Nota do Editor: Para conhecer o percurso do qual este texto faz parte, leia “Dinheiro: um outro modo de usar”, “Planejamento Financeiro: um começo para quem não sabe por onde começar” e "Planejamento Financeiro: O que todo mundo sabe ou pensa que sabe", todos do Eduardo Amuri.
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Nos últimos textos começamos escancarando a situação, entendemos alguns pontos bem importantes e destrinchamos a análise. São passos indispensáveis, mas a história toda vai por terra se não resultar em mudanças.
Não existe solução fechada que funcione para todos, porém algumas aflições são imensamente comuns. Podemos partir delas para virar a mesa e colocar um novo rumo para as coisas. Listei algumas, rápidas e simples de implementar, porque eu recomendo, de coração, que você não deixe a motivação passar. Fica a sugestão e o desafio: faça tudo hoje.
1. Transforme uma das despesas desnecessárias em um começo de poupança
Esse é provavelmente o jeito mais eficiente de começar a fazer algum dinheiro sobrar. Matematicamente é muito simples, não envolve nenhuma porcentagem, taxa etc. É só uma subtração.
Já sabemos, grosseiramente, para onde o dinheiro está indo. Escolha uma das despesas (a que menos fará falta, menos traz prazer ou benefício) e corte. Hoje. Pode ser uma assinatura de algum site de internet, revista, mensalidade de qualquer coisa, uma passada mensal em alguma loja, tanto faz.
Se você tem costume de usar o internet banking, abra-o agora e transfira o valor dessa despesa para sua poupança. Se não estiver habituado a utilizar, pegue o dinheiro da carteira e coloque em uma gaveta de casa.
Dessa forma ficamos sem desculpa: se o dinheiro estava lá sustentando esse gasto mensal, é fato que ele estará lá para sustentar essa poupança mensal.
Sempre me surpreendo com as pessoas contando das soluções que arrumaram:
Pessoa: Vou cortar um jantar.
Eu (besta): Mas jantar não é gasto fixo…
Pessoa (criativa): Eu sei que não. Mas eu vou pegar um jantar que já estava marcado (ou que eu marcaria essa semana) e vou cancelar. O que eu pagaria na conta, fica como despesa cortada.
Achei muito inteligente. Outra:
Pessoa: Vou cortar 4 preguiças de ir até o posto da rua de baixo.
Eu (besta, de novo): Acho que você não entendeu a proposta.
Pessoa (criativa): Eu abasteço no posto da esquina por preguiça, porque eu esqueço de abastecer no posto da rua de baixo quando passo por lá. Agora coloquei avisos no celular. Um tanque meu no posto mais caro custa R$135. No posto barato R$125. Ambos de marca boa. Quatro tanques por mês são 40 reais de economia. É um começo. Vão para a gaveta.
Fiquei sem ter o que falar.
2. Transforme um gasto variável em fixo
Nós reclamamos de rotina, de mesmice, mas o fato é que temos uma dificuldade imensa em lidar com instabilidades, excesso de variações etc. Isso fica bem evidente quando acompanho alguém que está fazendo o exercício de listar os gastos fixos e variáveis no papel.
Na hora de listar os fixos, a coisa flui, é rápido. Os variáveis tomam um tempo imenso, geram retrabalho e muitas contas. É muito mais fácil lidar com gastos fixos.
Se você investir um tempo analisando seus gastos, vai perceber que muita coisa é variável por desleixo ou falta de organização. Então, a sugestão é transformar alguns de seus gastos variáveis em gastos fixos. Tudo para deixar a vida financeira mais simples, menos suscetível aos nossos deslizes. Toda vez que você precisa tirar dinheiro ou entrar num local onde você tipicamente gasta (shopping, supermercado), você se coloca a prova. Em tempos de planejamento e readequação, vale evitar.
De novo, exemplos bons:
Gasolina: Encha o tanque. Facilita demais para entender quanto, de verdade, você dedica a “transporte”. As enchidinhas de R$30 ou R$40 só deixam o extrato bancário mais confuso. Imagine que alguém pergunta “Quando você gasta por mês de gasolina?”. Você poderia responder:
“Ahn… 30, mais 40… mais 30 da semana passada… mais 50 do final de semana, mais 25 de hoje….somando dá…”
Ou você poderia responder:
“Dois tanques por mês.”
Bilhete único: Mesma coisa. Ao invés de se preocupar em sacar picado e carregar aos pouquinhos, carregue uma vez. Menos fila, menos saque de dinheiro, menos exposição.
Supermercado: Esse é mais particular, mas é bem factível também. Eu percebi que diversas vezes precisava ir até o mercado da minha rua para comprar suco. Além de me tomar tempo, sempre voltava de lá com alguma coisa. Eram várias idas ao mercado por semana, muitas vezes só por conta do suco.
Acabei criando uma conta no Makro (atacadista) e agora compro, de uma vez, as 8 garrafas que consumo por mês. Virou fixo. Com isso vou menos ao mercado, gasto menos tempo, e não corro o risco de ficar sem o tal do suco num dia que chego cansado em casa. Além de ter pago 30% menos.
Não é tão legal quanto ir no Pão de Açucar, mas para determinados produtos recorrentes, vale muito a pena.
3. Tire proveito da impulsividade
Tragédias acontecem por conta da impulsividade. Pessoas matam, compram carros que não podem pagar, terminam namoros que poderiam seguir. No geral, a impulsividade é tida como algo ruim. Mas e se tirássemos proveito disso para colocar a grana para trabalhar?
Você entrou no PapodeHomem hoje, viu a capa, se interessou e ainda está lendo. Então, é muito provável que hoje você esteja muito mais reflexivo e tendencioso a cuidar mais do seu dinheiro do que estava ontem, dia em que você pode não ter lido nada sobre finanças. Aproveite esses momentos em que você tem mais carinho pelo seu bolso.
Quando estiver analisando o extrato e perceber que tem mais do que achava que tinha, separe. Na hora. Se faltar, depois você pensa em tirar, mas a princípio, separe.
Quando estiver preocupado, com o assunto estourando na cabeça, elimine um gatilho de gasto. Pode ser uma maldita newsletter do Submarino que vive te lembrando de comprar uma lindíssima e útil máquina de fazer abdominais.
Enquanto não conseguimos lidar bem com os descontroles, vamos colocá-los para jogar no time.
4. Abra o jogo com um amigo
Dinheiro é um tabu. Costumamos sentir dificuldade para falar francamente sobre nossa situação financeira. Escondemos dívidas, posamos de guru financeiro, dizemos que temos mais do que realmente temos e por aí vai.
Um pouco disso é falta de prática. Talvez hoje isso não seja tão latente, mas há alguns anos as pessoas tinham horror a divulgar o próprio salário, ou a contar quanto foi gasto em uma viagem, um quadro, uma calça. Isso gera uma redoma em volta do assunto. O problema é que muitas vezes, de tanta vergonha, de tanta camada que colocamos em cima, nem nós mesmos conseguimos olhar com franqueza para a questão. Ficamos de fora da redoma que nós mesmos criamos.
Escolha um amigo (um bom, não um que fale só o que você quer ouvir) e tome como hábito compartilhar os pontos altos e baixos das suas finanças com ele. Mande um email, abra o jogo, entre no papo totalmente desarmado.
Antes de fazer uma compra significativa, fale com ele. Peça opinião. Compartilhe as dicas que funcionam para você, conte das cagadas que aconteceram, dos descontroles. Chame-o para entrar na redoma com você, para ver tudo de perto.
Conversar sobre as modalidades de investimento virou um hábito comum. É ótimo, mas é bobeira nos restringirmos a isso, não é isso que incomoda na maior parte do tempo.
Se conseguir fazer isso com uma rede, melhor ainda. Todo mundo quer lidar com melhor os recursos que tem.
E para você? Quais mudanças têm funcionado de verdade?
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