Me apresentaram a um drink chamado Bulldog, uma marguerita turbinada por duas Coronas viradas *dentro* do próprio drink, carga etílica considerável até mesmo para meus padrões mineiros.

Nos intensos dias seguintes, fiz amizades com três britânicas jogadoras de Rugby (Sophie, Megan, Becky), alemães, brasileiros, suíças e alguns yankees. Festas alucinantes fechavam todos os dias com chave de ouro. Às 9pm começava o esquenta fornecido pelo próprio hostel. Duas horas depois, uma babel de nacionalidades partia rumo a uma das baladas locais.

A nóia dos americanos em proibir consumo de bebidas em público foi um porre. Não há quiosques vendendo bebida alcóolica, uma merda. Era necessário uma pequena jornada para comprar drinks na calçada e voltar até a areia, no intuito de melhor apreciar o delicioso desfile de bikinis – quesito no qual as frequentadoras estão de parabéns.

Entre as esbórnias, tirei um dia pra visitar os pântanos do Everglades. Avistar crocodilos, carregar um deles no colo, fazer besteira e quase ser mordido. Gostei do tour.

Não tente brincar de papai com um crocodilo bebê, ele vai te morder de volta e te hospitalizar. 

Ponto alto pra noite de terça na Mansion, com um set ao vivo de Steve Aoki. Foi uma das pérolas que estavam rolando na Miami Music Week. Am I in Miami or what, bitch?

Steve Aoki e Lil Wayne, segundos antes de cuspirem (!) champagne no público

Na última manhã no hostel, ressaqueado, peguei um táxi com um brasileiro falante. O destino? The Ritz Carlton Coconut Grove, hotel dos ricos e milionários. Corta fase roots, entra núcleo luxo da viagem.

Resumo: Miami é uma mistura de Cuba, Rio e Salvador, com doses cavalares de dinheiro jogadas por cima.

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É isso.

Maçanetas douradas, pé direito digno do coliseu romano, sorrisos por todos os lados, camisas poló, cordialidade, detalhes impecáveis e mármore. O Ritz é projetado para dizer a seus hóspedes, "Bem-vindo, camarada, você venceu na vida. Seu harém e café da manhã completo te esperam na sala em frente." O harém é meu delírio pessoal, mas a mensagem é bem por aí. Passar uma noite por lá custa no mínimo um iPad, campeão.

Deixei minha tralha no quarto e fui recebido em uma Chevrolet Suburban a la agente secreto. O motorista era um cubano chamado Julio, grande figura. Morou na Alemanha e sonha passar um carnaval no Brasil. Me deu todas as dicas de malandragem pra não entrar em frias.

O palco da ação

Na quadra central do Crandon Park

A arena do torneio, Crandon Park, ficava localizada em Key Biscaine, uma península maravilhosa. Chegamos lá entre Ferraris, Porsches, Jaguares, Cadillacs, BMWs, Mercedes, Audis, Volvos. Profusão de fortunas sobre rodas. Pôsteres de Nadal, Djokovic e Federer preparavam os ânimos.

Me encontrei com o argentino Claudio, a mexicana Nuria, a norte-americana Regina e a excelente equipe Mastercard (Janet, Aimee, Christine) para compor o time de convidados da cobertura especial. Almoçamos como reis no Champions Club e recebemos um cartão com U$200 para gastarmos livremente.

A estrutura do evento, que acontece ao longo de duas semanas, foi armada a um custo na casa dos U$35 milhões, com a presença de 41 marcas. A maioria delas integrante do mercado de luxo ou aspirante a. No total, 326.000 passaram pela arena, ingressos girando entre U$7 e mais de U$500.

O diretor de toda a organização nos apresentou toda a instalação – inclusive as áreas na qual a imprensa não entra. O lugar é uma mini cidade, a área onde os atletas ficam é outra mini cidade equipada com academia, salas de entrevista reservadas, lounges para descanso e manutenção da sanidade. Ao que parece, a estrutura de Miami é uma das melhores do mundo. O media center tem uma visão privilegiada da quadra, com monitores, Wi-Fi e toneladas de informação em real-time sobre cada raquetada.

Nas áreas públicas, estandes com entretenimento e comida. A ideia é receber os visitantes para um dia de tênis do mais alto nível, compras e diversão. As pessoas não vão para ver um jogo apenas, passam o dia. Se inserem, vêem e são vistas como membros da alta casta. Tiram fotos ao lado de seus jogadores favoritos.

E também ao lado de outros objetos de desejo...

Nos intervalos entre os jogos, LMFAO e Michel Teló. "Delícia, assim você me mata" é a nova Macarena, acreditem. Tocava direto, com grã-finos e plebe dançando igualmente.

À noite, jantamos no Zuma, um dos restaurantes mais cobiçados da cidade. Daqueles onde se reserva uma mesa com meses de antecedência. Comemos a seleção do chef, com pouco mais de 10 pratos. Todos espetaculares, regados a um belíssimo vinho.

Sharapova, Venus, Nadal, Federer e Djokovic

Os limites da realidade me fascinam, em especial aqueles que estão no topo de suas respectivas áreas. Tênis é um esporte que demanda resistência, estratégia, habilidade e garra ímpares. Assistir os melhores do mundo em quadra pela primeira vez em minha vida, a poucos metros, foi um tesão. Putaqueopariu.

Mais que assistir aos jogos, tentei sugar a mente dos campeões. À pequena distância, era possível ver cada expressão facial, movimento. Entender a presença deles em quadra, a origem de sua força. Entre os melhores e os melhores dos melhores, a principal diferença me pareceu ser o absurdo desempenho destes últimos em situações de alta pressão. Os jogos são eletrizantes. Gravei pequenos trechos para sentirem a atmosfera.

YouTube | Sim, ela urra como se estivesse gravando cenas tórridas de sexo. Não vamos reclamar

YouTube | Federer (de branco) contra a promessa americana Ryan Harrison (de azul)

YouTube | Djokovic demolindo. Depois desse ponto, escutei um "Vai, Corinthians". Sério

Marquei toca e não gravei nada da Venus e do Nadal. Mas os assisti de perto e são incríveis.

Atleta/Celebridade

Um aprendizado foi observar a maratona extra-quadra a qual os atletas top50 são impostos. Coletivas, entrevistas fechadas, fotos idênticas – sempre sorrindo –, lançamento de produtos. É foda. Os caras se tornam produtos.

Em certo momento tivemos uma conversa particular com o argentino David Nalbadian, em uma salinha fechada. Fizemos algumas perguntas sobre seu desempenho, o jogo do dia seguinte, suas expectativas. Tudo bem rápido, eu podia jurar que ele estava mais afim de descansar e se concentrar para a partida, o que faz perfeito sentido a meu ver. As próprias perguntas feitas por nós não foram lá muito originais. Saí dali refletindo sobre o quão maçante deve ser dar respostas similares repetidamente.

Federer, em sua coletiva, comentou que mais deu entrevistas e foi em eventos de mídia do que jogou tênis propriamente dito.

No penúltimo dia, nos juntamos a um grupo de cem ganhadores de uma promoção da Mastercard que também estavam por lá. Clínica de tênis com Guillermos Canãs e aparição surpresa do Guga.

Guga é um magneto ambulante, sua mera presença deixou mais de cem pessoas em polvorosa

Não à toa um dos projetos mais interessantes que conheci por lá foi a IMG Academies. Uma instituição especializada na formação de atletas de ponta, ao mesmo tempo em que os garante alto desempenho acadêmico e preparo psicológico. Em tempos como os nossos, jogar bem apenas não dá conta do recado. Vencer é uma mistura de talento, garra, treino, política, dinheiro, preparo mental e, claro, destino. Missão para poucos.

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Momentos finais no Ritz, trabalhando

Escrevendo, tomando uma bela breja e refletindo sobre a vida na última noite antes de pegar o avião de volta rumo a terra brazilis. O torneio ainda estava em sua primeira semana. Brindei sozinho, pensando sobre como ando com fome de mundo, precisando meter o pé na estrada mais vezes. Deixei Miami pra trás após essa viagem espetacular com apetite pra retornar fácil.

Valeu, Mastercard.

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Retornamos à arena principal em Key Biscaine, dessa vez estou assistindo pela TV. Djokovic confirma seu serviço e atropela Murray em uma vitória incontestável. Conquistou o troféu em Miami sem perder um único set.


publicado em 03 de Abril de 2012, 10:39
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Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


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