Recentemente, nós do PapodeHomem realizamos um curso de dia inteiro dedicado à paternidade. Numa das palestras, Eduardo Amuri explicou aos quase 100 pais presentes na plateia como ensinar seus filhos a ter uma relação melhor com o dinheiro.

Adepto da "semanada" no lugar da "mesada", nosso consultor financeiro preferido apresentou uma técnica bastante interessante. Resumidamente, você – pai, mãe, responsável – poderia oferecer uma escolha para a criança: receber duas moedas nessa semana ou aguardar mais 7 dias e receber cinco moedas na semana seguinte. Segundo Amuri, com esse simples gesto você estaria ensinando seu filho o conceito básico de juros, rendimento, a noção de recompensa, enfim, uma série de vantagens por trás de uma única decisão.

Se você quiser entender mais sobre o assunto vale a leitura do artigo "Finanças para crianças".

Ocorre, porém, que essa técnica não funciona somente com crianças. Pelo contrário, se aumentarmos a escala, acabamos percebendo que nós, adultos, tomamos essa mesma decisão todos os dias, milhares de vezes ao longo de nossas vidas. É por isso que alguns cientistas resolveram estudar o comportamento das pessoas quando precisam optar por uma ganho pontual ou uma recompensa maior no futuro e por isso elaboraram o Marshmallow Test.

As crianças

Tudo começou no final da década de 1970 quando o psicólogo Walter Mischel resolveu fazer uma série de estudos sobre recompensa retardada. Foi então que ele organizou um experimento que consistia em colocar crianças de aproximadamente 4 anos sentadas numa cadeira de frente para um prato onde ficava um marshmallow.

À criança era explicado que ela podia optar por comer o doce ou aguardar até que a cientista retornasse quando, então, ela ganharia um segundo marshmallow. Elas não eram avisadas que o período pelo qual elas teriam que aguardar seria de aproximadamente 15 minutos e, tampouco, sabiam que estavam sendo observadas e analisadas.

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Após anos de estudo, os resultados compilados estabeleceram uma padrão: 2 a cada 3 crianças não eram capazes de esperar e acabavam comendo o primeiro marshmallow. Da mesma forma, como você pode ver no vídeo acima, muitas crianças sofriam com a tentação que aquela situação lhe provocava: elas manuseiam o doce, lambem, arrancam-lhe migalhas na esperança de que ninguém note, enfim, demonstram que é muito difícil resistir ao ganho imediato em troca de uma recompensa futura.

Mas os anos de estudos que se sucederam mostraram coisas ainda mais interessantes. As crianças que participaram do teste há quase 50 anos seguiram sendo acompanhadas pelos cientistas e tendo seus resultados coletados e analisados.

Com isso, os cientistas perceberam que aqueles que conseguiam demonstrar autocontrole a ponto de esperar pelo segundo doce, tinham, o que elas chamaram de, "melhor êxito na vida". As crianças tinham menos tendência à obesidade, eram menos suscetíveis ao uso de drogas, tinham melhor desempenho escolar e melhor índice de massa corporal (IMC), o que levanta a hipótese de que além do autocontrole, essas crianças apresentavam uma capacidade maior de raciocínio estratégico, ou seja, de simular cenários hipotéticos e escolher a melhor opção, a exemplo do que explicamos no último artigo sobre o Efeito Flynn.

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Os adultos

Alguns estudos semelhantes já foram realizados com adultos na intenção de mensurar as mesmas variáveis: autocontrole e raciocínio estratégico.

Num deles, os indivíduos precisam escolher entre ganhar uma maçã ou uma barra de chocolate no futuro. Na sequência, os mesmos indivíduos precisam responder se preferem a maçã ou o chocolate agora.

Os resultados demonstraram que quando os adultos se imaginam num cenário futuro, a saúde é um fator mais importante e portanto eles acabam fazendo a escolha mais saudável pela maçã. Porém, quando eles pensam no exato momento em que estão, a satisfação momentânea ganha importância e faz com que a maioria acabe optando pelo chocolate.

Assim como no Teste do Marshmallow, portanto, este experimento buscou demonstrar a dificuldade que temos em resistir às tentações. Mesmo os cientistas que questionaram a validade do teste (eles questionavam conclusões como "esses indivíduos terão mais êxito na vida"), concordaram que nós, adultos, passamos por diversas em que esse dilema nos é imposto.

Imaginar isso não é muito difícil: basta lembrar como temos dificuldade em seguir dietas, frequentar a academia, acordar cedo, economizar dinheiro, enfim, cumprir os planos que nossos "eu's presentes" fazem para nossos "eu's futuro's".

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Felizmente, existem formas de tentar burlar esse nosso raciocínio. Um exemplo é o da recompensa financeira. Você pode, por exemplo, combinar com um amigo que você vai dar-lhe alguma quantia significativa em dinheiro todos os meses e eles só lhe devolverá caso você atinja a meta. Mas a quantia em dinheiro precisa fazer falta (e o amigo precisa ser dos bons), aqui no PdH por exemplo, já teve quem apostasse um pão de queijo a cada dia que fugisse da dieta e o resultado foi desastroso, rs.

De qualquer forma, como sempre aqui na Tecla SAP, o primeiro passo para superar esses vieses inconscientes e torná-los conscientes. Então da próxima vez que alguém te oferecer um marshmallow desconfie.

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Para quem se interessar pelo assuntos a Companhia das Letras traduziu e publicou o livro "O Teste do Marshmallow" do próprio autor Walter Mischel, comprando por esse link você ajuda a financiar o PapodeHomem.

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Tecla SAP é uma série de autoria de Breno França publicada quinzenalmente às quintas-feiras.

Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a <a>Jornalismo Júnior</a>