Mais que dizer um “feliz dia das mães”, faça uma mãe feliz o ano todo mudando algumas atitudes importantes

“Toda mãe é sagrada”, mas o que é esse sagrado? Como cuidamos das mães na nossa sociedade, olhando muito além do dia das mães?

Tantas vezes as pessoas proferem palavras sobre maternar ser algo lindo, sagrado, divino… No entanto essas palavras caem num vazio quando olhamos para a realidade não do dia das mães, mas do dia-a-dia das mães. No cotidiano, as mães são constantemente esquecidas, sobrecarregadas, excluídas, cobradas e julgadas.

No mercado de trabalho, 50% das mulheres são demitidas após, aproximadamente, dois anos da licença maternidade (segundo estudo da FGV com mais 247 mil mães).

Enquanto quase metade dos homens dizem que estão sendo responsáveis pela maior parte ou por toda a educação dos filhos em casa. Só 3% das mães concordam. (The New York Times, 2019)

Então, nesse dia das mães, queremos ir além da celebração.

Claro, desejamos que você passe um dia alegre, com a sua mãe, com a mãe dos seus filhos, ou com qualquer mãe que seja querida por você. Que você distribua “parabéns”, um presente carinhoso ou um cartão. Mas feito isso, que a gente possa olhar para outras questões que atravessam e atrapalham o cotidiano das mulheres que maternam.

Para isso selecionamos 8 frases que, mais do que apenas palavras, formam retratos de pensamentos que sobrecarregam, chateiam e excluem as mães.

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1. “Quem pariu que o carregue” ou “toma que o filho é teu”

[dita por amigos, parentes e outras pessoas]

Por onde começar com essa frase?

Podemos comentar primeiro que maternidade não é sinônimo de parto e, indo além disso, é preciso entender que a responsabilidade de criar a criança nunca é exclusiva da mãe, é de todos os responsáveis por aquela criança (mãe & pai/ mãe & mãe/ pai & pai ou outros)

Dando mais um passo a diante nessa conversa, precisamos falar sobre como uma criança vai além do casal, da família nuclear. A criança faz parte de uma coletividade social e é preciso ter, em vários espaços dessa coletividade, estrutura para compartilhar o cuidado dessa criança: creches, espaços e cuidadores para elas em espaços de trabalho, de sociabilidade, e também, o famoso cuidado da rede de apoio. 

Podemos trocar essa frase por:

“Precisa de ajuda? Eu posso te apoiar por algumas horas”

2. “Eu até ajudo…”

[Dita pelo pai]

Esta é frase paterna que ninguém aguenta mais.

Os amigos, aqueles da rede de apoio que levam a criança pro cinema no final de semana, esses são os que até ajudam. Mas o pai tem de ser o co-responsável pela criança. Apenas ajudar não é o suficiente. O pai deve ir além de ser um ajudante paralelo, é preciso compartilhar integralmente das diversas tarefas que uma criança demanda.

Podemos trocar essa frase por:

“Eu cuido integralmente porque essa é minha obrigação como pai”

3. “Pergunta pra sua mãe”

[Dita pelo pai]

Essa é uma frase clássica dita por pais que não estão envolvidos suficientemente no cuidado de seus filhos. Eles até podem ajudar, mas as decisões, as resoluções de problemas e até as repostas mais simples como “onde está a mochila da criança” caem no limbo do “pergunta para sua mãe”.

Esse tipo de comportamento reflete a sobrecarga mental das mães, que, mesmo quando compartilham a execução de uma ou duas tarefas, tem de planejar, gerenciar e supervisionar todas. 

Claro, decisões precisam ser compartilhadas, mas ai a frase a ser dita é “eu e sua mãe vamos conversar sobre isso”, se colocar de fora da conversa, é despejar a responsabilidade da decisão sobre outros ombros. 

Podemos trocar essa frase por:

“Espera um minuto que eu vou pensar /procurar/ pesquisar/ entender como faço e já te respondo”

4. “Com quem você deixa seus filhos enquanto trabalha?”

[Dita por recrutadores, chefes, pessoas dos ambientes de trabalho]

Essa frase reflete muito a exclusão das mães no mercado de trabalho e a diferença no tratamento de gênero. Raramente se pergunta a um homem — seja numa entrevista, numa promoção ou numa atribuição de tarefa — se ele é pai, se pretende ser e como isso impacta sua rotina de trabalho.

Existe um subentendido, pela desigualdade de cuidado típica da nossa cultura, que o pai não é o principal cuidador de uma criança, portanto, ainda que aquele profissional tenha filhos, isso até pode fazer dele um “homem mais comprometido com o trabalho porque é preciso prover”, mas não se supõe que este homem participa de um dia a dia de cuidados que requer planejamento e horas de dedicação.

Quando o papo é com a mãe, “ter filhos” passa quase a ser lido pelo mercado de trabalho como “falta de disponibilidade”.

Isso revela dois pilares muito importantes do problema de gênero: I) sobrecarga de cuidado despejada sobre as mães e II) a exclusão da maternidade no mercado de trabalho.

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Sim, mulheres que são mães vão precisar de alguma flexibilidade para dar conta dos filhos, se os pais estiverem sendo parte desse cuidado, menor será a demanda sobre as mães. Além disso, as corporações tem que entender que homens e mulheres tem famílias e precisam dedicar cuidado a estas famílias, isso não faz deles profissionais menos competentes, ao contrário, todo um novo conjunto de competências é adquirido quando mães se tornam mães 

Podemos trocar essa frase por:

“Se você tiver filhos, vamos pensar em soluções e estruturas para te dar o suporte necessário”

5. “Ninguém mandou ter filho”

[Dito por qualquer pessoa]

Essa é uma frase que basicamente culpabiliza as mães por suas maternidades. Dita por empregadores, familiares, amigos, é uma forma de fechar os olhos para o abandono que a sociedade despeja sobre as mães, e resumir o problema a uma escolha individual.

“Você quis ter filhos agora aguenta. Aguente o mercado de trabalho que te descarta; aceite a sobrecarga do abandono paterno, aceite que vive em uma sociedade sem estrutura pública para cuidado compartilhado das crianças, aceite a solidão de estar isolada dos seus amigos.”

Precisamos lembrar que nem todas as mães escolheram ou planejaram ter filhos e que, independente do planejamento da concepção, não é porque elas chegaram à maternidade que terão que aguentar caladas, sem reclamar, as dores e a revolta diante de uma sociedade que não cuida das mães.

Podemos trocar essa frase por:

“Realmente, são muito desafios. Precisamos lutar por mais suporte, se eu puder te ajudar em algo, me avise.”

6. “Isso não é lugar de criança”

[Dito em restaurantes, teatros, espaços de trabalho, casa de amigos]

Acreditar que os únicos lugares próprios para as crianças são a casa dos pais, a creche e os eventos infantis, é segregar a criança e, por consequência, a mãe, de vários ambientes da sociedade.

Claro, as crianças podem ser inquieta num restaurante que não tem nenhuma distração para ela, mas também precisamos entender que é convivendo nesses ambientes que as crianças aprendem a se portar, a interagir com adultos, a crescer em sociedade. 

Todos podemos ser mais empáticos com um choro ocasional, ou com aquela correria entre mesas, coisas normais, de criança. Faz parte! Para humanidade seguir, crianças precisam nascer, chorar, conviver, crescer, e as vezes você vai estar por perto.

Podemos trocar essa frase por:

“Que bom que este é um espaço que acolhe famílias, incluindo os pequenos.”

7. “Eu não chamo porque ela tem filho, aí é difícil”

[Dita especialmente pelos amigos e parentes sem filhos]

É comum que amigos e parentes passem a tratar as mães e pais dos seus círculos de amizade de um jeito diferente. Deixam de chamar para as confraternizações, muitas vezes porque os eventos que eles costumam ir “não são lugar de criança”.

Se a mãe que acabou de ter filho não conseguir ajustar o calendário, arrumar alguém para cuidar da criança e, então, tiver de passa os primeiros convites, logo ela deixa de ser convidada.

Muito raramente se pensa numa forma de confraternizar que possa reunir os amigos com e sem filhos, acolhendo os pequenos, para que esse convívio não dependa de uma escolha, de ficar com amigos ou com filhos

Podemos trocar essa frase por:

“Quero te ver. Pode trazer seu filho, a gente faz algo que seja divertido para ele também.”

8. “Você está fazendo isso errado…”

Não bastasse a sobrecarga de tarefas, a exclusão e a falta de cuidado, as mães ainda são julgadas pelas formas que cuidam dos seus filhos:

“Mima demais”, “se preocupa de menos”, “deixa fazer o que quer”, “não se cuida mais”, “controla demais a criança”.

Se a mãe tiver te procurado especificamente para uma conversa sobre isso, sobre cuidado e estiver pedindo sua opinião, nesse caso específico falas como essas são aceitáveis. 

No entanto, como ocorre na maioria das vezes, se a mãe não te deu abertura e não te perguntou especificamente sobre isso, respeite e não comente sobre as escolhas pedagógicas dos pais.

Não existe fórmula perfeita para parentar e nenhuma escolha vai resolver 100% dos problemas. O importante aqui é entender que escolhas podem ser diferentes e que impor a sua opinião como verdade para tentar ensinar uma mãe sobre como parentar é algo chato, cansativo e ninguém aguenta mais. 

“Você está fazendo o seu melhor e sei que está pensando no melhor para a sua criança também”

“De presente eu quero que essa frase/ação desapareça da face da terra”

Se você é mãe, qual outra frase e ação você gostaria de não ter que lidar nunca mais?

Gabriella Feola

Editora do Papo de Homem e autora do livro <a href="https://www.amazon.com.br/Amulherar-se-repert%C3%B3rio-constru%C3%A7%C3%A3o-sexualidade-feminina-ebook/dp/B07GBSNST1">Amulherar-se" </a>. Atualmente também sou mestranda da ECA USP