O que vai te surpreender amanhã?

A tecnologia aproxima pessoas, economiza tempo, possibilita privilégios, gera conforto e proporciona praticidade.

Mas você nem dá bola pra isso.

A rotina acelerada ligou nossa percepção no piloto automático. Nada que surge, ousa ou inova parece ter um impacto muito grande. Mesmo quando todo um longo e demorado processo transforma-se em poucos cliques ou mero acionamento de botão, nossa expressão, no máximo, explana:

"Hum. Já era hora."

Por exemplo. Pare tudo o que você está fazendo e olhe em sua volta. Nada é como era há 10 anos. Tudo está mais simples e organizado. Esse texto que você lê agora, no conforto da sua estação de trabalho ou lar, foi escrito há poucas horas. Não é mais necessário esperar a impressão do conteúdo e ir buscar o material. Ele vem até você. E caso você queira deixar para ler depois, basta um crtl+d para guardar o post. Sem o risco de perdê-lo, é claro.

Aliás, perder é algo cada vez mais raro. Se em outros tempos você anotava o telefone da incauta na mão com uma caneta Bic e torcia para não chover e tudo ir – literalmente – por água abaixo, hoje você pede para ela dar um toque no seu celular e tem a felicidade gravada. Se a bateria acabar, tudo bem. O telefone estará lá nas últimas chamadas.

Isso não é o máximo?

Então por que você só lembra da bateria descarregada e não valoriza a porra toda?

Gravar as músicas que tocavam em estações de rádio na fita: awesome

O homem, em algum momento, decidiu que nada mais iria surpreendê-lo. E justo hoje, quando tudo está maravilhoso, ninguém consegue ser feliz. O nosso senso crítico está mais aguçado, exagerado e irritante do que nunca. As reclamações surgem de um modo natural, mas sem a análise de como era a situação alguns anos atrás.

No último final de semana, por exemplo, peguei uma promoção de companhia área e fui até Cuiabá (MT). Paguei menos de R$200 de ida e volta. Na saída de São Paulo escutei gente reclamando da mudança de portão de embarque em cima da hora, demora do ônibus que leva os passageiros até o avião e daqueles intermináveis cinco minutos que você fica dentro do avião parado esperando o sinal do piloto de portas em manual.

São fatos que, sim, irritam. Você não quer perder tempo. Mas quando foi que esquecemos como era mais difícil antigamente? Viajar de avião era muito caro. O que restava era encarar 24 horas de ônibus. Sexta-feira eu levei 1h50 minutos para chegar em Cuiabá (MT). Tive um meio de transporte confortável que me pegou na saída da sala de embarque e me deixou na frente do avião. E ninguém pediu pra eu ficar de pé no avião esperando a liberação de saída.

Resumo do voo: todo mundo chegou ao destino. Todo mundo saiu ganhando. Mas reclamou.

Link Vídeo | O comediante americano Louis C.K. acertou em cheio – pra variar

O ser humano não acompanhou a evolução da tecnologia colhendo as vantagens por ela proporcionada. Ficou mimado. Nada parece ser o suficiente. Sempre há a necessidade de uma atualização que vai resolver todas as eventuais falhas. Sempre há algo que é alvo de críticas e reclamações, mesmo sua vida social rodando em volta daquilo. É do tipo “pode ser melhor, mas não sei como”.

Falta-nos a inocência da descoberta. A humildade de valorização das simples e boas coisas que existem. Algumas nem tão simples, mas de um significado genial para nossa comodidade. Falta-nos muitas vezes os olhos inocentes de crianças para que, enfim, esse espírito ranzinza não dê os devidos créditos a todas descobertas e avanços tecnológicos existentes.

Não é difícil imaginar um mundo assim, onde as pessoas aproveitam o que há de melhor para seu benefício, e não para comparar com o que pode ser melhor.

A gente devia curtir mais. Chorar menos. Se chatear menos.

A turma prefere não curtir. Não se surpreender.

A turma são foda.

Oferecimento: Samsung

Link YouTube | Até o mala que não se surpreende com nada vai se surpreender

Feito de duraluminium escovado, equipado com a Nova Geração do Processador Intel® Core™ i5, megaleve (com apenas 1,3 kg) e ultrafino (com 16,3 mm de espessura).

E teve gente que achou que era impossível se surpreender.

Se isso não é surpresa. Porran.


publicado em 10 de Agosto de 2011, 05:01
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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