Estreou esse mês o podcast Sobre o prazer deles no catálogo do GloboPlay. O Podcast aborda a sexualidade masculina por uma perspectiva interseccional criando diálogos sobre muitos temas que não cabem na mesa do bar.
O time de apresentadores incluem o Uno Vulpo, médico, homem cisgênero bissexual, que trabalha com foco em sexo, gênero e redução de danos em drogas; Lucca Najar, que é um homem trans, criador de conteúdo, cineasta e editor de vídeo e o Leandro Neko, um homem cisgênero heterossexual, podcaster, produtor musical e escritor.
Os episódios são lançados semanalmente até agora, os três primeiros contaram o Pedro Figueiredo, fundador do MEMOH, falando sobre as pressões que se espera de um homem na cama; Rafael Zulu e Fábio Sousa falando sobre objetificação de homens negros e Paulo Correia levantando a pauta “beijei um homem e agora?”.
No universo masculino, ainda são muitos os tabus sobre a sexualidade. Nas conversas de bar está permitido “se gabar”, performar o papel de “transudo”, ativo, desejante. Mas ainda há muitas coisas que são difíceis de se falar. Faltam espaços para os homens falarem com sinceridade e segurança sobre dúvidas e aflições.
Uno Vulpo, comentou em entrevista ao PDH a importância de fomentar diálogos que consigam chegar em diferentes públicos.
“Eu sempre fui muito tímido, tinha dificuldade de falar com amigos sobre as minhas dúvidas, e eu fui, dentro da minha formação [como médico] para um contexto oposto. Eu virei uma pessoa que fala de sexo de todos os jeitos possíveis.
Eu venho de família extremamente conservadora, religiosa, cristãos. O que eu sentia falta era uma abordagem didática e também gentil da pauta. Que conseguisse chegar em todo mundo, desde uma pessoa que já tem uma boa familiaridade com o tema, até chegar numa pessoa religiosa, que não é tão “de boa” para pensar sobre o tema.”
O podcast nasce como um puxador de conversa, um conteúdo que fala sobre diversos temas, trazendo vozes múltiplas e diferentes para dar conta de representar a diversidade dos homens e das masculinidades. Para Lucca Najar, esses espaços seguros são super importantes para que os homens, nos seus mais diversos recortes, possam se sentir confortáveis diante tanto das suas questões individuais, como das pressões externas.
Lucca que passou a adolescência como uma mulher cisgênera e lésbica, conta que a partir da sua transição, os grupos de conversas sobre masculinidades foram espaços essenciais para refletir sobre os comportamentos que se esperam de um homem e quais ele quer ou não reproduzir.
“Como eu performo essa masculinidade? Como eu performo isso na cama, por exemplo? A primeira coisa é entender que o meu corpo, enquanto homem trans, é muito diferente do corpo de um homem cis. A partir dos grupos, e do apoio de outras pessoas que estavam vivenciando isso também, você entende que está tudo bem, que ninguém está te julgando, em que está todo mundo tentando ou melhorar ou evoluir ou entender melhor sobre o que é ser homem e que homem ser.”
Quais temas os homens precisam trazer para a roda de conversa?
Seja no bar, na mesa de jantar, ou num espaço mais reservado com o seu melhor amigo, muitos assuntos seguem atravessando a vida e as experências dos homens, mas não são compartilhados.
Perguntamos aos apresentadores quais era os temas que, para cada um deles, era essencial de ser conversado. Leandro destaca que queria muito abordar no programa a “pressão para ser um homem transudo“
“Eu sinto que é bem importante falar da pressão para ser o cara que quer “sempre transar”. Quando você conversa com outros homens, a gente vê que muitos também não se sentem bem nessa postura, e que eles podem passar se sentir à vontade entendendo que não precisa ser isso.”
Para Lucca, um assunto muito importante diz respeito a tirar o falo (vulgo, o pênis) do centro da identidade e performance masculina. Uno comentou que uma provocação que sempre gosta de trazer é a relação dos homens, independente da orientação sexual, com o próprio prazer anal.
O médico ainda comenta que um dos maiores desafios de se falar sobre sexualidade, é trazer os temas a tona sem reforçar regras e manuais de certo e errado.
“A gente vê pessoas que falam sobre sexualidade na internet ensinando maneiras, como se as pessoas precisassem de habilidades técnicas para saber dar prazer pro outro. Precisa do jutso de Naruto para conseguir transar, enquanto a sexualidade é uma troca de prazer corporal que pode ser muito mais explorativo e orgânico do que uma coreografia de posições.
O próprio kamasutra é mais uma filosofia do que um manual de posições. A ideia seria “explore as posições que vocês conseguir, mas não precisa fazer o 69 dessa forma”
Se no podcast os três apresentadores tratam de temas, do amor ao sexo, com muita fluência, eles confessam que nem tudo é simples de ser falado. Uno relata que, na data da estreia do podcast, ele nunca havia sentado com a mãe para dizer a ela que ele é um homem bissexual.
Lucca analisa que é mais tranquilo falar sobre os temas de uma perspectiva impessoal, mas que quanto esbarra em vulnerabilidades e experiências pessoais, tudo fica mais sensível.
Os apresentadores ressaltam que um dos principais desafios dos podcast é conseguir se comunicar numa linguagem que sejam convidativa e que faça sentido para vários tipos de homens, sendo que isso só é possível a partir da presença diversa dos convidados no Podcasts.
Na conversa com os três, vemos como alguns recortes desenham pontos em comuns e diferentes da experiência de cada um: Neko e Uno compartilham experências o tema é diálogo sobre sexualidade num lar religioso; já Lucca e Uno trocam muitas experiências sobre crescer como um adolescente LGBTQIA+.
O que vem por aí?
Sabemos que os próximos programas ainda vão trazer muitos temas sobre quebrar silêncios das masculinidades, saúde sexual, superar inseguranças e rever preconceitos que atravessam homens diferentes de acordo com suas características.
Para quem quiser ouvir, o podcast está na plataforma do GloboPlay.
Estamos ansiosos por acompanhar e trazer algumas das discussões para dialogar com vocês.
Vamos abrir a roda de conversa?
Para você, que tema da sexualidade ainda é um Tabu?
Qual tema você sentiu falta de poder conversar durante a vida?
E qual tema você gostaria de poder falar com seus amigos numa conversa de bar?
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.