O seu cachorro vai morrer

É difícil falar isso. Mas o seu cachorro, aquele ser peludo e inquieto que pula, corre e chora de felicidade quando você chegar em casa, vai morrer. Pode ser por meio de uma doença, um acidente estúpido ou a mais cruel de todas as mortes animais: o sacrifício.

É cruel porque, antes de morrer, o cão não é mais o mesmo. Ele é um animal que depende de você tanto quanto da época de filhote. Ele vai se perder, bater com a cabeça nas paredes e decidir dormir em lugares estranhos. Volta e meia, não terá força para mastigar. Caberá a você dar a comida na boca, enquanto ele se equilibra nas patas fracas e trêmulas.

Você vai ter que ter paciência. Muita paciência. Vai ouvir “quanto anos ele tem?” dezenas de vezes dos amigos. Cancelar eventos e viagens porque não pode deixa-lo sozinhos. E, principalmente, incentivos ao sacrifício do animal.

Acredite. A ideia de sacrifício passará por sua cabeça. “Será que ele não está sofrendo?” você se perguntará, quando, na verdade, busca somente um argumento que justifique sua dúvida, um conforto para admitir que o trabalho de cuidar de um cão idoso é dos mais desgastantes.

Foi-se

Hoje meu cão foi pro sacrifício. Quinze anos. Já não se movia direito, estava cego e, segundo o veterinário, com dores ao tentar caminhar.

É horrível ter que admitir. Mas, junto do seu cão, você despede-se de toda a rotina de trabalho e preocupação que precisa direcionar ao animal. Não é insensibilidade admitir. É verdade. A sensação atual é de um alívio, mas um alívio confuso.

Eu estou bem, obrigado.

Mas trocaria todo essa tranquilidade por mais um rolê nos bons tempos de parque.

A minha dica é essa: pense bem antes de ter um cachorro. Faça bem a eles, mas pense melhor antes de tê-los.

Vale a pena? É claro que vale. Mas só se você lembrar de aproveitar o bastante.

Porque aquela merda, um dia, vai morrer.


publicado em 17 de Setembro de 2015, 16:17
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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