São dois documentários com apenas uma mensagem: a propaganda está enganando seu filho. Este, pequenininho, que não sabe ainda nem para que time torce.

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Dois documentários excelentes feitos pela mesma dupla, Estela Renner e Marcos Nisti, esfregam na nossa cara a relação constrangedora que temos com a televisão, com o consumo, com os alimentos.

O primeiro, lançado em 2008, “Criança, a alma do negócio”, coloca o foco na propaganda infantil para nos mostrar como estamos deixando que publicitários eduquem nossos filhos. O segundo filme, “Muito além do peso”, tão brilhante quanto o primeiro, dá continuidade a isso, mostrando como a publicidade é apenas mais um dos fatores que contribuem para os maus hábitos alimentares.

Dos pontos que merecem destaque:

1. A publicidade é válida para o adulto, mas não para a criança, que ainda não tem discernimento. Seduzi-la por estes meios é covardia, é jogar com a imaginação, com a idealização. Adultos conseguem entender as armas da propaganda. Conseguem lidar com as expectativas. Crianças ainda não. “É por isso que não deixamos o traficante chegar perto da escola”, conta um pesquisador no documentário “Muito além do peso”.

2. Somos um povo que há pouco saiu da desnutrição, encontrou um obstáculo no caminho e acabou se tornando obeso. No supermercado, o alimento mais barato é também o de pior qualidade nutritiva. Anote aí: farinha, açúcar e óleo, justamente o que não deveria figurar na nossa alimentação é o que vem na cesta básica todo mês. E é o que está presente em todas as guloseimas ditas infantis.

3.Quando vestimos crianças de mini-adultos, estamos indiretamente ensinando nossas crianças que ter é o que eles devem desejar, que a experiência não vale a pena. O status, sim. Estimulamos a pose em detrimento do brincar. Explicamos que consumir é o que eles devem querer. Salto alto, biquínis com enchimento, maquiagem, apetrechos tecnológicos: tudo que não faz sentido no mundo da criança, ganha sentido como um fim – logo, educamos para o consumo. Algumas das imagens a seguir são horríveis – erotizam os pequenos e, para mim, estão a poucos passos da pedofilia. Todas estas imagens certamente seriam consideradas abuso infantil num mundo mais justo.

Longe das atuais tendências de culpar os pais, os documentários se colocam lado a lado com eles: estes pais também são vítimas da falta de informação. Em todas as classes sociais, a propaganda chega até a criança travestida de personagem infantil pela televisão, pelos amigos ou até mesmo – vejam só – auxiliada pela escola. Nossas crianças estão sendo educadas por adultos que não são culpados porque também são vítimas deste sistema.

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Dois documentários que mostram que precisamos nos informar e nos empoderar na hora de educar as crianças que nos rodeiam. Que sirva de lição para a gente.

Isabella Ianelli

Pedagoga interessada em arte e educação. Escreve no blog <a>Isabellices</a> e responde por <a href="http://twitter.com/isabellaianelli">@isabellaianelli</a> no Twitter."