Os 100 melhores documentários brasileiros, segundo os críticos da ABRACCINE

Uma lista com os melhores filmes de não-ficção já feitos no país. Pra descobrir novas histórias e conhecer mais do Brasil

Me desculpem os puristas, mas os filmes de não-ficção reservam o melhor de nosso cinema. 

O documentário, talvez sendo o formato cinemático que melhor se adapta as dificuldades de produção existentes em nosso país, consegue continuamente alcançar seus limites, se reinventar e entregar algo novo com o trabalho de seus diretores. Ainda que não seja possível nomear um movimento tão difundindo e antigo como escola ou algo único, é inegável o celeiro de talentos que são revelados fazendo cinema documental em nossas terras.

Por isto que é interessante ver o formato sendo analisado e olhado com cuidado, como feito na lista abaixo. Organizada pela ABRACCINE, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema, ela apresenta os 100 melhores documentários já criados no país, em curadoria feita entre seus críticos associados e convidados. 

É um mosaico histórico de muito do que já foi criado, escolhido por pessoas que há décadas se debruçam em analisar o gênero. Começando pelo curta perfilando a cantora Maria Bethânia, filmado na década de 60, até produções mais recentes, como Elena, já desta década, a lista é um ótimo apanhado do joio do trigo feito em nosso cinema não-ficcional. 

Também reafirma a importância de alguns de nossos diretores, como João Moreira Salles, Walter Carvalho, Jorge Furtado e, entre todos, o sempre presente Eduardo Coutinho. Ele, inclusive, é a figura com mais filmes na lista, e tem três obras entre as cinco principais escolhidas.

Os cem filmes abaixo representam, sobretudo, o caminho das pedras para quem se interessa em entender mais do formato. Também é um enorme tesouro das histórias de nosso país - sociais e ordinárias, de glórias e derrocadas, desconhecidos e famosos - e um contato com outras realidades, o objetivo máximo dos documentários. 

*Muito dos documentários estão disponíveis no YouTube. Mas por motivos de direito, preferimos não inseri-los aqui. Todas as sinopses foram retiradas de sites especializados.


Para ver o nome de cada um dos documentários, clique no ícone "i". O top 20 está abaixo.

20. Janela da Alma (de João Jardim e Walter Carvalho, 2001)

Dezenove pessoas com diferentes graus de deficiência visual, da miopia discreta à cegueira total, falam como se veem, como veem os outros e como percebem o mundo. O escritor José Saramago, o músico Hermeto Paschoal, o cineasta Wim Wenders, entre outros, fazem revelações pessoais e inesperadas sobre vários aspectos relativos à visão.

19. Santo Forte (Eduardo Coutinho, 1999)

Entre uma missa campal celebrada pelo Papa no Aterro do Flamengo e, meses depois, a comemoração do Natal, o documentário penetra na intimidade dos católicos, umbandistas e evangélicos de uma favela carioca. Cada um a seu modo, eles creem na comunicação direta com o sobrenatural através da intervenção de santos, orixás, guias ou do Espírito Santo.

18. Estamira (Marcos Prado, 2006)

Trabalhando há cerca de duas décadas em um aterro sanitário, situado em Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, Estamira Gomes de Sousa é uma mulher de 63 anos, que sofre de distúrbios mentais. O local recebe mais de oito mil toneladas de lixo da cidade do Rio de Janeiro, diariamente, e é também sua moradia.

Com seu discurso filosófico e poético, em meio a frases, muitas vezes, sem sentido, Estamira analisa questões de interesse global fala também com uma lucidez impressionante e permite que o espectador possa repensar a loucura de cada um, inclusive a dela, moradora e sobrevivente de um lixão.

17. Imagens do Inconsciente (Leon Hirszman, 1987)

Como parte do projeto que gerou a trilogia “Imagens do Inconsciente”, Leon Hirszman entrevista a psiquiatra Nise da Silveira, aluna de Carl Jung e fundadora do Museu de Imagens do Inconsciente.

16. Garrincha: a alegria do povo (Joaquim Pedro de Andrade, 1962)

Documentário sobre um dos jogadores mais famosos da história do futebol: Garrincha. Com cenas clássicas do homem em ação nos campos, defendendo o escudo do Botafogo e da Seleção Brasileira, o filme também traz raras imagens de seu cotidiano.

15. Jango (Silvio Tendler, 1984)

O filme refaz a trajetória política de João Goulart, o 24° presidente brasileiro, que foi deposto por um golpe militar nas primeiras horas de 1º de abril de 1964. Goulart era popularmente chamado de "Jango", daí o título do filme, lançado exatos vinte anos após o golpe.

A reconstituição da trajetória de Goulart é feita através da utilização de imagens de arquivo e de entrevistas com importantes personalidades políticas como Afonso Arinos, Leonel Brizola, Celso Furtado, Frei Betto e Magalhães Pinto, entre outros. O sugestivo slogan do filme foi "Como, quando e por que se derruba um presidente"[4].

14. ABC da Greve (Leon Hirszman, 1990)

O filme retrata a primeira greve brasileira fora das fábricas do Brasil, cobrindo os acontecimentos na região do ABC paulista, em 1979. À frente das manifestações, estava o então jovem Luiz Inácio Lula da Silva.

13. Viramundo (Geraldo Sarno, 1965)

​Filme da Caravana Farkas, um documento sobre os nordestinos que, atraídos pela riqueza do sul, chegam a São Paulo para procurar emprego melhor que o da roça. Mostra o fim da ilusão, a vontade de voltar e o remédio da grande cidade ao desemprego e à miséria: a caridade e a fuga pelo misticismo.

12. O País de São Saruê (Vladmir Carvalho, 1971)

Inspirado no título de um cordel do conhecido autor paraibano Manoel Camilo dos Santos, O País de São Saruê é um filme inspirado nas relações do homem com a natureza no sertão nordestino, onde predomina a luta contra a seca, o latifúndio e a miséria desde os tempos da colônia. É uma tentativa de se resgatar a memória de fatos antigos, os usos e costumes que distinguem essa região das demais. 

11. O Prisioneiro da Grade de Ferro (Paulo Sacramento, 2003)

Utilizando as técnicas aprendidas em um curso de filmagem ministrado dentro do presídio, os detentos encarcerados no maior centro de detenção da América Latina documentam seu cotidiano, registrando as condições precárias nas quais (sobre)vivem, dez anos após os acontecimentos de um dos episódios mais sangrentos da história do Brasil, o Massacre do Carandiru, que custou a vida de mais de uma centena de detentos.

10. Aruanda (Linduarte Noronha, 1959)

Década de 1960, Brasil. O registro da vida dentro do quilombo Olho d'Água da Serra do Talhado, em Santana do Sabugi, no estado da Paraíba, nordeste do Brasil, onde (sobre)vivem diversas famílias em situações e condições primitivas, uma vez que este quilombo está oficial e institucionalmente isolado do resto do território brasileiro.

9. Di (Glauber Rocha, 1977)

Glauber Rocha na gravação de Di, no velório de Di Cavalcanti.

Homenagem ao pintor, desenhista e ilustrador brasileiro Emiliano di Cavalcanti (1987-197), mais conhecido como Di Cavalcanti, um dos artistas mais importantes do movimento modernista no Brasil. O documentário registra o enterro do pintor e narra a trajetória e as obras do artista através de uma narração poética, baseada nos escritos de Augusto dos Anjos e Vinícius de Moraes. 

8. Ônibus 174 (José Padilha, 2002)

Uma investigação cuidadosa, baseada em imagens de arquivo, entrevistas e documentos oficiais, sobre o sequestro de um ônibus em plena zona sul do Rio de Janeiro. O incidente, que aconteceu em 12 de junho de 2000, foi filmado e transmitido ao vivo por quatro horas, paralisando o país. No filme a história do sequestro é contada paralelamente à história de vida do sequestrador, intercalando imagens da ocorrência policial feitas pela televisão. É revelado como um típico menino de rua carioca transforma-se em bandido e as duas narrativas dialogam, formando um discurso que transcende a ambas e mostrando ao espectador porque o Brasil é um país é tão violento.

7. Notícias de uma Guerra Particular (João Moreira Salles e Kátia Lund, 1999)

Documentário que conta a história da violência urbana na cidade do Rio de Janeiro e em outras cidades do Brasil. Um cenário de policiais corruptos, traficantes e usuários em que todos estão submetidos à uma grande guerra diária. 

6. Ilha das Flores (Jorge Furtado, 1989)

Legenda

Um tomate é plantado, colhido, transportado e vendido num supermercado, mas apodrece e acaba no lixo. Acaba? Não. O filme segue-o até seu verdadeiro final, entre animais, lixo, mulheres e crianças. E então fica clara a diferença que existe entre tomates, porcos e seres humanos. 

5. Serras da Desordem (Andrea Tonacci, 2006)

Carapirú é um índio nômade, que escapa de um ataque surpresa de fazendeiros. Durante 10 anos ele perambula sozinho pelas serras do Brasil central, até ser capturado em novembro de 1988, a 2000 km de distância de sua fuga inicial.

Levado a Brasília pelo sertanista Sydney Ferreira Possuelo, em uma semana ele se torna manchete por todo país e centro de uma polêmica entre antropólogos e linguistas em relação à sua origem e identidade. Na tentativa de identificar sua origem ele reencontra um filho, com quem retorna ao Maranhão. Porém o que Carapirú encontra ao retornar já não está mais de acordo com sua vida nômade.

4. Edifício Master (Eduardo Coutinho, 2002)

Legenda

O cotidiano dos moradores do Edifício Master, situado em Copacabana, a um quarteirão da praia. O prédio tem 12 andares e 23 apartamentos por andar. Ao todo são 276 conjugados, onde moram cerca de 500 pessoas. Eduardo Coutinho e sua equipe entrevistaram 37 moradores e conseguiram extrair histórias íntimas e reveladoras de suas vidas.

3. Santiago (João Moreira Salles, 2007)

João Moreira Salles revisita a própria história através das lembranças do mordomo Santiago, que trabalhou para sua família por 30 anos. O filme questiona a relação entre diretor e personagem e o grau de realismo na tela.

2. Jogo de Cena (Eduardo Coutinho, 2007)

Atendendo a um anúncio de jornal, 83 mulheres contaram sua história de vida em um estúdio. Vinte e três delas foram selecionadas e filmadas em junho de 2006. Em setembro do mesmo ano, várias atrizes interpretaram, a seu modo, as mesmas histórias.

1. Cabra Marcado para Morrer (Eduardo Coutinho, 1984)

Um camponês é assassinado e sua história vira tema de um filme. Porém, com o golpe de 1964, a filmagem é suspensa. Dezessete anos depois, o diretor retorna ao local e desperta questões que até então estavam adormecidas.

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publicado em 22 de Julho de 2017, 06:26
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Bruno Pinho

Estagiário do PapodeHomem e estudante de jornalismo.


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