Desde que o Projeto Homem Paterno nasceu, tive a oportunidade de trocar experiências e ouvir mais de 300 homens/pais nas rodas e cursos presenciais no qual facilitei.

Na contramão das estatísticas alarmantes sobre abandono paterno e violência doméstica em nosso país, está claro para mim que existe um movimento que busca por uma forma diferente de paternar. É incrível ver cada vez mais homens reconhecendo já na gestação, no parto e no puerpério, a oportunidade para uma transformação positiva das masculinidades.

Conversando com meu amigo Guilherme Valadares, surgiu a ideia de escrever um artigo relatando meus principais aprendizados, tanto pessoalmente quanto profissionalmente, e assim quem sabe, encorajar mais homens a criarem projetos que ofereçam orientação e suporte para homens desde o início da paternidade.

Escolhi três aprendizados para compartilhar. Então vamos lá:

1. Engajar homens não é fácil, mas é possível e necessário.

Quando comecei o projeto, não existiam ainda os cursos “Gestação e Parto para Homens” e “Puerpério para Homens”, atualmente minhas principais formas de atuação.

As primeiras ações realizadas eram rodas paternas, onde o objetivo era oferecer um espaço seguro, ético e acolhedor para que homens pudessem ouvir e falar sobre os desafios, alegrias e dores que estavam vivenciando na gestação e no puerpério.

Sentia que era necessário criar uma verdadeira rede de apoio paterna, algo que senti muita falta no início da minha paternidade.

Tudo me parecia muito empolgante, motivador, principalmente após realizar com sucesso o primeiro “Círculo do Homem Paterno”, onde cerca de quinze homens participaram. Assim que acabou o encontro, pensei: “Se o primeiro já foi assim, então não será tão difícil engajar homens”. Doce ilusão!

Nos encontros seguintes, quando três homens compareciam era muito. Houveram algumas vezes onde ninguém apareceu, o que trouxe baldes de frustração. Isso foi bem difícil de lidar, principalmente porque sentia que meu trabalho, meu propósito, era legítimo e relevante. 

Decidi então que não iria desistir, mesmo com a falta de grana que se instalava após deixar a estabilidade de um emprego fixo, e com a desconfiança por parte da família que, mesmo me admirando, não conseguiam visualizar nesse trabalho uma fonte de renda que suprisse as necessidades.

As contas não paravam de chegar e as coisas estavam começando a ficar pesadas para minha parceira.

Foi necessário muita persistência e resiliência nesse início, até que com o tempo, o projeto começou a ganhar mais relevância nas redes sociais, principalmente após um texto meu ser compartilhado aqui, no PapodeHomem, e posteriormente ser convidado para participar de uma mesa de conversas no evento “PAI: desafios da paternidade atual” realizado também pelo PdH. Além disso, tive o privilégio e a honra de participar do documentário “O Silêncio dos Homens”. 

Aos poucos ficava cada vez mais claro que era possível seguir nesse caminho, pois já existia um movimento de homens que estava abrindo novos caminhos.

De lá pra cá muita coisa mudou, mas engajar homens ainda é um desafio.

Cerca de 70% dos seguidores do projeto Homem Paterno no Instagram são mulheres e uma parcela grande das inscrições dos cursos também são efetuadas por mulheres, no intuito de presentear seus parceiros. 

Independente de onde venha  iniciativa, hoje enxergo que o mais importante é ver as transformações geradas quando homens se unem em pró de uma paternidade integral.

 

2. Olhar para nossas referências paternas é fundamental para decidirmos o que queremos e não queremos replicar.

A falta de referências paternas positivas infelizmente é mais comum do que imaginamos, e isso pode ter uma forte e negativa influência em nossas construções, pelo menos essa é minha percepção após ouvir centenas de homens.

Importante dizer que ter um referência negativa não é determinante, afinal, não podemos ter uma visão reducionista sobre a incrível capacidade do ser humano de se reinventar.

Tudo isso veio numa sequência que me oprimiu até o dia que eu escutei minha esposa dizer "Eu estou grávida". Pronto, eu vou querer para os meus filhos, coisas boas. – Depoimento do O Silêncio dos Homem

Ausência total ou parcial do pai estão presentes na maior parte dos relatos. Também existem os que trazem presenças tóxicas, pautadas no autoritarismo, agressividade e falta de afeto. Equidade de cuidados passa longe. Outro ponto em comum a muitos homens, é enxergar no pai uma figura com um único atributo, ser provedor, e nada mais.

Leia também  O que aprendi em 10 anos guardando rancor

Olhando para este cenário, vejo que trazer dinâmicas que convidem os participantes a refletir de forma profunda sobre o que se deseja e o que não se deseja replicar, é o primeiro passo na preparação de grupos de homens para a paternidade. 

Quando um homem  acessa e verbaliza suas histórias, suas alegrias e suas dores, criamos um espaço de vulnerabilidade, onde a empatia brota com naturalidade e o acolhimento surge como caminho. E garanto: isso é transformador.

Foto de André Luís  @andreluis_me | Belo Horizonte
Foto de Hugo Costa @hgcosta | Niterói

3. Adquirir conhecimento sobre gestação, parto e puerpério é fundamental.

Como já mencionei, no início do projeto Homem Paterno o foco era apenas a realização de rodas paternas visando a troca de experiências. Porém, com o passar do tempo, comecei a identificar que os homens que ali estavam também sentiam a necessidade de ampliar o repertório emocional e prático para lidar com o que estava por vir. Buscavam conhecimento. 

Quando me deparei com esse cenário, acessei o início da minha paternidade — lá na gestação — e concluí que se naquela época eu tivesse mais conhecimento sobre as transformações físicas e psicológicas que minha parceira estava vivenciando, somado ao conhecimento profundo sobre o meu lugar no parto e no puerpério, com certeza as coisas teriam sido mais leves.

Importante dizer que historicamente em nossa cultura, gestação e parto sempre foram “coisa de mulher”, ou seja, nós homens não sabemos de praticamente nada. Puerpério então, nem se fala.

A partir dessa demanda, nasceram os cursos sobre gestação, parto e puerpério para homens, onde o foco é justamente criar, por meio do conhecimento, uma ponte para uma paternidade mais empática e consciente das necessidades e prioridades específicas dessas fases.

Quase todos os dias recebo relatos tanto de homens quanto de mulheres sobre como o conhecimento tem sido fundamental em suas jornadas. Além de trazer mais segurança e lucidez para vivenciar estas fases, que naturalmente são desafiadoras, o conhecimento tem sido a base para relações mais empáticas, equitativas e afetuosas.

Foto de Ana Reis @fotografiasquepulsam | Belo Horizonte

 

Foto de Clara Fernandes @iluminarpartos | Florianópolis

Como está sendo a sua experiência paterna durante a gestação e puerpério?

Com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre esse crescente movimento paterno, surgiu a ideia de realizar uma pesquisa justamente sobre como é ser pai dentro dessa nova perspectiva, com foco nos períodos da gestação, parto e puerpério.

  • Quais os principais desafios?
  • Quem são nossas referências paternas? O que se deseja replicar?
  • Quais os sentimentos mais presentes?
  • Como nós homens estamos nos relacionando com as mulheres, com as mães?

Norteado por essas perguntas, convido você, marujo, para responder esse questionário e assim contribuir para a construção de caminhos mais positivos e sólidos em relação à paternidade.

Após o término dessa pesquisa, será elaborado um relatório que estará disponível aqui mesmo no site do Papo de Homem e no site do Projeto Homem Paterno.

Bora navegar juntos e conscientes nesse oceano altamente desafiador, mas igualmente transformador que é a paternidade?

Para participar da pesquisa basta clicar no link e acessar o formulário. Prometo que será bem rápido.

Acessem www.homempaterno.com.br e o Instagram @homempaterno e conheça tudo que está está rolando. Em maio será lançado o curso Puerpério para Homens Online.

Sintam-se fortemente abraçados

Tiago Koch

Idealizador do Instagram <a>@homempaterno</a>