O exageros do amor, o sexo abusado e a hipérbole criminosa de querer demais | Cotidiano #8

Peca-se pelo excesso.

Uma amiga gostava dos dois caras com quem ela estava se relacionando. Como sempre acontece, o pega daqui e pega dali fez com que as proximidades ocorressem e, logo, ficou difícil administrar o amor dividido e não aberto com as partes envolvidas. Um deles descobriu que se deitava no mesmo lado da cama que o outro e restou sentar para conversar:

-- Ele é bonito, tem um corpo gostoso, é difícil negar quando ele vem falar comigo.

-- Mas e eu? Eu também te dou tesão, eu também te dou coisas boas.

-- Você é demais, gato. Lindo, a melhor conversa, não consigo me ver não estando com você!

-- Então você me ama?

-- Claro! Amo muito.

-- Eu também, pequena.

-- Só não me pede pra escolher.

O excesso também acaba frustrando ao ter muita sede e pouco pote.

Ouvi dizer de uma moça que, em uma tremenda maré de azar, queria realizar fantasias depois do fim de um relacionamento de muitos anos. Imagine voltar à solteirice, atravessar a fossa e começar a vislumbrar as possibilidades. O mundo pela frente a ser sexualmente desbravado.

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Em uma semana ela saiu com um cara que juravam ser bem dotado. Há tempos que não via outro que não o do ex-namorado e queria mais, muito mais, logo de cara. Era, de fato, enorme, mas lá de cima a outra cabeça não enxergava as vontades da companhia e, ao final, era grande, mas não eram dois.

Na semana seguinte, depois de se recompor da decepção, ficou com essa de dois na cabeça e deu uma vontade danada de dividir a cama com dois homens. Leu que intimidade ajuda, que com desconhecidos fica mais complicado para uma conversa aberta, para que todos entendam as necessidades uns dos outros, que role um um equilíbrio para que seja gostoso pra todo mundo.

Resolveu e chamou dois amigos para uma noite de destilados e musiquinha em sua casa. Bate-papo, risadinhas, confissões e roupas no chão. A cena cinematográfica com ela sentada no sofá e dois caras nus na frente dela.

Eram dois mas não eram grandes.

Já extrapolando e chamando de "amor verdadeiro" algo que é puramente egoísta e criminoso, recebi essa semana um link da Thought Catalog com seis histórias de cônjuges que escondiam uma segunda vida, que levavam uma vida dupla. Delas, ressalto logo a primeira.

Quem conta a história diz que Michael e Jessica se apaixonaram e, mesmo ele sendo um caixeiro-viajante e tendo de ficar semanas fora de casa, se casaram um ano após s conhecerem. Nos sete anos seguintes, eles tiveram filhos e compraram uma casa no subúrbio. Certo dia, Jessica atendeu o telefone e, do outro lado da linha,uma mulher dizia não apenas ser a esposa de Michael, mas que eram casados já há 16 anos e que tinham 3 filhos juntos. Jessica desligou o telefone e rapidamente ligou para Michael, que estava na estrada e negou tudo. No dia seguinte, a conta conjunta na poupança -- que tinha um quarto de milhão de dólares, ou 250 mil Obamas -- estava vazia, sacada até a última moedinha.

Nem Jessica nem a outra esposa ouviram falar do Michael novamente.

Peca-se pelo excesso.


publicado em 20 de Novembro de 2014, 22:10
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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