Dizem que a melhor maneira de curar uma ressaca é continuar a beber. Aparentemente, a CBF acredita piamente nessa tese. A final da Copa aconteceu há pouco mais de 48 horas e ainda rende conversas, mas a bola já vai voltar a rolar oficialmente no Brasil: entre hoje e amanhã, teremos as primeiras partidas da retomada das Séries B e A do Campeonato Brasileiro.
Antes que a dor de cabeça trazida pelos nossos times venha para ficar, resolvemos curtir a ressaca do Mundial com uma lista. Felipe Franco e eu montamos um elenco com os 22 personagens que mais nos marcaram durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. São eles:
O time da Costa Rica
Com a chegada nas quartas-de-final do torneio, o time do goleiro Navas foi a grande surpresa da Copa. Pelo menos nos próximos quatro anos, o time aplicado e competitivo servirá de exemplo para os entendidos da bola espalhados pelo mundo: não existe mais bobo no futebol.
Mondragon
Se me perguntassem o que pretendo fazer aos 43 anos e 3 dias de idade, jogar a Copa do Mundo jamais estaria entre uma das respostas (será que tenho chance de aprender a jogar até lá?). O veterano goleiro da Colômbia emocionou muita gente ao ser chamado pela seleção colombiana para uma homenagem em vida e entrar em campo nos últimos dez minutos da partida contra o Japão. Pena que a Fifa evitou festa ainda maior ao vetar a entrada de seus filhos no campo.
Krul
Antes da Copa, o catador de penâltis mais famoso do mundo nos dias de hoje só havia defendido 10% das cobranças que teve diante de si desde 2010. Agora, serve de ponto de partida para o debate: vale a pena ter uma alteração extra nas prorrogações? Eu acho válido, e digo mais. Sou favorável ao uso de especialistas não só em pênaltis, mas em cobranças de falta. #FutebolRumoaoKicker
Zuñiga
O colombiano entrará para a história como o grande vilão da Copa de 2014, apesar dos esforços de José Maria Marin e Scolari para tomar o posto. A entrada em Neymar teve maldade, sem dúvida, mas o motivo para tê-lo colocado aqui vai além disso, e muita gente precisa parar de pensar. Até quando um erro de atleta no campo de jogo será motivo suficiente para perseguir não só o homem, mas também a filha, a mãe e até o cachorro de uma pessoa?
Álvaro Pereira
O deus da raça, nessa Copa, foi o uruguaio que joga pelo São Paulo. Nocauteado com uma joelhada, se recusou a sair de campo.
David Luiz
O maior nome da seleção brasileira na Copa fez de tudo, e nem sempre bem. Mas os gols, propagandas e as falhas de posicionamento do zagueiro mais caro do mundo ficaram em segundo plano perto de uma atitude rara até mesmo fora das quatro linhas: respeito ao adversário. Como pessoa, David Luiz marcou um golaço com o gesto de consolo a James Rodríguez e o pedido de aplausos para o artilheiro da Copa.
Pepe
O luso-brasileiro é bom zagueiro, mas é um dos jogadores mais confiáveis do planeta por uma razão distinta. Mais cedo ou mais tarde, faz o que se espera dele: perder a cabeça. Até José Mourinho, seu ex-treinador, cornetou.
Mascherano
A camisa 14 da albiceleste não esconde o que os carrinhos e a liderança demonstram: o argentino é o principal camisa 5 do mundo. Detentor da frase mais reveladora da competição (disse que uma jogada salvadora contra a Holanda lhe “abriu o ânus”), ganhou um vídeo de melhores momentos na Copa como homenagem do diário argentino Olé.
Muntari
O meia do Milan foi expulso da delegação de Gana no meio da Copa por bater em um membro da comitiva. Antes disso, foi acusado de fumar maconha no hotel e foi visto distribuindo dinheiro na periferia de Maceió. Nem o Sílvio Santos aprontou tanto nos últimos tempos.
Schweinsteiger
Um dos melhores jogadores da campeã Alemanha, liderou o time mesmo machucado durante a final. Foi também um dos principais responsáveis por fazer os brasileiros simpatizarem com o time germânico: torceu para o Brasil, ensaiou o Lepo Lepo e ainda vibrou com o hino do Baêa.
Podolski
Sabemos que ele é meia-atacante, mas aqui ele faz dupla com o Schweinsteiger. O craque da Copa fora do campo brilhou no Twitter e ganharia o troféu de Mr. Simpatia se o Mundial fosse um concurso de Miss. Se o Podolski fosse brasileiro, a essa altura já seria o novo melhor amigo do Luciano Huck.
James Rodríguez
Que Messi que nada. O craque da Copa do Mundo com a bola nos pés foi o colombiano de 22 anos, líder da tabela de artilheiros e comandante técnico da melhor seleção amarela do torneio. É sempre bom lembrar que ele assumiu a responsabilidade de carregar a Colômbia depois que Falcao García, melhor jogador do time, ficou fora de combate por lesão. A Colômbia de 2018 promete.
Robben
O outro candidato a craque da Copa atormentou as defesas adversárias. Dono de uma das jogadas mais manjadas e mais mortais do mundo (corta pro meio e bate!), também fez muitos inimigos graças às simulações de pênalti. Depois de admitir publicamente uma delas, virou piñata no México.
Suárez
Herói do Uruguai, levou a sério a coisa de brigar pelo título com unhas e dentes. O maluco bom de bola conseguiu passar de vilão a injustiçado após uma punição desmedida imposta pela Fifa e chegou a um final feliz depois de ter sido comprado pelo Barcelona. Pare um minuto e pense no maior ataque sulamericano desde a guerra do Paraguai: Neymar – Messi - Suárez.
Neymar
Apesar da pressão e da pouca idade, o camisa 10 brasileiro jogou razoavelmente bem. Saiu como vítima, e escapou de boa. Se estivesse presente e jogado mal nos resultados negativos do Brasil, poderia ser crucificado como o ex-goleiro Barbosa, jogador escolhido para carregar a cruz do 2 a 1 uruguaio de 1950. “A pena máxima para um crime no Brasil é de 30 anos. Eu pago por aquele gol há 50”, disse certa vez.
Klose (e, de tabela, Ronaldo)
Nos últimos anos e atos, Ronaldo “Fenômeno” fez tanta besteira que conseguiu trocar a idolatria que detinha pela capacidade de provocar um certo grau de repulsa a cada vez que aparece na TV. Na derrota de 7 a 1 para a Alemanha, vi muitos brasileiros comemorarem o gol de Miroslav Klose (com 16 gols em quatro torneios, o novo recordista de tentos em Copas do Mundo ultrapassou o brasileiro, que tem 15)
Van Gaal
Se o bom e velho jogador maluco anda em falta no gramado (exceções feitas a Suárez e Balotelli), o banco de reservas continua com seus representantes. Desafeto de Rivaldo, o holandês é daqueles “professores” que tenta ganhar o jogo com mudanças de esquemas, troca de jogadores, abertura da concentração e o que mais for necessário. Craque da Holanda na Copa, vai comandar o Manchester United depois da competição.
Arbitragem
O pênalti mandrake marcado sobre Fred pelo árbitro japonês Yuichi Nishimura logo na primeira partida já anunciava as lambanças que aconteceriam no resto do Mundial. Tecnologia da linha do gol à parte, os juízes do torneio ficarão marcados pela insistência em segurar a aplicação de cartões. Nas palavras do ex-juiz Sálvio Spínola, foi a Copa da carta branca para bater.
O Black Power
Como alguém de cabelo crespo, só tenho a agradecer à presença de Marcelo, Dante, William e dos belgas Fellaini e Witsel, responsáveis por ressuscitar o black power nos gramados do Brasil.
Os EUA descobriram que futebol não é o americano
O time de Tim Howard, Clint Dempsey e dos rastafáris Beckerman e Jones fez os Estados Unidos encararem o com a mesma paixão do resto mundo. A transmissão dos jogos bateu recordes na televisão americana. LeBron James, Kobe Bryant, Leonardo DiCaprio, McLovin (de SuperBad) e Will Ferrell marcaram presença no Brasil. O USMNT (sigla para United States Men's National Soccer Team) serviu como atestado para as pessoas fugirem do trabalho e contagiou até o presidente Barack Obama, que ligou para dar os parabéns pelo desempenho. Se o país passar a encarar a formação de atletas para o futebol de cá com a mesma seriedade com que encaram a liga do futebol de lá, não vai demorar muito para chegarem mais longe em um Copa do Mundo.
A torcida argentina
Os hinchas hermanos apoiaram o time, brigaram, criaram a música mais grudenta da Copa, dormiram na areia de Copacabana e no Sambódromo do Rio, tentaram enganar a polícia e até invadiram o Maracanã antes mesmo que os chilenos achassem que essa fosse uma boa ideia. Para o bem e para o mal, os quase cem mil argentinos que vieram ao Brasil deixaram sua marca.
A Zuêra
Do cone Fred aos hinos fake. Da Cláudia Leite de galinha pintadinha ao Mascherânus e o Perseling, movimento que imita a cabeçada de Van Persie contra a Espanha. Essa foi a copa dos memes, que surgiam antes mesmo de um jogo acabar.
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E você leitor, concorda com a nossa relação? Falta um lugar para fechar o grupo de 23. Que fato ou personagem marcante da Copa do Mundo de 2014 você colocaria nessa lista?
publicado em 15 de Julho de 2014, 17:33