18 retratos da nossa sexualidade trancafiada

Em favor da trégua, pela reconciliação sexual e o bem-estar geral

Mãos curvadas pra trás, avermelhadas e pesando sobre os dedos, apoiando braços e corpo todo, peso nos cotovelos. Pescoço leve, que brinca pra trás, pros lados e pra frente como mola sem resistência, jogando cabelos ao redor dos ombros. Tronco curvado e quadris estrategicamente ajeitados às beiradas da quina, corpo fazendo peso sobre o cóccix, que nem doi. Coxas tensas, a quarenta e cinco graus de seu apoio, querendo se pressionar e transpassar as ancas do corpo à frente. Pernas cruzando-se, acabando em pontinhas de pés que se retorcem.

Ilustrou bem? 

Seria curioso o mosaico de diferentes imagens que a narração comporia, coletasse eu as imaginações de cada um que lê. Com certeza diria mais do que estamos acostumados a revelar: a cor das diferentes peles, a quantidade de carne dos corpos, jeito dos cabelos, gosto do beijo, velocidade da respiração. Tudo aquilo que fica guardado a sete chaves em compartimentos que nem sabemos quais, em criptografia.

Sabemos muito pouco do que queremos e do que os nossos desejos efetivamente gritam. Por inúmeros motivos, que variam de persona pra persona, essa energia libidinal fica por demais abafada sob pequenos demônios que parecem não querer fazer as pazes com nossas vontades.

A luta com eles é constante, e ousamos escapar pelas brechas: um sonho na noite longa, a distração do trabalho chato, a fantasia bizarra, o ato falho na reunião importante.

Com jeito e análise, ao longo do tempo vamos botando as ideias no lugar e aprendendo a negociar com os satãs internos, aceitando que algumas coisas definitivamente não serão explicadas. Quem sabe um dia esguelamos a coisa.

A ilustradora inglesa Polly Nor procurou, com sucesso, ilustrar todos esses nossos dilemas com a sexualidade. Suas personagens são mulheres, mas poderíamos muito bem nos ver todos em algumas de suas ilustrações, independente dos gêneros.

O vermelho e o verde brincam com as noções de selvageria, inferno, delícia, natural, sofrimento e prazer de um modo quase simbólico. O traço fiel, despreocupado de alinhar-se ao que poderia ser bonito, não tem vergonha de ser assim tão real, imperfeito como somos.

Aos fatos.

 


publicado em 19 de Maio de 2016, 16:33
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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