Os grupos para homens autores de violência representam uma das formas mais eficazes de reduzir as agressões contra meninas e mulheres.
Em 2019, passou a constar na Lei Maria da Penha que, quando determinado assim por um Juiz, o homem é obrigado a frequentar o grupo como medida protetiva ou como parte da pena.
Há quem diga que recomendar a um homem que agrediu sua mulher que frequente essas rodas ou aulas é pena muito leve, quase como “premiar o crime”. Mas é o contrário disso.
Para entender como um grupo reflexivo pode sim ser uma ferramenta que evite crimes e beneficie as mulheres, é preciso saber um pouco mais sobre como eles funcionam.
Aqui vão alguns pontos:
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Os grupos são recomendados a réus primários que foram denunciados por violências de menor risco à integridade da mulher.
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Muitas vezes a recomendação é para homens que estejam sob medida protetivas (que não necessariamente foram julgados ou condenados).
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Frequentar os grupos aos grupos pode evitar violação de medida protetiva, reincidência de violência ou retaliação contra a mulher que denunciou.
Em casos de violência doméstica, reincidências são frequentes. Mais que isso, a cada novo episódio a violência tende a se tornar mais grave. Assassinatos geralmente acontecem depois de uma espiral crescente de violência. Impedir que um empurrão se repita salva vidas.
Dá resultado?
Sim. Segundo dados do grupo Tempo de Despertar a reincidência caiu de 65% para 2%. Na pesquisa de mestrado do Juiz Álvaro Kalix Ferro, a reincidência cai de 43% para 10%.
Mas e na prática, como as rodas funcionam?
Nesse vídeo feito pelo Mov Uol, a equipe filma a realidade de um grupo reflexivo para homens autores de violência:
É um cenário da vida real. Dá pra ver que os homens em roda aproveitam as deixas para fazer piadas sobre o caso extraconjugal de um, sobre a sensibilidade do outro e, quando perguntados, muitos levantam a mão para dizer que sim, que se sentem vítimas.
O objetivo dos grupos é inverter essas percepções, para que os homens entendam a responsabilidade sobre os próprios atos, entendam como eles sempre podem escolher como agir e que existem outras alternativas que não a violência.
Ao longo dos vários encontros (cerca de 12) a profissional que faz a mediação vai conduzir os homens a falarem sobre vários assuntos: divisão das tarefas domésticas, consentimento sobre sexo, segurança financeira das mulheres, entre outros temas.
No vídeo dá pra ver bem que a mediadora conduz. Ao invés de entregar um manual de como agir corretamente, ela levanta pontos para que eles, os homens, falem. Ela faz perguntas estratégicas (interrompe quando necessário) permitindo que os alunos reflitam e concluam por si em que erraram e como é possível agir diferente.
Aqui nesta entrevista, o professor e pesquisador Adriano Beiras fala sobre a história e desenvolvimento dos grupos reflexivos com homens e sobre a importância dessa palavra: reflexivo.
Por que falamos "homens autores de violência" e não "agressores"?
Com a palavra, o Professor Adriano Beiras:
"A importância é desvincular a ideia de violência da identidade masculina.
Falar homem autor de violência (HAV) é dizer que se cometeu um ato. Este ato não está preso à sua identidade e pode ser separado dela.
As masculinidades acabam se constituindo a partir de alguns vetores importantes que são construídos socialmente: vetores como prover um lar, trabalho, paternidade e, também, a violência.
Em nossa sociedade, há uma construção social que sugere que 'quanto mais violência eu exerço, mais masculino eu pareço socialmente.' Isso acaba por vincular a identidade masculina à violência, mas que outras expressões de masculinidade podemos ter socialmente?
Pensar em Homens Autores de Violência é trabalhar na responsabilização de seus atos e nas possibilidades de encontrar outras formas de solucionar conflitos que não seja de forma violenta."
Como conversar com homens sobre violência contra mulheres?
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O livro oferece caminhos práticos para dialogar com quem sofreu e também com quem cometeu abuso, explica o que é o ciclo da violência e indica sinais comuns de abuso.
Situações de violência em um casal são relacionais, mais profundas e complexas do que aparentam à primeira vista, e cabe bastante atenção ao mergulharmos nas nuances desse tema.
Ouvimos diversos especialistas com experiência direta na condução de grupos reflexivos com homens autores de violência, como Adriano Beiras (Instituto NOOS), Sérgio Barbosa ("Tempo de Despertar") e Flávio Urra (grupo "E agora, José?").
Além disso, conta também com um mapeamento nacional com mais de 50 grupos reflexivos para homens autores de violência, realizado em parceria com o professor e pesquisador Adriano Beiras, da UFSC.
Caso você não possa participar de um desses grupos, por qualquer motivo, o livro inclui um guia de como montar um desses grupos reflexivos na sua cidade.
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