Na passagem de ida sem volta, a gente se vê diante de um porteiro gente fina. Ele é cortês porque seu dever é sê-lo.
Quando o c’est fini é enfim definitivo, o que pesa é o abrir destes tais portões que dão brecha para o outro lado.
Neste ínterim, a gente se pergunta se valeu a pena gastar nosso tempo, nossa ampulheta de coração batendo, enquanto éramos carne fresca e puro vício.
O dito porteiro ri porque sabe. Tem conhecimento das leis naturais e, no entanto, não distingue os contextos. Às vezes, a finitude atropela seu próprio prazo – não se sabe que nosso tempo chegou.
O relógio nos aprisiona num tique-taque dos pegue e pagues do mundo. É urgência atrás de urgência. É felicidade escapando da batida recorde, inalcançável, intangível. O futuro já foi só de olhar a hora que passa fisicamente no nosso corpo, os reais ponteiros de nossa mera existência, mera passagem de vinda.
O que nos leva para frente é o magnetismo com o que nos deixa cheios de tédio – até sexo entedia. Temos que dar um passo à frente do futuro programado, esperar da Morte uma fortuna.
Daquelas que a gente deixa de herança maldita pra quem ficar pra trás, procurando consertar a linha evolutiva do acaso.
Um brinde ao sacana relógio, que nos dá ritmo, impaciência em querer viver de tudo na medida e aparência de ordem. São 24, as horas e milhares, os respingos de segundos.
São estes segundos que têm que vir em primeiro. Gaste-os bem. Bem muito… até dar bom dia ao porteiro mais uma vez.
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