O Nepal é para aventureiros (ou não)

Para os aventureiros, o Everest e outros picos do Himalaia. Para os nem tanto, cultura hindu, budista, lindos templos e praças, além de bares e mais bares

Alívio. Foi isso que eu senti ao chegar em Katmandu, capital do Nepal, depois de passar meses morando na Índia. Embora os dois países sejam incríveis e cheios de lugares e pessoas interessantes, o Nepal tem uma vantagem: é uma espécie de Índia light. Tem religiosidade, tem montanhas, tem roupas coloridas e o típico caos do subcontinente, mas esse último item vem em doses bem mais leves. E isso faz uma tremenda diferença.  

Minha passagem pelo Nepal foi relativamente curta, pouco mais de 10 dias. Mas foi o suficiente para me apaixonar pelo país. De tuk-tuk, aquele simpático veículo motorizado de três rodas muito comum na Ásia, deixei o aeroporto e segui para o meu hotel. Bastaram cinco minutos na região escolhida, uma bairro chamado Thamel, para ter certeza de que eu estava no lugar certo.

Bairro de Thamel (Foto: Cooking in Tongues)

Placas, placas e infinitas placas. O Thamel tem um tipo poluição visual quase que inacreditável. Junte isso aos hotéis, restaurantes e bares dessa região, e o Thamel logo conquista seus visitantes. Não é sem motivo que esse é o maior reduto de mochileiros do Nepal.

Alpinistas também curtem a área, seja para beber uma cerveja ou para comprar roupas e produtos para trekking e escalada. Um dos bares do Thamel, o Rum Doodle, oferece comida e bebida de graça para sempre, basta completar um desafio relativamente simples: escalar o Everest.

Vai ver é por isso que subidas até o acampamento base do Everest costumam acabar em festa no Rum Doodle.  Edward Hillary (o primeiro homem que venceu o Everest) e até o Abominável Homem das Neves estão na lista de frequentadores do bar, embora eu ache que a presença do segundo não passe de uma estratégia de marketing do proprietário.

Por falar em escalada, o Nepal entrou na rota turística como sinônimo de aventura. O chamado teto do mundo guarda alguns dos picos mais altos do planeta, com destaque para o Everest e seus 8.848 metros. As presenças constantes do Indiana Jones no país também ajudaram a criar essa aura de aventura. Mas o Nepal é bem mais que isso. Eu não fiz trekking e não escalei montanhas, mas gostei mesmo assim.

Trekking no Nepal (Foto: Chris Baker)

No segundo dia de viagem fui conhecer da Praça Real de Katmandu, também chamada de Durbar Square. Com mil anos de história, essa praça tem palácios, templos, jardins e muitas estátuas. É lá também que vive a Kumari, uma menina que é venerada como deusa por hinduístas e por budistas nepaleses.

O Vale de Katmandu - espécie de região metropolitana da cidade - tem outras duas Praças Reais. A de Patan, uma cidade vizinha, é a mais simples delas, enquanto a de Bhaktapur é tão impressionante que vira e mexe é cenário de alguma grande produção de cinema. O exemplo mais conhecido talvez seja o do filme O Pequeno Buda, que foi gravado lá.

Mas nada em Katmandu é mais impressionante que a Boudhanath, uma estupa budista. É uma espécie de monumento que tem pintados os olhos de Buda. Além de fotos incríveis, o local provoca uma experiência interessante, já que passa longe de ser apenas turístico - monges budistas e fiéis estão por todos os lados. Não se sabe exatamente quando esse monumento foi erguido, mas ele está ali há alguns séculos, exatamente no meio da mais importante rota comercial entre o Nepal e o Tibet.

Boudhanath (Foto: 360 Meridianos)

A lista de monumentos de Katmandu ainda conta com outras estupas, entre elas a Swayambhunath, que fica no alto de uma montanha, está cercada por macacos e tem uma vista fantástica para o Vale. Já na lista de templos hindus, o que merece uma visita é o Pashupatinath, onde, entre outras coisas, ocorrem cerimônias funerárias e cremações.

A verdade é que só Katmandu já renderia uma viagem inteira, sem deixar nenhum motivo para reclamação. Os outros dois passeios para não-aventureiros são observar o nascer e o pôr do sol num mirante para o Everest, numa cidade chamada Nagarkot. E, claro, Pokhara, vila de frente para um lago e com vista para o Annapurna. Como eu já contei aqui no PapodeHomem, Pokhara é chamada pelo povo local de paraíso. Eles estão certos.

Um dia ainda volto no Nepal. Antes de desembarcar por lá, largo o sedentarismo por uns meses e me preparo para tentar alguma atividade que exija mais esforço. É possível até subir aos acampamentos base do Everest e do Annapurna, embora isso não seja para qualquer um. Se o sedentarismo me vencer (mais provável), fico só nos bares do Vale de Katmandu e de Pokhara mesmo. 

Já valem a viagem. 


publicado em 12 de Fevereiro de 2015, 09:00
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Rafael Sette Câmara

Virou mochileiro ao mesmo tempo em que se tornou jornalista. Desde então, se acostumou a largar tudo para trás - inclusive empregos - e cair na estrada. Ele escreve sobre viagens no 360meridianos, mas pode ser encontrado também no Facebook e no Instagram.


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