Por motivos óbvios, quem compra shampoo aqui em casa é a minha esposa. Como bom homem, eu não faço ideia de como comprar isso e – apesar de sempre ter um dela e um meu – eu normalmente uso o primeiro que encontro na minha frente no banheiro.
Agora mesmo eu estava tomando banho e vi que tinha um shampoo novo. Aí lembrei que ela saiu para comprar ontem, porque o meu tinha acabado. É uma embalagem marrom, escrito “COMPLETE REPAIR” em letras prateadas.
Peguei o negócio por curiosidade e comecei a olhar a embalagem debaixo do chuveiro.
E logo abaixo do nome, estava escrito: “Shampoo Reconstructor“.
Porra, abri aquilo na mesma hora, enchi a mão e comecei a esfregar na careca.
Reconstructor.
Puta palavra fodona, imagina a tecnologia que não tem por trás de um shampoo com esse nome.
Enquanto esfregava o negócio na cabeça, comecei a imaginar sondas eletrônicas microscópicas (não sei o motivo, mas imaginei-as azuis, meio brilhantes, um negócio meio Minority Report) mapeando minha careca, identificando as raízes e fabricando fios de cabelo novos. Ou clones dos fios dos cabelos antigos que ficaram nos ralos da vida.
Esfreguei o Shampoo Reconstructor com força e dedicação. E saí do banheiro certo de que eu teria até franja novamente (“será que se eu esfregasse mais na parte de trás eu teria cabelo comprido de novo? Vale a pena tentar no próximo banho”).
Me enxuguei e me olhei no espelho, ansioso para ver minha cabeleira.
Lá estava eu, careca como sempre – e como eu fico depois que me enxugo, com os cabelos do lado da cabeça em pé, o que me deixa parecido com o Bozo, ou o Galeão Cumbica, ou o Larry, dos Três Patetas, a escolha da referência fica de acordo com a sua idade e seu gosto pessoal.
Ou seja, o shampoo é uma enganação. Ou isso, ou o meu veio quebrado e as sondas eletrônicas não funcionaram.
Mas, porra… Shampoo Reconstructor. Puta nome fodão.
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