O que realmente se passa na cabeça de um soldado na guerra

Colby Buzzel é um ex-soldado americano que lutou na guerra do Iraque (2003/2011). Antes de entrar para o exército, ele diz que sua juventude era engajada em uso de álcool, abuso de drogas e empregos sem futuro. Com essa perspectiva nada otimista de vida, ele ingressou no serviço militar americano determinado a seguir o slogan de recrutamento de "ser tudo o que você pode ser".

Claro que não foi nada disso o que aconteceu. Colby passou por péssimos momentos, se viu em meio a medo e frustração constantes e, para extravasar esse caldeirão de momentos terríveis, ele criou um blog entitulado CBFTW, sigla para "Colby Buzzel Fuck The War" (em tradução livre, "Colby Buzzel foda-se a guerra"). Nesse blog, o então soldado da infantaria do Stryker Brigade Combat Team relatava seu dia a dia na guerra. O Blog rapidamente ficou bem popular, já que eram relatos bem mais viscerais do que o de qualquer repórter que estava por lá.

Encurtando um pouco a história, assim que voltou da guerra, Buzzel publicou o livro My War: Killing Time in Iraq (algo como "minha guerra: matando tempo no Iraque), que combina sua narrativa, entradas de blog e alguns e-mails que evoluíram a partir de conversas em seu blog, ao longo do tempo. Hoje, ele é um escritor de sucesso (seu livro foi indicado para abastecer bibliotecas públicas nos Estados Unidos) e escreve regularmente na revista Esquire.

Essa animação incrível, com pouco mais de 5 minutos, mostra um dos relatos dele enquanto estava no Iraque. Vale muito a pena assistir inteiro e perceber como a narrativa verdadeira e coloquial se desenrola:

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Algumas citações

"Caralho, o batalhão todo. Isso deve ser grande".

"Ele apontou sua AK-47 bem no meio da porra das minhas pupilas".

"(eles estavam) ... em todos os lados da rua, nos telhados, nos becos, na entrada dos prédios, nas janelas, em todos os lugares, descarregando (as armas) na gente".

"Então, depois de alguns minutos, nos mandaram carregar tudo e voltar ao local onde recebemos a emboscada. Eu literalmente fiquei mal do estômago, como se eu fosse vomitar. Meu corpo, minha mente, minha alma, meu pau, minhas bolas diziam em voz alta e clara: 'não volte'. Eu estava morrendo de medo, mas eu tinha que voltar".

"E então eu atirei, atirei, atirei, atirei e atirei em tudo".

"Com as mãos, eu fiz o sinal da cruz em meu peito. Por favor, Deus, eu não quero morrer (cacete)".

"Ele (o sargento) disse pra eu atirar, que essas pessoas nem deveriam estar na rua. Então eu apontei a cruz (a mira do tanque) bem na cabeça deles, mas eu mudei a direção para cima e atirei perto deles. (...) eu poderia dizer que os perdi".

"Ninguém se mexeu atrás daqueles pneus depois disso".

"Eu estava fumando como uma chaminé, meus nervos estavam completamente em choque. Eu estava mal emocionalmente e percebi que minhas mãos ainda estavam tremendo".

"Eu pensava no quão sortudo eu era por ainda estar vivo".

"(o superior me disse) Coloque todas essas coisas (pensamentos ruins, coisas que o incomodavam) dentro de uma caixa de sapatos e lide com isso... depois".

"Eu coloquei os eventos de hoje em uma caixa de sapatos".  


publicado em 14 de Setembro de 2013, 07:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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