Houve uma época em que as coisas eram diferentes. Nossos personagens favoritos eram jovens, estavam prontos para arriscar, eram sedentos por vida, tão inexperientes e ousados como nós mesmos.

Vejam o Mickey, por exemplo. Nascido em 1928. Ainda estava longe do seu casamento morno com a Minnie, domesticado pela rotina de ser uma estrela do mundo Walt Disney. Não, ele ainda não era só um anfitrião, dono de um clube frequentado pela alta sociedade dos desenhos animados. Ele estava longe de ser esse administrador tão preocupado com sua auto-imagem.

Malandro o ratinho? Imagina…

Fico me perguntando, o que terá acontecido com esse Mickey que foi para a cadeia, rodou o Mississipi num barco à vapor, caçou fantasmas e exumou cadáveres? O que terá acontecido com esse Mickey que não tinha pena de maltratar um gato para tirar um som maneiro? Aquele que tinha pulso para puxar sua fêmea pela calcinha, somente para tê-la perto de si? Não sei.

Acreditem, o Mickey já foi gente como a gente. Já foi buscar sua mina em casa para dar uma volta, já enfrentou o trânsito, já foi artista e teve de tocar para seus fantasmas na solidão da noite. É, neste tempo ele não tinha cerimônias e encarava qualquer desafio, sempre encontrando soluções para os problemas do cotidiano. Como ele, quem nunca teve que pisotear um porco para provar sua virilidade à namorada enquanto enche um pneu?

Mas nem tudo eram flores, ele já passou por momentos difíceis. Nosso amigo também já foi miseravelmente rejeitado e teve de provar seu valor, mesmo depois de tantas proezas. Sim, a Minnie já trocou-o por outro e, mesmo ele, já chorou por amor.

Leia também  Eu vi Paul McCartney de perto

Por pura saudade, resolvi compartilhar alguns episódios do Mickey de raiz, do tempo em que ele dançava e cuspia preto. Do tempo em que não via problemas em tomar uma cerveja e fumar um cigarro.

Sim, Mickey, tenho saudades de quando você era broder.

Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no <a>Youtube</a>