Para a maioria dos homens, personagem são mais frequentemente visto como modelos de masculinidades do que professores, educadores, ídolos esportivos, celebridades e homens reais cuja história é conhecida
Segundo a pesquisa “O silêncio dos homens”, que entrevistou mais de 40 mil pessoas no Brasil, os principais referenciais de masculinidades para meninos e homens são: o pai, homens da família, amigos e personagens fictícios.
Chama a atenção saber que os personagens fictícios são referenciais de masculinidades muito citados pelos entrevistados, mais que professores, educadores, ídolos esportivos, celebridades e também mais relevantes que homens reais cuja história é conhecida da pessoa.
Esse dado nos mostra 1)a importância das obras de ficção na vida das pessoas e 2) a importância da representatividade nas obras de ficção.
Que tipo de homens se formaram quando todo o modelo e inspiração de uma geração eram personagens machões-duro-na-queda-poucas-ideias-que-resolvem-tudo- à-base-da-porrada?
Por mais que muitas pessoas resistam ao tema, é preciso notar que o padrão dos personagens, dos heróis, galãs, cavalheiros, mocinhos, detetives, sempre foi retratado na ficção com certas características física: fortes, olhos claros, furinho no queixo, e sobretudo, brancos caucasianos europeus.
É da maior relevância notar (e admitir) que o racismo tirou homens negros (assim como também indígenas, e asiáticos, e árabes) dos espaços de admiração. O funil da representação na mídia, principalmente da mídia antes dos anos 2000 era muito estreito.
A literatura de quem estuda cinema e televisão vai nos mostrar que existe quase que uma pedagogia (uma lição repetida várias e várias vezes) que nos ensina que o belo — branco, caucasiana, forte, de furinho nos queixos e olhos claros — é o mocinho. Aquele que não é belo (ou que não é branco), ou que não é hétero, que é estrangeiro ou que tem qualquer deficiência, só vão existir na ficção como vilões ou como “alívio cômico”.
Todos os que não se enquadrarem no perfil do “homão”, não serão homens a serem admirados, a serem levados a sério. Não estarão na tela para inspiração. E qual as consequências disso para a autoestima de todos os homens que crescem buscando alcançar um ideal que nos os representa?
Uma realidade alternativa
Que mudanças podem surgir a partir de uma geração que passa a ter muito mais referências sobre o que significa ser homem e que tipo de homens é possível ser: galãs negros, brancos, asiáticos; homens sensíveis, analíticos, calmos ou organizados.
Homens românticos, cuidadosos, que sonham não apenas salvar o dia com suas próprias mãos, mas também ser pai e fazer curativos nos joelhos ralados das crianças.
Homens fortes e que choram. Homens que lutam, que tem planos geniais, e que são gays, trans, e inclusive trans e cadeirantes.
Por que falamos tanto sobre representatividade? Por isso. Porque os personagens inspiram e mudam as vidas das pessoas.
Claro, nunca podemos esquecer que a mudança não pode ser só na teoria, não pode depender só da ficção. A ficção está lá, num lugar de importância, mas os homens da família, os amigos ainda são os principais referenciais.
E aí deixamos a pergunta: sendo pais, amigos, irmãos e tios, como podemos ser exemplos (não perfeitos, mas possíveis) de masculinidades mais verdadeiras, autênticas, diversas?
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