O que podemos aprender com Bayern, Borussia e o futebol alemão

Quando Pep Guardiola saiu do Barcelona e anunciou o Bayern de Munique como novo destino, centenas de jornalistas e torcedores fizeram cara feia. Afinal, por que o treinador mais respeitado da década preteriu Chelsea, Internazionale e a aposentadoria de 3 gerações da família no mundo árabe em troca dos bavários?

A resposta é simples -- e Guardiola, antes de muita gente, percebeu --: o futebol alemão é o único da atualidade que evolui a passos largos. Herança paciente de uma Copa do Mundo realizada com sucesso e que poderia muito bem servir de exemplo para o Brasil.

Campeonato Alemão: média superior a 45mil pessoas por jogo
Campeonato Alemão: média superior a 45mil pessoas por jogo

O sucesso do Bayern de Munique na Champios League 11/12 foi a primeira amostra de resultado. Mesmo tendo perdido a final para o Chelsea, o campanha do clube foi brilhante e alcançou a maior média de torcida nos jogos realizados em casa (68,5 mil torcedores. Capacidade da Allianz Arena: 71 mil torcedores).

Casa cheia, aliás, que é um dos grandes baratos da Bundesliga. De acordo com pesquisa divulgada pela Pluri Consultoria, a Alemanha possui o campeonato nacional com maior presença de público do mundo. Na temporada 2011/2012, os 306 jogos da Bundesliga tiveram público total de 13,8 milhões de torcedores, com média de 45,1 mil por jogo e ocupação média de 93% dos estádios.

Paul Breitner, ex-jogador do Bayern e hoje dirigente do clube, destacou esse trunfo dos alemães em entrevista ao programa Bola da Vez da ESPN Brasil.

“Não basta ter uma casa bonita se você não fornecer experiência. A experiência precisa ser completa: desde a compra do ingresso, passando pela entrada na Arena até o consumo do jogo.”

Isso além de considerar os estádios da Itália ultrapassados, um dos pontos cruciais para o afastamento do torcedor e enfraquecimento do futebol local.

Breitner é um excelente exemplo de nova mentalidade na direção de futebol. Um perfil de passagem pela seleção que soube levar a experiência da cancha para o escritório. “É preciso alterar na raiz quando não está dando certo. Não basta mudar de treinador ou jogadores. É preciso, acima de tudo, mudar a mentalidade”, ponderou, talvez até de maneira intencional, um bom começo para a virada do futebol brasileiro.

"Não basta ter uma casa bonita se você não fornecer experiência", Paul Breitner
"Não basta ter uma casa bonita se você não fornecer experiência", Paul Breitner

Os reflexos da Copa do Mundo de 2006 podem ser vistos principalmente no equilíbrio alcançado pelos clubes. O mercado alemão já não perde os seus principais jogadores para a Espanha, Inglaterra ou Itália. É possível manter um time com 12 ou 15 grandes jogadores sem precisar vender uma estrela pra fazer cofre.

Em janeiro deste ano a Bundesliga anunciou o balanço financeiro da competição na temporada 2010/2011: pelo sétimo ano consecutivo, a liga quebrou o recorde de receitas. Ao todo, foram € 2,23 bilhões. Segundo blog de torcedores do Borussia no Brasil, os clubes das duas principais divisões do país venderam, no total, 17,3 milhões de ingressos. Na elite, a média de público foi de 42 mil pessoas.

Os números positivos usam a Copa do Mundo como argumento. Mas é óbvio que eles não surgiram sozinhos. Após 2006, houve um movimento otimista no ambiente econômico do futebol. Surgiram novas empresas interessadas em investir nos clubes, cotas de patrocínio valorizadas e consumo de produtos licenciados cada vez maior. Além disso, como citou Paul Breitner, a experiência em dia de jogo nas fantásticas arenas multiuso trouxe cada vez mais pessoas para o estádio.

E até um jogo ruim fica bom quando as arquibancadas estão cheias.

Média de público dos Campeonatos Nacionais (Fontes: Pluri Consultoria e blog 3toques)
Média de público dos Campeonatos Nacionais (Fontes: Pluri Consultoria e blog 3toques)

Apesar desse cenário promissor, uma das grandes preocupações da Federação Alemã de Futebol é evitar que um case Itália se repita. Pra quem não se recorda, nos anos 90/00, com estrelas defendendo Milan, Inter, Roma e Juventus, foi deixada de lado a formação de novos atletas. Essa estratégia falha causou fatos assustadores, como as temporadas em que a Inter jogava com nenhum italiano no time titular, prejudicando a manutenção do clube e seleções.

Na Alemanha, o trabalho de base é recompensado seguindo o pensamento coletivo de crescimento. É simples"


  • Seleção competitiva significa clubes e campeonatos nacionais mais fortes;

  • Valorizar os jovens talentos e aumentam a visibilidade para os estádios da Alemanha;

  • E, cada vez mais, estrelas que antes desdenhavam esse país cogitam futuras transferências.

Atitudes assim estão ligadas ao novo modo de administração de futebol executado graças ao eficaz trabalho de experiência em campo de dirigentes como Paul Breitner, Franz Beckenbauer e Oliver Bierhoff. Na convivência dos clubes, eles transformam o pensamento imediatista de títulos e lucro em planejamento de execução. Na linguagem popular, eles trocaram o pneu do carro andando. Mas trocaram.

A maior prova está na nossa cara: após apontado como uma surpresa na final da Champions League de 2012, o Bayern volta a semifinal e traz um co-irmão: o Borussia Dortmund.

Ozil, Muller e Gotze: até o ano passado, integrantes do sub-23 alemão
Ozil, Muller e Gotze: até o ano passado, integrantes do sub-23 alemão

Após quase fechar as portas em 2004, quando afundou num prejuízo de 29,7 milhões de euros, o Borussia se reergueu e despontou em 2013 como uma promissora força do futebol europeu. Sucesso esse comprovado além das 4 linhas: o clube possui a maior média de público de todo continente – e um dos ingressos mais baratos.

O Signal Iduna Park é o maior estádio da Alemanha com capacidade para 80.720 torcedores. A média de torcedores, ainda com informações do Brasil BVB, é assustadora: 80.488 por jogo, uma ocupação de 99,71% dos lugares. O mais impressionante é que a cidade de Dortmund tem algo em torno de 581 mil habitantes. Ou seja, em dias de jogos do Dortmund, quase 14% dos moradores da cidade vão para as arquibancadas.

Talvez -- e eu tenho quase certeza disso -- 2013 ainda não seja o ano certo para o Borussia segurar seu posto entre os grandes da Europa. Mas surge, entre os alemães, a primeira força puxada pelo sucesso do Bayern nos últimos anos. O alcance da semifinal da Champions League está longe de ser um acaso. Mas sim, a concretização do primeiro passo rumo ao reencontro com o título que não vem desde 1997, quando venceu a Juventus na final.

Eles, os dirigentes do Borussia -- aí eu tenho certeza -- sabem disso. Logo, apenas aguardam e seguem executando o proposto há cinco anos, quando o clube se reergueu da crise que quase fechou suas portas em 2004.

O incrível mosaico da torcida do Borussia contra o Málaga
O incrível mosaico da torcida do Borussia contra o Málaga

Os jogos semifinais da Champions League apresentam um choque de formatos. Enquanto na Espanha há o domínio amplo de Real Madrid e Barcelona, clubes que negociam as cotas de televisão separadamente e recebem valores absurdamente maiores que times do interior, na Alemanha o Fair Play Financeiro faz-se presente para manter o equilíbrio e qualidade do campeonato.

Em campo os espanhóis saem na frente e são favoritos. O Real pela camisa, o Barça por ter o melhor time. A decisão não deve ser analisada como uma prova de fogo ao conceito alemão de administrar futebol. Mas tratada como um novo passo concluido no mais promissor modo de fazer futebol da atualidade.

Que, independente do resultado, aparentemente seguirá no rumo certo. Basta segui-lo.

Mecenas: Heineken

Que tal assistir a grande final da Champions League no estádio de Wembley em Londres  dia 25 de maio?

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A Heineken, patrocinadora oficial da Champions League, vai escolher 6 sortudos para ganhar esse presentão.

Pra participar, responda a pergunta: “O que você deixaria de fazer para levar a taça da UEFA Champions League de volta?” aqui no site da Heineken. Uma banca julgadora vai selecionar as 6 respostas mais criativa que levarão o prêmio

O concurso cultural vai até 30 de abril!

Valendo!


publicado em 17 de Abril de 2013, 19:10
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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