'Ouro e Cobiça', o filme que queria dar mais um Oscar a Matthew McConaughey

História baseada em um escândalo real transfigura mais uma vez o ator para um novo papel

De primeira você pensa que encontrar ouro deve ser a coisa mais difícil do mundo. Onde diabos pode ter ouro, como se começaria a apostar que, embaixo aqui de algumas pedras vai ter ouro.

Mas daí, procurando um pouco na Internet, você percebe que há estudos que falam qual tipo de solo é favorável à presença do mineral, que há indicadores e testes e a belezinha dourada costuma aparecer no que eles chama de "veias", ou seja, onde tem um ouro provavelmente tem mais ouro.

É de se empolgar, então, certo?


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Pois Stephen Gaghan, que já dirigiu o excelente Syriana e foi um dos roteiristas do Traffic (vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado da ocasião), tinha ouro nas mãos. Uma história real a ser adaptada para os cinemas ao melhor estilo O Lobo de Wall Street ou War Dogs. Tinha também a ferramenta perfeita, o ator Matthew McConaughey, com um Oscar recente nas mãos e a vontade de se transmutar novamente: de homem mais sexy do mundo para um derrotado de panca saliente que anda pra lá e pra cá de cueca pequena e meias, com os poucos cabelos da cabeça sempre desarrumados. 

Ouro e Cobiça, ou apenas Gold lá na gringa, é baseado na história real do escândalo da canadense Bre-X Mineral Corporation, em 1993. No filme, McConaughey é Kenny Wells, um homem desesperado por dinheiro que vai atrás, literalmente, de seu sonho na Indonésia e, com a ajuda do geólogo Michael Acosta, descobrem o que seria uma das maiores reservas ainda preservadas.

E temos o plot de crescimento de uma oportunidade única, a descoberta, as alegrias, os desafios com os grandes gananciosos. "Todos querem um pedaço".

E é uma película que engrena. Em nenhum momento a coisa fica truncada ou mal resolvida, Gaghan filma com vontades atuais, sem câmeras tradicionais ou scorsesianas (o que é um elogio nesse ponto de tentar a originalidade) e mesmo com a estética da gravação digital ele consegue imprimir bem a cara do fim dos anos oitenta na história.

Mas faltou saber definir bem o que se queria.

Ah, a ganância.

Gold não quer ser uma sátira ao momento estapafúrdio e nem da guinada surreal da vida de Kenny Wells e todos a sua volta. Faltou a ironia cercando tudo, pecou em não nos colocar essa incredulidade de que todo estavam vivendo aquela tudo aquilo achando que era a coisa mais comum, o óbvio. Parece que o filme, ao invés disso, queria mostrar que a luta e o trabalho dignifica o homem ou então a inocência de quem só quer um lugar ao sol. Em qualquer das alternativas, faltou mostrar o quão estapafúrdio isso pode ser.

E Gold também não é um puta drama sobre a vida de um cara que queria ascensão, que queria manter o legado da família, honrar seu pai, que ambicionava riqueza, que acreditou em seu sonho e foi buscá-lo a despeito de todas as cagadas que o caminho o colocaria. A atuação de McConaughey convence bem. Aliás, o elenco todo é ótimo, mas o filme parece estar mais focado em contar uma história do que utilizá-la para evidenciar os aspectos mais micro das pessoas, o drama humano.

Não chega a ser enganação, mas, em, em cima dessa balança, sem se sujar de verdade, acaba não achando o ouro.  

* * *

Obs.: Este texto foi produzido do outro lado do mundo, no Japão! Estou em viagem na terra do sol nascente e escreverei daqui pelos próximos dias, com a ajuda da Seta Viagens, que me botou aqui. Acompanhem meus próximos artigos lá na minha página de autor.


publicado em 09 de Maio de 2017, 00:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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