Certa feita conversei com um grande executivo, ex-CEO.

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Seu sonho, desde muito antes, era ser presidente de empresa antes dos quarenta. Galgava cargos e promoções como um puro-sangue a galope.

Aos trinta e cinco, estava na boca do gol. O baque veio quando, a uma promoção de ter o sonho realizado, foi preterido por não ser considerado bom com pessoas. Tinha se tornado um sujeito com o qual ninguém queria almoçar e em sua última festa “surpresa” de aniversário no trabalho, teve mais garrafas de refrigerante do que colegas presentes. Só então soou o alarme, ele havia se tornado uma máquina.

O custo de ser bilionário

Segundo estudo recente com 2325 bilionários ao redor do mundo, para se tornar um, você vai precisar investir ao menos 45 anos de sua vida.

Quarenta e cinco anos operando em torno do acúmulo de riqueza e poder.

O que isso faz com alguém?

Será que a mente que passou tanto tempo religiosamente comprometida com essa busca consegue, enfim, usufruir de felicidade genuína por meio de seu patrimônio de dez dígitos ou se torna refém das manobras, financeiras e emocionais, necessárias para manter o que conquistou? Qual legado fica para família e filhos, além das pilhas de dinheiro?

Escutei, há alguns anos, uma pista de um não-milionário que que se tornou milionário antes dos trinta:

“Após ver todo aquele dinheiro na minha conta, algo mudou. Desde então tenho medo de perder o que acumulei e faço tudo para que isso não aconteça. (…) Nunca mais tive a mesma chama que sentia antes e sigo tentando encontrar isso novamente.”

Homens são bichos cheios de certezas

Somos ensinados a cultivar uma série delas para nos constituirmos como machos. Seu bisavô ensina algo a seu avô que ensina a seu pai que ensina a você.

Não é uma equação difícil. Quanto mais duras e revestidas de experiências que as comprovem, maior a macheza exalada.

Uma das certezas mais comuns é a de que a vida vai ficar melhor quando alcançarmos o sucesso e vale a pena lutar o máximo que puder pra chegar lá.

Chamo os defensores dessa máxima de homens-aríetes, por eles funcionarem como um. Reconhecê-los no cotidiano é fácil, basta travar contato e observar alguns traços.

Aríetes eram usados para quebrar muralhas em meio a guerras
Aríetes eram usados para quebrar muralhas em meio a guerras

O olhar costuma telegrafar mensagens firmes como “estou aqui para resolver” e “serei cortês o bastante para tornar nossa relação o mais perfeito equilibro entre camaradagem e eficiência, com ênfase na eficiência”.

O léxico é aguerrido, como se habitassem um ringue sete dias por semana.

Alguns assinam emails com mantras de produtividade na linha “vamo que vamo” (pra onde mesmo?). Os mais temíveis dividem as pessoas em aliados, concorrentes, mentores e, bem, o resto é resto.

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As atividades centrais de sua vida são trabalho, amigos e família quando dá, e, por fim, as de escape. Essas variam de acordo com predisposições: viajar para um paraíso tropical com a namorada, correr 21k no mato, se tornar ridiculamente bom em um hobby obscuro, cheirar carreiras de cocaína num banheiro de balada — o importante é aliviar a pressão para seguir girando a rodinha.

O mundo de um homem comprometido com o sucesso é monótono (não que o dos outros não seja) e ele faz de tudo para se convencer do contrário (e costuma ser bom nisso).

Ser aríete não é algo reservado a psicopatas sem alma. Falo com conhecimento de causa por me sentir, em grande parte, um espécime em redenção.

A fixação cega

Buscar algo não é problema. O problema é se fixar nisso de tal modo que mais nada tenha a mesma importância.

Ao fazer isso, a visão de mundo se estreita. Tudo é visto como recurso rumo a objetivos autocentrados.

A relação com as pessoas se torna utilitária, e nos piores casos parasitória, passamos a sugar energia delas. E, se damos de volta, é para aquelas que acreditamos que podem nos dar ainda mais em retorno. Assim, até atos de suposta generosidade se contaminam.

Quando noto homens nesse espaço frenético de busca, acelerados, cercados por certezas duras como aço, desejo do fundo do meu coração que possam beijar a lona mais rápido do que Eike Batista veio pra classe média.

Pois essa, a desistência profunda, é uma posição bem rara e privilegiada.

Ao perder tudo que tomávamos como seguro, ao sermos atropelados por uma tragédia ou frustração sem precedentes, nos abrimos para escutar e considerar o que nunca escutamos antes.

Uma pessoa no chão tende a ser uma pessoa aberta. Alguém na bolha do sucesso não.

Esse é o atalho que ninguém nos conta para um espaço com chance real de transformação. A desistência nos ajuda a enxergar uma realidade mais plástica e rica em possibilidades do que nosso umbigo jamais sonhou. Como escutei ontem do Flávio, no último dia do curso “Brilho no olho“, do Henrique Lemes:

“O jeito às vezes é aceitar que a gente passou a vida inteira agindo de um modo ruim e precisamos aprender um caminho novo do zero. Só isso.”

Ainda que isso faça seu bisavô revirar no túmulo. Ele vai entender.

Guilherme Nascimento Valadares

Fundador do PDH e diretor de pesquisa no Instituo PDH.