Por que a gente tem tanta dificuldade em escolher?
Quando tive a ideia de reunir em um artigo alguns títulos que passaram pela vida da equipe do PapodeHomem, pedi a todos que me ajudassem. Conforme fui recebendo as respostas, meus planos tiveram que mudar um pouco.
A proposta inicial era de que fossem os dois livros preferidos de cada um, mas percebi que fazer essa seleção era quase impossível. Felizmente, temos um time de bons leitores por aqui, e pinçar apenas dois títulos específicos para dar a eles a coroa de melhores não é uma tarefa fácil. Compartilhamos, então, aqueles que nos marcaram de alguma forma, ou simplesmente os que estão na lista de indicações para amigos e inimigos.
Na verdade, no meio de todas as opções que pipocam dia após dia, a pergunta inicial desse artigo deveria ser: por que a gente não teria dificuldade em escolher? Ainda bem que temos.
Vem conhecer um pouquinho mais da gente (sempre me disseram que a nossa estante de livros diz muito sobre quem nós somos) e aproveita pra dar a chance da gente conhecer melhor vocês também, deixando sua indicação de livro nos comentários!
1. Walden ou A Vida nos Bosques – Henry D. Thoreau (Beatriz Aquino)
"Walden é um livro cheio de devaneios e incríveis insights que se tornaram referência para os movimentos de minimalismo e sustentabilidade." Encontrei essa frase em um resenha publicada em 2014 e acredito que ela traduz o principal motivo desse livro ter me agradado tanto. A história de Thoreau abre espaço para reflexões sobre o padrão de vida que queremos/precisamos construir e inspira uma nova visão sobre o ser humano e sua relação com a natureza.
2. O dia do curinga - Jostein Gaarder (Beatriz Aquino)
Li esse livro pela primeira vez a pedido de uma professora de português. Não me lembro exatamente o ano, mas lembro que foi uma leitura difícil, quase dolorida. Acho que foi por isso que me marcou. É um livro interessante, que pincela questionamentos filosóficos e nos faz viajar em questionamentos e mais questionamentos.
3. Criatividade SA (Breno França)
Todo mundo sabe que eu sou bem fã da Pixar e esse livro é escrito simplesmente pelo fundador deles, o Ed Catmull. Há muito tempo eu queria ler um livro sobre gestão em ambientes criativos e não existe exemplo melhor que este. No meio das dicas, ele conta bastidores do relacionamento com Steve Jobs, com a Disney e sobre a criação de filmes como Vida de Inseto, Rei Leão, Procurando Nemo, etc, etc.
4. O Conde de Monte Cristo (Breno França)
Foi um dos primeiros livros que eu me lembro de ter lido na vida e, nossa, como aquela história me prendeu. Se você quer dar um presente para um jovem/criança ou se você nunca leu essa história, recomendo e muito. Vou ficar torcendo para que você tenha a mesma experiência que eu e acabe encontrando esse tesouro.
5. Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos - Um Olhar sobre o Futebol (Breno França)
Eu não poderia deixar de recomendar um livro sobre esporte. Pensei em vários, mas acabei escolhendo esse do Tostão, um dos personagens mais fantásticos que permeiam o mundo do futebol. Ao longo dos capítulos ele vai contando a história das Copas do Mundo que vivenciou como torcedor, jogador, médico e jornalista. Poucos indivíduos conseguem nos dar tantos pontos de vista diferentes em primeira pessoa e ainda contar histórias de bastidores e uma aula sobre táticas como ele.
6. Entre o mundo e eu, Ta-Nehisi Coates (Bruno Pinho)
Li no final do ano passado, e é, de longe, o livro em que mais gastei a ponta dum marca texto na vida. Durante alguns momentos me sentia personificando nas páginas aquele clássico meme universitário, de uma apostila gritando em verde fluorescente. Porque me identifiquei em muitas linhas com o que era dito ali, na forma da escrita caprichosa do Ta-Nehisi Coates, escritor e jornalista hoje autoridade sobre a questão negra no Estados Unidos. E o livro retrata justamente este movimento: o ser negro na "América", mais precisamente sobre o processo de crescer sendo um, também sendo homem, também sendo pobre.
É escrito em formato de uma longa carta ao seu filho, recursou que não é bem original, vamos combinar, mas que acerta bem na jugular que buscava. O relato vem pra perto, se torna íntimo, familiar, e, assim, emociona. Existe para que ele entenda muito do que seu pai passou e o que ele, em maior ou menor grau, também vai sentir. Vivências essa que compartilhei, de outras maneiras, estando crescendo noutra mas não tão distante américa, crescendo negro nos confins de uma por vezes provinciana São Paulo.
7. Ensaio sobre a Cegueira, do (mestre) José Saramago (Bruno Pinho)
Eu li em uma idade bem tenra, talvez sendo mais novo do que o necessário para entender um romance com tanta dimensão e potência, ainda assim, é curioso de hoje notar o quão profundamente o livro me marcou, de diferentes maneiras. Me fez enxergar o mundo, a sociedade e o que entendia como uma exemplar escrita de uma nova forma, rompendo algumas das cegueiras que tinha, pra ficar numa brincadeira clichê envolvendo a premissa do livro. Pois é disto que ele trata: pessoas que, de um momento para outro, se encontram cegas, com um transmissível véu branco sobre suas visões.
Partindo daí, muito acontece, nas páginas que correm rápidas e sem respiro até encontrar seu fim, tal qual a prosa do velho mago. E, no fim, o que vemos é que cegos estamos nós. Que leitura de dar gosto, amigos e amigas, que leitura. É dos livros que poderiam estar numa lista de obras que justificam a existência da ficção.
8. Vidas Secas, Graciliano Ramos (Carol Rocha)
Minha primeira vez com ele durou 3 meses.
Eu tinha 13 anos e estava no ensino fundamental. Era um capítulo por semana, com calma, analisando tudo com atenção e gosto. Como boas leituras tem que ser (nunca entendi a galera que se gaba de terminar livros fodas em 3 dias, qual o objetivo de acabar logo com algo que dá tanto prazer?).
Definitivamente é meu livro favorito da vida, falo sem titubear.
Vidas Secas é um daqueles que entram nas listas de vestibulares e passam a ser vistos como "meu deus, que livro chato do caralho, vou ler um resumo e vai ficar tudo bem". Meu amigo, vai ficar tudo bem se você tirar um mês para ler essa obra prima com calma, prometo. Como boa acumuladora que sou, tenho três edições diferentes aqui em casa, faço propaganda descarada e sempre que inventam de fazer uma peça baseada na história eu garanto presença o mais rápido possível.
Li 5 vezes e sempre foi uma emoção diferente :)
9. O beijo não vem da boca, Loyola (Carol Rocha)
Eu não sei nem por onde começar a descrever esse livro, mas talvez o melhor resumo seja: foi uma relação de amor e ódio do início ao fim. Eu passava algumas raivas entre um capítulo e outro, porque o Ignácio faz isso comigo: ele me testa e cutuca feridinhas que eu nem sabia que tinha. Mas sempre que indico pra alguém, dá vontade de ler novamente, de passar a raiva de novo. A mesma coisa acontece com Zero,
Eu tenho uma paixão muito forte pela maneira do Loyola escrever. Ele é minha referência, junto com Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes, Carolina Maria de Jesus e Graciliano Ramos (Que time!)
10. A mão esquerda da escuridão, Ursula K. Le Guin (Carol Rocha)
Pra não dizer que eu não falei das barreiras sociais (porque aí não seria eu), deixo aqui o meu preferido de ficção científica. No planeta Inverno de Ursula não há homens nem mulheres: todos são os dois ao mesmo tempo. A ideia de gênero e papéis sociais ligados à ele, como conhecemos hoje, não existe.
É uma ótima pra quem tá de saco cheio da maneira como o assunto "equidade de gênero e feminismo" vem sendo tratado, falando da forma de se comunicar as questões (jargões usados à exaustão, por exemplo).
Também é uma ótima pra quem adora uma piração problematizadora, ou pra quem só tá querendo ler um bom livro de ficção científica mesmo.
11/12. Viagem ao centro da terra, Júlio Verne, e O mágico de OZ (Guilherme Valadares)
A gente escuta falar de clássicos como esses desde que é pequeno, mas não para pra ler. Comprei ambos pra minha irmãzinha de 11 anos. Aí, antes de enviar pelo correio, resolvi ler. Foi delicioso! Leituras envolventes, maravilhosas. Dá pra entender mesmo porque certos livros atravessam os séculos e seguem sendo lidos.
13. Alegre sabedoria, Yongey Mingyur Rinpoche (Guilherme Valadares)
Em tempos obcecados por felicidade e soterrados por charlatões e sobrecarga de informação, esse livro é um oásis. Escrito por um dos mestres budistas vivos mais renomados, que fez seu primeiro retiro de três anos de silêncio aos 13 anos, "Alegre Sabedoria" vem em uma linguagem simples e acessível a qualquer um de nós. Recomendo de olhos fechados.
14. Pergunte ao pó, John Fante (Jader Pires)
Como cabe tanto em tão pouco? a história mais simples, contada do jeito mais direto, e completamente tomada de material humano. Derrotado, autodestrutivo, ciumento e bobalhão. Esse é Arturo Bandini, autor de "O cachorrinho riu" e protagonista desse romance, dos meus preferidos.
15. A casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro (Jader Pires)
A delícia e a culpa. Esse livr é sujo, pornográfico, tesudo, melecado, ácido, dendo, delicioso. João Ubaldo é uma senhora com todas as idades nas costas contando suas desventuras sexuais na Bahia. Você sente o cheiro da putaria, o suor que vem dela, a vontade de olhar, de participar, fica escandalizado, horrorizado, fecha os olhos. E volta ainda mais curioso.
16. Terra Sonâmbula, Mia Couto (Jader Pires)
Mia Couto é um clichê necessário. Tudo o que ele bota no papel é com esmero e suas falas poéticas ajudam a carregar a tradição oral folclórica de parte da África. Esse livro é lindo e triste. Singular. Necessário.
17. A casa das Belas Adormecidas, Yasunari Kawabata (Jader Pires)
Como a narrativa japonesa e diferente da nossa. O Nobel de literatura, aqui, nos faz imaginar cada detalhezinho, o frio lá fora, a finitude e a culpa nipônica. O inalcansável. Kawabata coloca a gente em posição fetal e achando que vai dar tudo errado. Ainda bem.
18. No coração da vida - Jetsunma Tenzin Palmo (Luciano Ribeiro)
Esse é um ótimo livro introdutório para quem pretende iniciar um caminho de lucidez e compaixão. A Jetsunma Tenzin Palmo tem um discurso muito claro, afiado e ao mesmo tempo, que nos faz sentir próximos do local de onde ela fala.
19. Rápido e devagar, duas formas de pensar - Daniel Kahneman (Luciano Ribeiro)
Esse livro eu peguei pra ler recentemente e me deu aquela sensação de que isso deveria ter acontecido muito antes. Ele dá a sensação de que enfim você consegue ver as cordinhas que as pessoas puxam e deixa claro um monte de vieses inconscientes nos quais caímos todos os dias. Vale a leitura.
20. Os meninos da rua paulo, Feréc Molnar (Rodrigo Cambiaghi)
Foi o primeiro livro que li que me prendeu a atenção a ponto de não conseguir parar de ler.
Não quero dar muitos spoilers, mas é um baita romance, profundo e tocante, lembro que chorei.
Li na sexta-série e tenho planos de reler agora adulto.
21. Satisfação Garantida, Tony Hsieh (Rodrigo Cambiaghi)
É a história do fundador da Zappos, uma empresa de calçados que conseguiu atingir a marca de U$ 1bi de vendas no ano em apenas 3 anos de operação, além de ser uma história muito legal pois se passa no boom da internet, época que a maioria de nós viveu, o livro é uma aula sobre atendimento ao consumidor e ensina como é possível transformar um cliente insatisfeito num cliente fiel.
Uso diariamente os ensinamentos do livro com meus clientes. E funciona.
publicado em 06 de Maio de 2017, 10:06