O Monte Everest, passo-a-passo

Na última Sexta-feira, 11/1/2008, faleceu o neozelandês Edmund Hillary, aos 88 anos, vítima de um ataque cardíaco. Ora, quem foi este senhor?

Em 1953, no dia 29 de maio, este senhor e mais um alpinista nepalês de nome Tenzing Norgay foram os primeiros cidadãos a colocar os pés no topo do Monte Everest, a 8848m de altitude, o ponto mais alto da superfície terrestre. Hillary então tornou-se herói nacional em sua Nova Zelândia, assim como Tenzing era Nepal, e sua morte causou comoção em todo o país.

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Edmund Hillay e Tenzing Norgay, saco roxo

Recentemente li o livro “No ar rarefeito” (Ed. Cia. das Letras, 2001), de Jon Krakauer, onde este faz um relato de uma expedição ao Everest em 1996 que terminou em tragédia, com a morte de dois guias experientes e mais dez outros alpinistas.

Inspirado pelo relato interessantíssimo da aventura, principalmente pelos percalços e inúmeras dificuldades que os alpinistas enfrentam, trago este artigo, também em tributo a Hillary. Maluquices à parte, o cara que chega ao topo do Everest é um super-herói. Em breve vocês entenderão...

O Monte Everest

Situado na Cordilheira do Himalaia, bem na fronteira entre o Nepal e a China, na verdade a escalada propriamente dita do Everest é de aproximadamente 3000 metros. Isto porque até você chegar à base da montanha, já está numa altitude de mais ou menos 5000 metros.

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Mocinhas podem pegar a fila da direita e voltar pra casa

Em termos de dificuldade técnica, não é dos mais complexos, assemelhando-se a uma caminhada íngreme, com alguns paredões verticais. O problema todo são as condições inóspitas encontradas. Rajadas de vento, temperaturas baixíssimas, ar rarefeito, avalanches.

O Everest pode ser escalado através de sua crista nordeste (que vem da China) ou da crista sudeste (que vem do Nepal). A crista sudeste é a via mais “fácil” de escalada, e pelas dificuldades criadas pelo fechado governo chinês, por muito tempo foi a única.

Esta crista, após descer do Everest, começa a subir de novo, comunicando este com o Lhotse (outro pico do Himalaia). Entre o Everest e o Lhotse, existe uma espécie de vale. É neste vale que a aventura começa.

A Expedição

O governo do Nepal cobrava uma taxa de aproximadamente 15.000 dólares em 1996 para permitir a subida de alpinistas ao Everest. Muitos alpinistas renomados, após conseguirem diversos feitos, não tinham mais como manter patrocínio, pois não havia mais desafios.

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Essa mochila pesa mais do que sua mala de carnaval, bem mais

Então começaram a abrir empresas guiar alpinistas amadores às grandes escaladas. Uma delas, a Adventure Consultants, cobrava 65.000 dólares para a aventura. O preço não incluía passagens e equipamentos.

Chegando em Katmandu, capital do Nepal, pega-se um helicóptero que leva os aventureiros até a região de Khumbu, de onde se parte para o Everest. A partir daí, tudo é feito a pé.

O centro comercial da região do Khumbu é um vilarejo chamado Namche Bazaar, a 3444 metros de altitude. Aqui vão entrar em cena personagens importantíssimos na escalada.

Os Sherpas

São os habitantes nativos do Khumbu. Por viverem numa região de altitude elevada, seu sangue é mais rico em hemácias, ou seja, têm uma adaptação melhor à condições de pouco oxigênio. Como conhecedores da área, também servem como guias.

E principalmente, são tradicionalmente alpinistas. Assim como nós almejamos ser ricos e famosos, o sonho de qualquer sherpa é trabalhar como alpinista.

Numa expedição destas, têm como funções carregar a maioria da carga (isso para os alpinistas guardarem energia para chegar ao topo). Eles vão na frente colocando cordas para a escalada e espalhando garrafas de oxigênio pelo caminho, por exemplo. Tenzing Norgay era sherpa.

Continuando a Caminhada...

Após um dia de aclimatação em Namche, a caminhada segue até o vilarejo de Pheriche, a 4.267 metros de altitude, onde se passam duas noites. Ali existe uma clínica médica tocada por voluntários, que ajudou muito a reduzir a mortalidade de alpinistas e trekkers acometidos pelo “mal da montanha” (mais adiante falo sobre isso).

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Cuidado com o montinho marrom no chão...

Mais algumas horas de caminhada, chega-se a Lobuje (4900m).As descrições deste lugar são assustadoras. Lobuje é um lugar soturno, repleto de alpinistas, sherpas e barracas, e de uma imundície espetacular. Os banheiros transbordavam de fezes e tinham aspecto tão abominável que a maioria preferia fazer as necessidades a céu aberto.

Pilhas de fezes humanas espalhadas por toda a parte tornava impossível não pisar nelas. Um rio de neve derretida no meio da aldeia era na verdade um esgoto a céu aberto. Pulgas e piolhos infestavam os colchões do alojamento. Para aquecer, queimava-se esterco seco de iaque. Dadas as condições de higiente, diarréias impiedosas são comuns.

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Uma mistura de bois com touros em um lugar congelante, apresento-lhes os Iaques

Lobuje situa-se à beira do glaciar do Khumbu. Glaciar é uma espécie de rio permanentemente congelado, e este é a entrada do vale situado entre o Everest e o Lhotse, começo da escalada.

Porém, não é tão simples de ser atravessado. A latitude desta região é tropical, então a temperatura varia muito entre o dia e a noite. Essa variação faz com que os blocos de gelo do glaciar tornem-se relativamente móveis. É preciso extremo cuidado ao caminhar...

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Rumo ao acampamento base. Você vai ler mais sobre ele na segunda parte.

... Logo mais, a segunda parte desse artigo com a continuação do que significa a odisséia de se escalar o Monte Everest. Será que alguém aqui já se animou ao ler esse início?


publicado em 14 de Janeiro de 2008, 10:31
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Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.


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