É muito comum ouvirmos que os homens estão muito confortáveis com seus privilégios e que não estão interessados em mudar nada, que o mundo como está já é bom o bastante pra eles.

Aqui no Papo de Homem nosso discurso costuma ser bem diferente disso. Nós vemos diariamente muitos homens que querem, sim, ver um mundo melhor e que acreditam que isso passa por eles próprios se transformando, aprendendo a ser mais empáticos, compassivos, generosos e lúcidos. Por isso, acreditamos que há um longo caminho aberto para a transformação dos homens.

Em outubro de 2018, a equipe do Papo de Homem se deslocou inteira pra Brasília para ver isso acontecendo na prática.

Lá, durante os dias 19, 20 e 21 de outubro, aconteceria o 1º Grande Encontro Homens em Conexão, um encontro nacional feito para reunir grupos de homens do Brasil inteiro. 100 homens de todos os estados do Brasil e até do exterior, unindo-se ao propósito de cultivar masculinidades conscientes, como eles afirmam.

"Nossa missão é incentivar a conexão consciente entre homens com uma linguagem nova e espontânea, criando um espaço de confiança, força e amorosidade masculina para proporcionar elementos de cura."

O Homens em Conexão surgiu com a aspiração inicial de ser um grupo de estudos sobre o documentário The Mask You Live In por meio do Whatsapp, mas também para unir os diferentes grupos de homens que já existem no DF, como a Casa dos Homens, Guerreiros do Coração, Clã Lobos do Cerrado, Masculinities e Diamante Bruto.

O evento é uma manifestação dessa missão e uma forma de ampliar ainda mais as sementes do propósito do grupo. 

Assim que chegamos ao aeroporto e entramos em contato com outros membros para organizar os grupos de carona já era possível sentir o clima do evento. Assim, de cara, já nos vimos de fato precisando estabelecer conexões com outros homens.

Dali, pegaríamos a estrada até o Refúgio Cristão, local do evento que fica a 40 km de Brasília.

No caminho, o GPS não marcava precisamente a entrada do lugar, que era bem pequena e escondida. Assim passamos da entrada, chegamos a nos perder e demoramos bem mais do que o esperado. Uma viagem que era pra ter sido feita em menos de uma hora acabou nos custando umas 2 pra 3hrs, entre idas e vindas e paradas para tentar nos localizar.

Chegando ao Refúgio Cristão já à noite, o lugar era bem lindo, com bastante verde e longe o suficiente para sequer dar para ouvir a estrada. Isso, somado à ausência de sinal de celular e a sensação era de estar entrando em um retiro. 

Após o jantar e a primeira dinâmica, que reuniu os grupos tribais (como eles chamavam os grupos que se acompanhavam pelo evento inteiro), começou a cerimônia de abertura que já deu o tom de como seria o resto do evento. Acenderam uma fogueira e, em seguida, começamos a entoar alguns cânticos indígenas. Depois, foram convidados 4 participantes que se tornariam guardiões da chama. A fogueira seguiria acesa até o final do evento, representando essa força masculina interior de cada homem ali presente.

No dia seguinte, pudemos nos inscrever em workshops bastante variados. Havia dinâmicas em várias linguagens, das mais místicas, como abordagens que envolviam animais de poder xamânicos, algumas mais artísticas com aspectos de storytelling e jornada do herói, outras mais ancoradas no mundo concreto, como uma que tratava de finanças, passando por outras mais de corpo, como a de TRE (Trauma Release Therapy).

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Eu, como me considero um cara mais cabeçudo, resolvi me desafiar participando de umas abordagens menos discursivas, como a de TRE e uma outra de constelações sistêmicas. É bastante impressionante observar como há outros caminhos para se acessar camadas emocionais profundas que não apenas o processo discursivo das terapias "comuns". Fiquei bastante impressionado.

Esses workshops também eram acompanhados de momentos mais tranquilos, como caminhadas/corridas pelo mato, banhos de rio e sessões de meditação ativa. 

Um dos momentos mais potentes do evento foi o que eles chamaram de Roda do Coração. Trata-se de um púlpito que eles colocam em frente à plateia que é o próprio público do evento. A iluminação, em um tom avermelhado, é bastante forte e colocada por trás da plateia, de maneira que lá na frente você não consegue ver os rostos de quem está assistindo, apenas as silhuetas. Assim, cada um deveria ir ao seu tempo até o púlpito e falar algo na linha de "Meu nome é Fulano e se você realmente me conhecesse, saberia que…".

O que ouvimos foi uma sucessão de confissões profundas e histórias de vida que nós, acostumados ao segredo e à superficialidade, jamais poderíamos imaginar vindo de homens que estavam ao nosso lado, muitas vezes, sorrindo e brincando.

É algo que, se olharmos bem, se assemelha bastante à forma como vivemos, disfarçando feridas e traumas com piadinhas superficiais. Claro que ninguém precisa viver no modo dramalhão o tempo inteiro. A ludicidade é um aspecto maravilhoso da vida e traz uma alegria imensa. Mas os homens, enquanto seres que seguem uma cartilha de dureza e isolamento emocional, certamente fariam bom uso de oportunidades de se abrir feitas de maneira consciente como essa.

Aquela foto pós-evento para mostrar as caras de felicidade

Para nós, o Homens em Conexão foi uma experiência bem intensa que movimentou algumas mudanças internas que estavam engatilhadas. Foi muito interessante ver outras abordagens sobre o masculino sendo colocadas em prática. Foi bem bonito também ver como uma semente acabou sendo plantada e vários homens se comprometeram a formas outros grupos nos lugares de onde são.

Gostaríamos também de agradecer ao convite do Fernando Aguiar e a todos os membros da comissão organizadora, Paolo Chirola, Fábio Barros, Leonardo Figueiredo, Virgílio Andrade, Ebert Duran, Paulo Amorim e Rafael Gonçalves. Valeu demais pela experiência incrível!

Saímos inspirados, cheios de novas ideias, com energias e a crença na própria missão do PdH renovadas. 

Esperamos estar lá de novo em 2019!

Para mais informações sobre o Homens em Conexão, visitem o site oficial e se inscrevam na newsletter. Por lá eles avisam das novidades e você também pode se preparar para os próximos encontros.

Redação PdH

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