O dia que o PdH foi julgado (ou "Look do Dia, a batalha final")

Olá, amigos.

Vivemos em tempos de vigiar e punir. Por isso, exercitaremos aqui a vanguarda do pensamento contemporâneo de maneira não muito convencional, afinal, minha área é vestuário. É hora de praticar o exercício número um da internet:

O julgamento!

Sempre que vou ao QG do PapodeHomem, alguém me pergunta se está bem vestido ou tira uma onda em cima da roupa de algum outro camarada.

Vendo essa busca infinita pelo elogio ou tiração de sarro alheia, eis que responderei aos anseios que escuto por lá da maneira mais imparcial possível.

Quem serão os réus?

Os próprios donos, funcionários e colaboradores do PdH.

E quem serão o júri e o juiz?

bruno-passos

Eu!

Flertando com a chance de não ser mais bem quisto na simpática casa de Perdizes, avaliarei as combinações imagéticas de todos para dar 2 pareceres:


  • O bacana;

  • O vacilão.

E vamos ao que interessa, abrindo com o Boss, afinal, chefe que é chefe, nasceu pra dar a cara a tapa antes de todos:

Guilherme Valadares

FOTO-1

O bacana:

A combinação cromática é interessante. Ele escolheu cores sóbrias e, como peça principal, uma camiseta de manga longa azul, a cor mais associada ao trabalho no ocidente.

O Sapato tem matiz próxima a da calça, fato que ajuda muito a harmonizar a combinação e não causa distrações na hora de passar ordens aos seus comandados.

Outro ponto positivo foi escolher uma camiseta com botões, pois eles são associados a trajes mais formais e, portanto, a uma maneira mais imponente de se vestir. Sem estes botões e a cor azul, ele poderia dar a sensação de estar descontraído e relaxado demais para sua posição.

O vacilão:

O que ele é bom para combinar cores, ele compensa escolhendo uma modelagem desgraçada de calça. Reparem como, na área da virilha, ficam uns vincos meio “ta sobrando alguma coisa”.

Isso acontece muitas vezes devido a circunferência da cintura ser maior na calça do que  na pessoa. Aí, ao colocar cinto para apertar, aparece este tipo de vinco, ou, é claro, pode acontecer também porque a modelagem da calça é simplesmente ruim.

Some isso com o tecido da camiseta, que provavelmente é leve demais para o biótipo dele, marcando mais do que deveria e fazendo com que ele ganha as tão populares “tetinhas adolescentes”.

Não para por aí. Pra fechar com chave de ouro, o comprimento da camiseta, se fosse um pouco mais longo, diminuiria a sensação que ele é quadrilzudo (nenhum cara tem muito interesse em ser quadrilzudo), ou ao menos se ele apoiasse parte da camiseta na altura do cinto, o volume da cintura seria maior e também diminuiria esta sensação equivocada.

Por fim, a modelagem da manga é reta, o que não funciona tão bem em braços não malhados. Se ela tivesse um punho mais apertado ou se ele tivesse esticada na altura do antebraço, os volumes do bíceps e do ombro seriam mais acentuados, dando a ele qualidade físicas mais robustas.

* * *

Seguimos agora para o meu querido editor, aquele que aguenta meus arroubos de bastião da humanidade e que me norteia com ótimo temas:

Jader Pires

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O bacana:

Matou a pau na modelagem, uma calça que tem vincos horizontais, mas que não tem dobras (fato que aconteceria se ela fosse maior do que deveria ) . Já a modelagem da blusa veste bem e não deixa vincos no tronco, enquanto a manga tem um bom comprimento e, sendo usada desta maneira, não deixa a combinação coxinha, pois contrasta bem com o estilo tradicional de um tricô.

Mais uma vez, temos uma escolha cromática excelente na parte de baixo, entre calça e bota. Aliás, bota esta que não poderia ter sido melhor escolhida, pois não é social (o que daria um ar coxinha ao look), mas também não é trekking, transitando bem na combinação como um todo e, claro, como já dissemos antes, contribuindo para deixar a composição mais viril.

A calça ter lavanderia (este efeito desgastado na frente) condiz perfeitamente com a escolha de uma peça mais rústica, como uma bota, trazendo mais autenticidade ao combo.

O vacilão:

Seria Jader um integrante perdido da novela Carrosel? Seria este tricô, um presente de formatura dado pela professora Helena? Quem saberá responder?

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Você esta lá, queixão em riste, pernas mais abertas demonstrando confiança e estabilidade, calças e botas no melhor estilo Steve McQueen, eis que então você avacalha tudo com um tricô do Brasil-sil-sil, todo trabalhado no talento da sua vó, com mil ponto diferentes super transados e um verde que só faz sua pele ficar da cor da parede

Tá bacana, tá legal!

* * *

Seguimos agora para um realizador nato, o tão cafeinado quanto eu:

Felipe Ramos

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O bacana:

Começando pelo cabelo, o mais apropriado até agora. As entradas sinalizam experiência e, ao utilizar o cabelo um pouco mais bagunçado, como na foto, se cria um contraste interessante entre a experiência e a rebeldia (convenhamos, uma combinação matadora).

Ao optar por uma blue jeans escuro sem lavagem, ela traz um ar mais maduro ao visual, que encontra excelente contraponto no Allstar branco. Mais uma vez, temos aqui os contrastes em ação, e são eles, na maioria das vezes, os responsáveis pela criação de combinações inovadoras e atraentes. Ponto para o nosso amigo!

Outro fator positivo foi a combinação cromática, que embora seja bastante sóbria, não se torna monótona devido ao -- de novo e sempre bem vindo -- contraste.

O vacilão:

Estaríamos diante de um amante latino ou de um cigano comemorando o ano novo? Porque não basta ser uma bata, tem que ter uma golona loca! E tem que ser de flamê, o tecido número um do verão na praia 2010!

Mas o mais especial ainda estaria por vir, porque, quando a peça é fera, tem que vir tunada!

Gola com acabamento no grau, corte haglan nos ombros, punho canelado e, por fim, meu predileto... o Xis style!

Seria um código illuminatti, um fã orixá do Vin Diesel, ou o novo cantor preferido do Ídolos Brasil?

Jamais saberemos.

FOTO-5

* * *

Vamos para o próximo. Eis aqui o sempre sagaz,

Rodrigo Cambiaghi

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O bacana:

Temo um exemplo tradicional de simplicidade bem resolvida.

Ao optar por peças clássicas, como a camiseta branca de gola v, uma calça jeans slim com lavanderia tradicional e um sapato mais leve, estilo Osklen, nosso amigo acertou na mosca, permitindo que se sobressaísse o detalhe discreto da tatuagem aparecendo, a caneca simpática de café amarela (em tempos de jornadas tão longas, porque não tratá-la também como um acessório?) e, claro, emoldurando o rosto com um cabelo curto nas laterais e mais volumoso em cima, clássico universal masculino.

Para finalizar, modelagem de acordo com seu biótipo e um cavanhaque disfarçado dentro de uma barba por fazer, deixando assim o queixo mais proeminente e másculo.

O vacilão:

"Salve, salve galera! Hoje estamos... no Caaaaldeirão!".

Ao optar por um estilo descontraído, chapa branca, limpinho (mas cool), nosso amigo torna indissociável sua imagem a imagem do “antes boa praça”, Luciano Huck. O coxinha mais adorado do Brasil, um cara bacana, do bem, que sem querer construiu sua casa em uma área de preservação ambiental e que não foi ajudado por um lobby amigo no caso.

Pois é. E como se não bastasse a associação que o ajuda a se descaracterizar de uma personalidade descolada e autêntica, temos aqui o acessório que é a segunda maior das provas contra um canalha: o cão a tiracolo (só perdendo pro infame “bebê a tiracolo”).

Você é do bem, você é um cara legal que cuida e é cuidado. É claro que você tira foto com um cão! Ele é uma graça, mas é um cão grande. Ele tem porte e, assim como você, ele é brincalhão, mas tem pedigree, assim como você.

Ele só poderia ser o cão número um do caaaaaldeeeirão! Claro, um golden.

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Nota do editor: o Bruno achou que o Clint era um labrador.

* * *

Seguimos, então, na nossa intrépida missão de julgar, absolver e condenar!

Nosso próximo alvo é o camarada que, na verdade, eu não sei quem é direito, mas perguntei para o Jader e ele me disse que é o sangue bom, Leonardo Soares, design no Papo de Homem!

Leonardo Soares

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O bacana:

Garotas, estremeçam! Vocês estão diante do clone moreno do Jude Law. Como se não bastasse, o nosso amigo aqui ainda é inteligentíssimo em sua combinação.

A sempre simpática “atitude rocker” é bem vinda e vem discreta: um brinco escuro em uma orelha, um olhar conivente de quem conhece bem a erva, uma camiseta com a gola careca sem costura e um jeans preto discretamente esfolado.

Falemos da modelagem: todas as peças foram escolhidas levando em consideração a proporção corpórea. A paleta de cores é neutra e quase inexistente, fazendo ressaltar os tons rosados da pele dele, fato que o deixa esteticamente com uma aparência mais saudável. A estampa da camiseta, além de uma tipografia serifada que nos remete a um ar gótico, conta também com prédios e deixa ainda mais urbano o que já era street.

O vacilão:

Infelizmente, temos aqui um caso que me silencia. A consciência corporal está apurada e a coerência entre cores, materiais, modelagem e tema não poderia estar mais bem realizada.

* * *

Após uma análise que me impediu de escrever críticas, torço ainda ter mais sucesso nesta nova empreitada: o próximo caso é o do senhor mais musicado do Papo de Homem.

Luciano Ribeiro

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O bacana:

Comecemos de cima. O cabelo volumoso faz contraponto com o óculos grande de aro fino e uma barba bem cuidada, criando um visual que sai do lugar comum que se espera de um intelectual, tradicionalmente de aro redondo e grosso e com muitos pelos ao redor.

Seguimos para a camiseta, que mais uma vez opta por sair do ambiente de sempre e é roxa, matiz nada habitual no universo masculino (embora seja uma cor que em nada se associe a feminilidade), calça jeans com ótima modelagem, que alonga suas pernas, mas não as afina.

E, por fim, um contraste pontual de croma, ao utilizar um calçado claro diante de toda roupa mais escura.

Resumindo: simples, mas com personalidade.

O vacilão:

Já falamos da “tetinha adolescente” hoje, né? Pois não é que ela apareceu de novo?

Embora quase camuflada pela utilização de uma cor escura, mais uma vez o uso de tecido leve com a falta da prática intensa de exercício físico dá sinais no PdH.

Um acessório mais robusto nos pulsos com certeza equilibraria  melhor a massa corporal dos braços, trazendo mais sinuosidades a eles e não os deixando como varas cansadas e sem vida.

Por fim, o tênis que tem a matiz e o croma correto, não pode se vangloriar de seu shape. A camiseta é mais solta e a calça jeans é neutra, portanto, seria positivo que o calçado fosse mais robusto, como seria uma bota ou um tênis de skate.

Ao não utilizá-los, a composição toda tem acentuada a fragilidade física do usuário.

* * *

Seguindo!

Passamos então ao designer bem resolvido e papo reto do PdH:

Felipe Franco

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O bacana:

Carecas são caras presença por natureza: Bruce Willis, Michael Jordan e afins não me deixam mentir. E é de maneira bem inteligente que o Franco faz uso da sua.

Ao utilizar cavanhaque, ele acerta em cheio e ganha um ar mais rústico e másculo, eliminando o risco de parecer frágil ou assustador (no mau sentido, tipo Espiridião Amin).

A camisa xadrez mais aberta acompanhada de jeans e bota remete um estilo menos urbano e mais selvagem.

Já a modelagem está bem escolhida, com exceção do comprimento da calça (a barra poderia ser um pouquinho mais curta). A matiz também foi feliz, pois os tons terrosos permeiam toda a roupa, desde o xadrez avermelhado até a bota marrom, deixando a composição ainda mais harmoniosa.

Ponto para a camisa dobrada, que fez com que a combinação fosse ainda mais coerente como um todo, sugerindo um ar mais rústico e funcional para o que estamos vendo.

O vacilão:

Comecemos pela pose.

Mostrando dedo do meio, com mais de vinte anos? Então você é do estilo autêntico, que “fala mesmo”?

Hm... entendi.

Não para por aí. A foto não permite a visualização, mas eu irei clarear sua mente: ele está usando um anel de caveira. Nada melhor pra um homem usar, se ele for o Jack Sparrow, correto? E os excessos não cessam.

Anéis em ambas as mãos vem acompanhados de uma correntinha meio dourada no punho, o que combinado com o ar caminhoneiro da composição, faz ele parecer mais com o Bino do Carga Pesada do que com qualquer outra coisa.

FOTO-11

* * *

Rafael Tiltscher

E vamos para o penúltimo selecionado, o grande! Ainda não o conheço muito, mas me parece ser um cara bem gente fina.

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O bacana:

O rosto de bom moço é atenuado por uma barba rala que ameaça florescer. A camisa pólo -- que poderia deixá-lo coxinha -- tem a modelagem mais solta e elimina essa ameaça.

A tatuagem discreta no antebraço é outro fator que auxilia para o contraste com o rosto de traços delicados. Ela é grande o suficiente pra ser vista e discreta o bastante para não soar como uma auto afirmação.

Também temos aqui mais uma peça de matiz roxa, cor inusitada e muito bem vinda no armário masculino. A calça tem o tamanho correto e a composição inteira segue um degradê cromático interessante, partindo da pólo escura, para o calçado bastante claro, utilizando a calça como transição.

O vacilão:

Você é esguio, tem traços faciais delicados e utiliza muito bem sua roupa para criar um contraste positivo com seu físico, a não ser por um detalhe que, praticamente, coloca tudo a perder: o raio da papete da sua avó, que você roubou e usou pra ir pro trabalho!

Sim, estar confortável é essencial, mas seria uma boa hora para se esquivar de resquícios femininos na aparência, não é amigão? Com certeza é um calçado gostoso para se usar em casa, mas como alguém utiliza algo assim para andar nas ruas de São Paulo?

A resposta?

Só é possível se você for um querubim e, ao invés de andar, flutua.

Caras não devem flutuar.

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* * *

Eduardo Amuri

E chegamos ao nosso último, porém não menos importante, Eduardo Amuri, o "Colosso".

O cara que mais me identifico no PdH, com uma conversa de ritmo orgânico, mas objetiva. Me parece sempre dizer o que está dizendo (algo raro nas conversas dúbias e cheias de sentidos de hoje em dia).

Vamos a sua análise:

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O bacana:

Pra começar, você tem que saber que este cara é grande. Sério.

Tem caras que são grandes. Eu tenho 1,85 m, mas pareço menor. Ninguém acha que é esta minha altura (sei lá, não tenho porte). Mas aqui, senhores, temos Amuri, o "Falcon" da vida real. Um cara que não só parece grande, como é mesmo enorme!

Ajudado por seu porte, ele veste uma camisa de micro xadrez de boa modelagem por cima de uma camiseta que o auxilia a descontrair o tom social da camisa.

O degradê cromático é invertido e bem realizado, indo da camisa clara, para a calça neutra e, por fim, ao calçado escuro.

O relógio, juntamente com a camiseta já citada, funciona como agregador, tornando o usuário mais rico em material gráfico/simbológico, evitando o risco que ele teria de soar sem graça e desinteressante.

Por fim, temos aqui, mais uma vez, o cavanhaque disfarçado pela barba por fazer, ótima opção para acentuar o queixo, sem chamar muita atenção.

O vacilão:

Sofrendo do mal dos gigantes, o Amuri padece de gestual, como atesta sua pose de boneco G.I. Joe na foto. Não bastasse a dureza de movimento típica das pessoas que são grandes, ele dobra a manga da camisa apenas uma vez, o que a dá a impressão de ele usar uma roupa mais curta do que seria ideal para o seu tamanho (fato que não ocorreria se ele tivesse dobrado mais uma vez a manga).

Continuando a acentuar problemas imagéticos pelo seu porte e combinação de roupas, a camisa xadrez social, acompanhada de uma bota ou tênis de trekking, torna o visual mais incoerente e desajustado, tal qual seria se o filho perdido de Hagrid se fosse encontrado fazendo universidade aqui no Brasil.

Este tipo de equívoco acontece -- na maioria das vezes--  porque o usuário não tem um espelho de corpo inteiro na sua casa, o que. no caso do Amuri, é compreensível. Afinal, dá-lhe pé direito pra isso!

* * *

E chegamos ao fim da análise imagética dos integrantes do PapodeHomem.

bruno-passos
Carrasco sempre reaparece

Embora fosse um prazer falar mal de todos, alguns participantes não foram citados exclusivamente por falta de tempo, o que é uma pena. Mas também é fato que pretendo corrigir isso em textos futuros.

A você, leitor, espero que tenha aprendido com alguns de nossos erros e acertos, e também que tenha notado que toda pessoa pode ser lida de maneira positiva e negativa (menos o Jude Law cover).

Ah, e que é claro que sempre será mais fácil e divertido criticar, embora nem sempre mais saudável.

Quanto ao pessoal do PdH, só posso dizer que a publicação deste texto, sem censura, é, para mim, um sinal da disposição de vocês a autocrítica e prova de confiança em suas personalidades, não se deixando abalar pelas piadas que irão perdurar por meses por causa deste artigo.

Aos que se perguntam porque eu não fui julgado, saibam que é assim que se julgam as coisas hoje em dia, de maneira imparcial e  unilateral, se eximindo ao máximo de qualquer responsabilidade ou dano. Sinal dos tempos.

Pessoal do PapodeHomem, continuem meus amigos. E a todos, espero que tenha sido útil ou, ao menos, divertido!


publicado em 30 de Outubro de 2013, 22:00
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Bruno Passos

Pintor. Ama livros, filmes, sol e bacon. Planeja virar um grande artista assim que tiver um quintal. Dá para fuçar no Instagram dele para mais informações.


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