Entrou literalmente com o pé na porta. Usava botas de motoqueiro, um jeans apertado e surrado combinando com a barba espessa e desgrenhada, com o nariz adunco, meio torto para a esquerda, provável resultado de algum sopapo mal desviado.

Penetrou, claro, o corredor inicial, marcando território por entre as mesas com respingos da chuva que havia tomado do lado de fora, rindo e arfando, quase latindo, os dentes de fora, os olhos injetados escaneando o local como que se procurasse o perigo, como se escarafunchasse o rosto de cada um buscando julgamento alheio. Enfiou seu corpanzil da entradinha até o útero do balcão. Esfregou-se na madeira, pélvis e cotovelos e barriga inchada. Com os nós grossos dos dedos, bateu no tampo do bar solicitando a imediata atenção do barman. Aguardou impacientemente a aproximação do tal e pediu um duplo e, óbvio, sem gelo. Ressaltou o "óbvio" enquanto baixava os olhos para olhar para si como se sua figura robusta fosse o suficiente para dizer, sem precisar falar, que ele não era dos que gostavam de se refrescar.

Tomou sua bebida em duas goladas secas e pediu outra rodada, enquanto arrotava e sentia a labareda correr do esôfago para o fundo da garganta áspera. Deu uma larga risada enquanto ajustava o pau dentro da cueca e olhou em volta mais uma vez, buscando incômodos. Mas ninguém olhou para ele. Mais uns minutos e chegaram mais um par de amigos, todos brucutus, todos barulhentos. Juntos, confraternizaram e derrubaram uns copos no chão, espalharam cascas de amendoim torrado pela superfície do balcão todinha, trocavam croques e empurrões, se elogiavam com xingamentos, trocavam salivas quando berravam na cara um do outro, fazendo perdigotos alcoólicos e densos pousarem nos lábios uns dos outros.

Macho não reclama de uma dorzinha.

Em dado momento, nosso intrépido herói sentiu a bexiga apertar. Perguntou se alguém estava indo ao banheiro, pediu que alguém levasse sua rola até lá para mijar e, entre gaitadas e gozação, pediu licença e foi ao toalete. Minutos depois, um dos amigos também sentiu uma fisgada e aquele começo de ereção e foi também tirar água do joelho. Foi até o WC masculino e não viu ninguém no mictório. Das duas cabines com vasos sanitários, uma tava escancarada e a outra meio encostada. Embriagado e cheio das graças, o amigo chegou com os ombros chocando contra a porta, na esperança que essa desse contra as costas do colega mijão. Mas acontece que ela deu em cheio nos joelhos do cara! Isso porque ele não imaginava, nem em seus sonhos mais molhados, que seu parceiro pudesse estar mijando sentado, com as calças arriadas, o pinto para dentro da privada, pernocas juntas, olhinhos fitando a ponta das botas sujas de motoqueiro lá no chão. "Caralho, que cê tá fazendo aí, cara?", indagou, incrédulo, o amigo do barbudo. "Porra", ele respondeu com uma parcimônia não condizente com o seu eu de poucos minutos, "não quero sujar a calça né. Tô bêbado. Vai borrifar tudo". O Amigo teve de concordar com essa.

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Homens.

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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados