Paris Dakar - Areias que matam

Thierry Sabine era um corajoso motociclista francês. Competia em provas de rally todo-terreno até enfrentar um grande revés em 1977.

Pilotando sua Yamaha XT 500 durante o Rally Abidjan-Nice, viu ao longe uma coluna de areia surgindo. O temerário piloto achou que podia enfrentar a tempestade de areia, mas acabou perdido a muitas milhas de distância da rota original prevista pela competição. A organização da prova enviou diversas missões de busca e resgate mas Thierry já deveria estar morto. Após o decreto do fim das buscas, um piloto de avião encontrou, no meio do deserto, o francês à beira da morte devido a desidratação.

Embora muitos de nós esperássemos que uma experiência como essa afastasse o piloto das competições no deserto, Thierry queria mais. Prometeu que, caso sobrevivesse, organizaria a maior competição à motores todo-terreno que o mundo houvera visto. O percurso deveria ser difícil para que somente os bravos ousassem desafiá-lo. Nas palavras de Sabine, seria:

“Um desafio para os que vão e um sonho para os que ficam”.

A competição seria longa, atravessando uma significativa parte do continente europeu e africano. A partida seria dada na França e a linha de chegada seria traçada no Senegal. Thierry dedicou sua vida à criação do mais assustador e prestigiado Rally do planeta: o Paris-Dakar.

Um ano depois, no final de 1978, 170 carros largavam na primeira edição do evento em frente a Torre Eiffel. A idéia, que para muitos pareceu excitante em um primeiro momento, mostrou-se perigosamente seletiva. A competição premiaria os mais audazes com o privilégio de alcançar a linha de chegada. Estar vivo ao fim da prova já era motivo para comemoração. Apenas sessenta e nove participantes completaram a prova.

Em 1981, todo o tipo de veículo participou da competição. Além de buggies, gaiolas, 4x4, havia o Citroën CX de Jacky Ickx em pessoa.

Na edição de 1982, Mark Tatcher, filho da Primeira Ministra Britânica Margaret Tatcher, desapareceu no deserto da Argélia com seu co-piloto e mecânico. Embora tenha sido encontrado com vida, outros incidentes seriam muito mais do que simples sustos.

Em 1983, 40 competidores ficaram perdidos após a interrupção forçada da prova devido a uma grande tempestade de areia. O resgate durou quatro dias.

img34
Parte do percurso. Dá medo só de se imaginar presente.

Em 1986, Thierry Sabine auxiliava na organização da prova à bordo de um helicóptero. Uma coluna de areia surgiu em meio a uma tempestade, tirando a visibilidade do piloto que voava baixo na ocasião. O helicóptero chocou-se com uma duna, matando todos os seus ocupantes. As cinzas do idealizador foram jogadas no deserto e, para impedir que o sonho do filho morresse, seu pai assumiu a organização do Paris-Dakar.

Em 1988 mais de 600 competidores largaram na França. Além de todos os recordes terem sido quebrados, tivemos a estréia dos brasileiros André Azevedo e Kléber Kolberg. Vale também destacar o curioso episódio em que o já famoso Peugeout, que Ari Vatanen usou em Pikes Peak, foi roubado. Uma menina de 10 anos morreu ao tentar atravessar uma estrada utilizada pela competição. Uma equipe de cinematografistas atropelou mãe e filha no última dia do evento. Três diferentes acidentes tiraram a vida de um navegador alemão, um piloto de carros francês e um motociclista também francês.

Alguns pilotos também foram acusados de causarem um grande incêndio que gerou pânico em um trem indo de Dakar a Bamako. Mais três mortes ocorreram nesse episódio.

Em 1990, o brasileiro André Azevedo foi o primeiro sulamericano a subir no pódio do Dakar, sendo vice-campeão na categoria motor 600cc.

No ano seguinte, um piloto de caminhões da Citröen morre em um trágico acidente, mas André Azevedo é pela primeira vez campeão na categoria Motos Maratona. Nosso grande Klever sofre uma queda de sua moto e é forçado a abondonar a competição devido a uma fratura exposta em seu braço. Em 1992, Klever volta com tudo e é o sétimo colocado na categoria motos enquando é André quem sofre um acidente, quebra o pulso e abandona a prova.

img33
"Sobe, sooobe diacho!"

Em 2003 um piloto francês capotou em alta velocidade matando o co-piloto. Em 2005, um motociclista espanhol chegou a ser levado até um hospital após sofrer um acidente, mas não resistiu. No dia seguinte, um italiano que já vencera a prova duas vezes também sofreu um acidente fatal com sua motocicleta. Ele era a 45ª morte registrada em toda história da competição. Alguns dia depois, uma senegalesa de 5 anos foi esmagada por um caminhão, tornando-se a 5ª vítima daquela etapa. Dizem ter acontecido muitas outras mortes causadas pelo Rally entre a população local, mas não há registros oficiais.

Em 2006, um motociclista australiano encerrou sua 3ª participação no Dakar ao sofrer um grave acidente. Os ferimentos no pescoço foram fatais. O acidente ocorrera no mesmo local onde o motociclista espanhol caíra de sua moto em 2005. Na mesma etapa, duas crianças africanas foram atropeladas e não sobreviveram.

Em 2007, mais dois motociclistas morreram. Vale destacar que um deles sofrera um acidente um dia antes de sua morte. Pediu então para que a moto fosse consertada e prosseguiu. A autópsia averiguou que a causa da morte foram ferimentos internos causados no dia anterior durante o primeiro acidente. Ele se recusou a desistir e procurar ajuda médica.

Em 2008, quatro turistas franceses foram assassinados na Mauritânia. Além do mais, a Al-Qaeda prometeu atacar competidores devido à grande cobertura do Dakar realizada pela mídia. O evento foi, pela primeira vez, cancelado devido a falta de segurança. Entretanto os organizadores prometeram uma grande surpresa para 2009.

Serão os desertos africanos mais traiçoeiros que os do Chile e Argentina? Em pról da diversão, espero que não. Rally Dakar Edição 2009 no Brasil? Quem sabe.


publicado em 14 de Janeiro de 2009, 21:31
3861595431ec39c257aee5228db3092a?s=130

Rodrigo Almeida

Engenheiro, apaixonado pela vida e por qualquer coisa com um motor potente, nostálgico entusiasta de muitas daquelas boas coisas que já não mais se fazem como antigamente.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura