Os valores do esporte devem ser usados na vida

Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõem os peladeiros de plantão. Existem coisas que você aprende em casa, outras que nos é ensinada na escola, na formal e na da vida. Algumas coisas, porém, aprendemos com o esporte.

Link YouTube | Você consegue enumerar quantos aprendizados se vê nesse vídeo de pouco mais de um minuto?

Não tenho a pretensão de estabelecer a lista definitiva de coisas que o esporte pode ensinar, mas apenas expor o que eu aprendi com o esporte, ganhando ou perdendo, praticando ou torcendo.

 

Os limites estão ali para serem superados

Eu, você, Usain Bolt. Todo mundo tem limites. O que o esporte ensina é que o primeiro obstáculo que aparece não é seu limite. É provável que o Bolt chegue a uma marca que ele não consiga baixar, mas cem anos atrás, a melhor marca na prova de 100 metros rasos, do alemão Richard Rau, era de 10.5 segundos, 1 segundo mais lento que os 9.58 segundos que o Bolt conseguiu em 2009.

A verdade é que, três anos atrás, 2 quilômetros em menos de 12 minutos eram uma marca inatingível para mim. Derrubar um cara de 100 quilos em velocidade era algo que parecia impossível. Hoje não tenho problemas para fazer nada disso e meu objetivo é remar dois mil metros em menos de 9 minutos, a pior marca registrada nos jogos olímpicos de Pequim 2008, minha marca atual é de 9 minutos e 33 segundos.

Quando vencemos nossos limites em uma atividade esportiva estamos nos convencendo que podemos ir além naquilo que nos dedicamos.

 

O adversário também treina

Assim como eu, você e o Usain Bolt treinamos para superarmos nossos limites, nossos adversários também treinam. Uma característica incrível do esporte é como a derrota nos motiva a nos esforçarmos mais e mais para superarmos um rival.

Recentemente as nossas seleções de vôlei, masculino e feminino, vem sofrendo derrotas incríveis para adversários que tínhamos uma grande facilidade para vencer dois ou três anos atrás. Normalmente o que ouvimos é que o Brasil não jogou bem, tem problemas com o técnico ou o elenco está desmotivado. Ninguém gosta de perder e você acha mesmo que seus adversários ficarão parados esperando você passar por cima dele? Os concorrentes não vão se importar se você não melhorar, eles vão superar você.

 

Em 1990, o então imbatível campeão mundial dos pesos pesados, Mike Tyson, caiu diante do jovem Buster Douglas. Não existe quem seja imbatível no esporte

 

Coletivo e indivíduo se misturam

Independente de qual seja o seu esporte: futebol, rugby, MMA, levantamento olímpico ou corrida, o desenvolvimento técnico e físico de atuar no “estado de arte da prática esportiva” é resultado do trabalho em equipe. Neymar precisa dos jogadores e treinadores para melhorar seu jogo. Os All Blacks – campeões mundiais de rugby -  passam longas temporadas treinando e jogando juntos. O Anderson Silva precisa dos treinadores, nutricionista, fisioterapeuta e sparrings para evoluir como lutador e o mesmo vale para aquela chinesa de 46 quilos que levanta mais peso que você (acredite, ela existe) ou pro Usain Bolt, que tem um treinador específico para largadas, seu fraco.

Saber valorizar o trabalho do outro e reconhecer que não é capaz de cuidar de tudo sozinho é fundamental para o esporte e para qualquer atividade que você queira exercer.

Seus parceiros se beneficiam do seu sucesso e as conquistas de sua equipe (empresa, família, grupo) são, em parte suas.

 

Ser desonesto é uma forma de alcançar a vitória

No país do futebol, da lei de Gerson, do jeitinho brasileiro e da malandragem, ser desonesto, algumas vezes, é motivo de elogios e não de penalização. Nem tudo que o esporte ensina é positivo ou correto.

Cavar pênalti para ganhar o campeonato, fazer uso de ciclos de anabolizantes para ficar maior, mais forte e mais rápido, se valer da federação para beneficiar seu clube são algumas estratégias utilizadas por aqueles que veem o esporte como negócio e não se importam com o papel pedagógico que ele pode oferecer.

Vivemos em um país onde o "rouba, mas faz" é estratégia política e enganar o árbitro é sinônimo de genialidade. O que estamos ensinando e mostrando para aqueles que encontram ídolos e modelos no esporte ao encher de louros e homenagens atitudes desonestas?

 

Ben Johnson, considerado o homem mais rápido do mundo na década de 80, bateu recordes e foi pego no doping. Perdeu a medalha de ouro olímpica nos 100m rasos, os recordes e a reputação

Eu acredito em jogar limpo porque o esporte, especialmente o futebol, é um formador de caráter no nosso país. Eu fico indignado quando um jogador tenta enganar o árbitro e assim obter vantagens sobre outros profissionais da mesma área.

Você contrataria um funcionário que dissesse que mentiria para conseguir o emprego?


publicado em 29 de Dezembro de 2011, 06:08
File

Diego Dubard

Jornalista nascido em Recife, vive em Brasília desde 2007 e quer se mudar em 2012, antes que o mundo acabe. Escreve porque precisa ganhar a vida e joga rugby por paixão. Twitter: @ddubard.


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