Para meu eu de 16 anos: conselhos que eu gostaria de ter recebido

Quem nunca quis aquele toque honesto sobre as mazelas que a vida adulta reserva?

 

O início da vida adulta pode ser traumatizante. São tantas mudanças e pressões vindo de todos os lados, que não sabemos muito bem o que de fato faz sentido.

Uma boa parte dos meus textos aqui no Papo de Homem descrevem alguma frustração que passei nessa jornada, seja indo morar sozinho, morar com a namorada ou enfrentando as dificuldades da vida adulta.

Ao longo dos meus 32 anos tenho um sentimento recorrente, um pensamento que explode na cabeça e diz "cara, por que ninguém me falou disso antes?". É por isso que escrevo, para que outras pessoas não cresçam se deparando com as mesmas dificuldades sem que ninguém tenha dito.

Entendo que cada um de nós tem uma vida, um caminho e seus próprios dilemas. As ideias que trago aqui são baseadas em minhas dificuldades e experiências, mas acredito que, com um pouco de empatia, elas podem ajudar outras pessoas.

Não tenho a pretensão de dizer como os outros devem viver suas vidas, apenas mostrar como lidei com cada situação quando surgiram e, com isso, quem sabe, fazer algumas soluções surgirem.

Essa é uma mensagem que eu mandaria para o ano 2000, para o Alberto de 16 anos.

Uma carta para o passado

Querido Beto,

Estou mandando essa mensagem de 2016 e espero não estragar algumas surpresas, mas olhando aqui do futuro, existem certas coisas que a gente poderia ter feito melhor. Reuni algumas das que dificultaram muito nossa vida nesses dezesseis anos em que você acabou se tornando a pessoa que eu sou hoje.

Entendo que muitas dessas dificuldades serviram de aprendizado, agregando bastante ao nosso crescimento, mas existem coisas que foram desnecessárias e que causam problemas até hoje por aqui. Leia tudo com bastante carinho, tudo que está aqui é para o seu bem.

Ser babaca não é legal

Existe um momento da vida que a gente começa a achar legal ser babaca. Pode parecer estranho falar isso, mas é um impulso que surge aos poucos. Não sei se é por acharmos engraçados personagens de filme e TV que se comportam assim, mas começamos a imitar alguns desses comportamentos que não são bacanas.

Você vai começar a soltar tiradas secas, fazer piadas ofensivas e com isso vai machucar muitos dos seus amigos. Você pode passar alguns anos se escondendo na desculpa de que era só uma brincadeira, de que precisam levar mais na esportiva - expressão que caiu em desuso aqui no futuro, mas eventualmente os danos se mostrarão grandes o suficiente para não valer a pena.

Essa pose de "não me importo com o que pensam, eu posso ser babaca" parece muito legal em filmes, mas na vida real só machuca as pessoas, afastando amigos e familiares. No final, você não só não ganha nada como perde muita coisa significativa.

Tenha menos certezas e mais dúvidas

Você gasta muito tempo na frente do computador, onde as coisas funcionam de um jeito bastante ordenado. No mundo real as coisas são bem menos preto no branco do que você acha - e vai achar por muito tempo.

Sustentar uma visão de mundo rígida ainda vai trazer dor de cabeça. Não apenas por forçar posições que, como entenderá no futuro, não estão tão corretas, mas também por impor suas certezas de uma forma incisiva, afastando as pessoas que ama.

Todo mundo em algum momento acaba assumindo uma postura cheia de certezas, que fala com firmeza e defende sua visão de forma agressiva. Infelizmente, não será muito diferente com você.

Mas se existe algo que posso contar de onde estou é: certezas absolutas mudam com uma rapidez assustadora, um monte de ideias e conceitos que pareciam definitivos nos anos 2000 farão você passar vergonha pouco depois.

Quando assumimos posições mais flexíveis, não sentimos obrigação de sustentá-las a todo custo, permitindo que nossas mudanças sejam mais fluidas e menos dolorosas.

Fale sobre seus sentimentos

Você acabou de sair dos anos 90 e falar sobre sentimento ainda é algo muito estranho. Existe toda essa coisa de esconder o que sente, homem não chora e precisa ser forte.

Esqueça isso o mais rápido possível.

Segurar seus problemas sem compartilhá-los é a receita secreta para depressão, um mal que afeta milhões de pessoas. Veja bem, suicídio é a terceira maior causa de morte entre homens. Agora, com 16 anos, pode parecer que isso nunca vai acontecer com você, mas eu posso garantir que vai.

Quando algo ruim acontecer, fale com alguém, chore e peça ajuda. Não tenha medo de parecer bobo ou menos homem por isso.

Todos temos problemas, e a melhor forma de resolvê-los, com o menor sofrimento possível é assumindo uma postura mais aberta.

Perfeição custa caro

Passamos muito tempo tentando fazer coisas para impressionar as pessoas. Validação social tem um grande poder quando você é mais jovem, e se não tomar cuidado, também persiste na vida. Quanto mais cedo pararmos de tentar impressionar as pessoas e ser o melhor em tudo, menos doloroso será.

Você deve estar achando estranho eu falar para você não ser o melhor, já que eu sei, isso é algo que fica martelando bastante na sua cabeça.

Mas vou explicar onde mora o problema:

Ser o melhor consiste em superar um parâmetro arbitrário, que muitas vezes não faz sentido. Essa incessante busca tem grandes chances de só gerar ansiedade e sofrimento.

A vida é um grande jogo de Tetris, onde seus acertos desaparecem e seus erros são acumulados e vistos por todo mundo. Para quem está julgando o que você faz, não importa quantas coisas maravilhosas já realizou, porque vão sempre olhar para onde errou. Já você vai estar sempre tentando mostrar que se superou, sem de fato alcançar a satisfação com o que está fazendo.

Talvez, uma métrica de sucesso que você pode carregar com você é: olhar no espelho e não ter vergonha de si mesmo.

Peça desculpas, mas arrisque

Demorei muito para entender esse ponto e acho que é um dos mais importantes nesta lista.

Não importa como, nem com o quê: nós vamos cometer erros. Mas ao invés de fugir apavorado, é mais importante aprender a se desculpar de forma legítima sem perder o medo de arriscar.

Nós chegamos nessa vida sem saber muita coisa e estamos tateando limites para entender o que funciona e o que não dá muito certo. Não dá pra fingir que tudo vai dar certo sempre, algumas coisas vão dar errado - e muito errado.

A única coisa que precisamos fazer é ter cuidado com os riscos, não arriscar quando as consequências forem grandes demais, mas sem ter medo de arriscar em todos os outros casos.

Todas as tentativas que não dão certo se tornam aprendizados, e os pequenos ajustes que fazemos desses erros é o que nos torna pessoas melhores.

* * *

Sei que não dá pra escrever muito por aqui, mas se eu pudesse listar os comportamentos que me causaram mais problemas ao longo desses anos todos, sem dúvida são os tópico desta carta.

Só existe mais uma coisa muito importante que preciso falar pra você: nos anos 2000 vai ter uma nova trilogia de Star Wars. Pode pular todos, eles só vão acertar mesmo em 2015.

E você  leitor, quais dicas compartilharia com seu passado adolescente? Quais aprendizados teriam poupado sofrimento? Compartilhe conosco e ajude quem está vindo por aí.

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publicado em 11 de Julho de 2016, 16:40
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Alberto Brandão

É analista de sistemas, estudante de física e escritor colunista do Papo de Homem. Escreve sobre tudo o que acha interessante no Mnenyie, e também produz uma newsletter semanal, a Caos (Con)textual, com textos exclusivos e curadoria de conteúdo. Ficaria honrado em ser seu amigo no Facebook e conversar com você por email.


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