O dia em que o Brasil quase parou - Parte 2

Na primeira parte, vimos a sequência mais do que cinematográfica de tumultos e manifestações pelo Brasil inteiro que aconteceu em maio de 2007. Leia agora a conclusão dessa história.

Uma equipe de reportagem flagrou duas manifestantes contando a colegas como foi a invasão:

"Foi um estrago total. Eu virei as caixas, não tinha força, mas daí consegui", contou uma delas. "Todas as mulheres assim, ó [cobre o rosto com um lenço], para não aparecer. E eles filmando tudo".

Segundo o chefe do departamento de engenharia elétrica da Universidade Federal do Pará, ao mexer nos painéis, os manifestantes poderiam ter provocado uma interrupção no fornecimento de luz. "Poderia acontecer até uma catástrofe, um apagão, ou então abrir demais uma comporta e fazer com que um volume de água flua", afirmou Carlos Tavares.

Em sessão no plenário, senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), se disse preocupado com a invasão da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, por integrantes de movimentos de trabalhadores sem-terra lembrando a recente quebra de hierarquia militar ocorrida durante a greve dos controladores de voo e afirmou que o país está diante de uma grande crise institucional.

Link YouTube | Reportagem da época no Jornal da Globo

O que foi feito

Diante da incontestável gravidade da situação e da falência do sistema de segurança brasileiro, o Presidente da República recorre à Constituição Federal e 1988 evoca a "garantia dos poderes constituídos, a lei e a ordem", uma das atribuições do Exército Brasileiro. A Justiça do Pará expede uma ordem de desocupação da usina.

O Exército mantém constante adestramento de suas tropas em missões de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Inclusive, realizou uma ocupação da Usina de Tucuruí em 2005 durante o emprego do 23o Esquadrão de Cavalaria de Selva da 23ª Brigada de Infantaria de Selva no Pará em ocasião da Operação de GLO Pacajá. Na época, as tropas foram acionadas antes que a Usina viesse a ser invadida e, com sucesso, frustaram a ação de movimentos sociais contra a hidrelétrica.

Ao chegar nas instalações da hidrelétrica, o Exército rapidamente se posicionou entre parte dos manifestantes e os acessos à Usina estabelecendo um cerco ao local e isolando no interior do prédio cerca de 50 homens. Acuados, os invasores concordaram em liberar o funcionário da Eletronorte feito como refém, porém posicionaram vários carros da Eletronorte com o tanque cheio de gasolina na entrada do prédio, ameaçando explodi-los caso os soldados invadissem o local. Eles também formaram uma barreira humana e nas mãos de alguns homens havia bombas de fabricação caseira.

exercito

Diante da escalada das tensões, Conselho Tutelar de Tucuruí enviou à usina assistentes sociais com a finalidade de retirar crianças e adolescentes que estavam entre os manifestantes, temendo que elas fossem vítimas de uma eventual ação militar. O major Curti, da 23ª Brigada de Infantaria e Selva, de Marabá foi enviado para negociar com os criminosos que concordam em se entregarem para as forças federais. O Exército tomou a Usina e reforçou a segurança até o fim da crise institucional.

Movimentos sociais apoiados pelo governo atacando o Estado brasileiro causaram surpresa entre setores no Planalto. Por essa razão, representantes do governo federal que desejam entender as razões da ação aceitam receber em Brasília a liderança dos movimentos que ameaçaram a segurança do Brasil!

"Precisamos saber o que motivou esta ocupação, entender as razões para isso ter acontecido, uma vez que existia um processo de discussão e solução de problemas em andamento, ainda que pudesse existir algum tipo de atraso", informou o secretário nacional da ação social da Secretaria Geral, Wagner Caetano. "Não há compromisso que não estivesse em execução", comentou ele.

O General Felix foi chamado pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) a falar sobre a invasão da hidrelétrica de Tucuruí, mas a sociedade brasileira nunca mais recebeu informações sobre a consequência daqueles atos contra o patrimônio público.

Logo após a retomada da hidrelétrica de Tucuruí, Roquevan Alves Silva, o líder da invasão, afirmou que caso as reivindicações do MST não fossem ouvidas, torres de transmissão seriam derrubadas.

“Eu mesmo tomaria a liberdade de derrubar uma torre. É uma sugestão viável para o governo tomar as devidas providências no que diz respeito aos acordos com os movimentos: botar a torre no chão” –Roquevan Alves Silva, líder do Movimento dos Atingidos por Barragens

Logo em seguida, em outubro do mesmo ano, ocorreram sucessivos atentados contra torres de transmissão de eletricidade, em Tocantins e no Maranhão realizados pelos movimentos sociais. Em Tocantins, em quatro ações realizadas nos dias 12, 13, 16 e 28 de outubro, os protestantes derrubaram várias torres de transmissão nos municípios de Paraná e São Salvador, que, dentre outras perturbações, paralisaram as obras da usina hidrelétrica de São Salvador (Grupo Suez).

Mais confusão a seguir

Link YouTube | Opinião de Arnaldo Jabor sobre a co-responsabilidade dos 3 poderes em uma das confusões do MSLT

No dia 18, o MST interrompeu o tráfego na Estrada de Ferro Carajás, como parte da sua "jornada de luta pela reforma agrária", a despeito de uma determinação da Justiça Federal para que forças policiais assegurassem a proteção da ferrovia contra "atos atentatórios" daquela organização.

Em 24 de outubro, índios guajajaras derrubaram uma das duas torres de transmissão da Eletronorte que passam pelo interior da reserva Cana Brava, no Maranhão, e passaram a ameaçar derrubar a segunda. Em sequência, os índios bloquearam todas as vias de acesso ao local do protesto e impediram a aproximação dos técnicos da empresa.

Um ano antes, em 2006, 497 sem-terra foram presos e 41 pessoas ficaram feridas quando o grupo invadiu, depredou e feriu gravemente um segurança da Câmara dos Deputados Federais. Um dos presos era Bruno Maranhão, então secretário nacional de movimentos populares do partido governante e integrante da Executiva do governo.

A Brigada Militar do Rio Grande do Sul revelou que a organização tem no Estado um grupo armado e encapuzado, que precede as invasões de fazendas que, depois, são atribuídas a "sem-terras" pacíficos. Como revelou à Folha de S. Paulo (28/10/2007) um oficial da Brigada, o grupo tem cerca de dez homens armados, que faz batidas antes das invasões, geralmente, de madrugada, para expulsar caseiros, capatazes ou famílias residentes nas propriedades a serem invadidas.

Em abril de 2009, a polícia do Pará prendeu 18 homens que invadiram o canteiro de obras das eclusas de Tucuruí. Os invasores, de acordo com a PM, tinham bombas caseiras, barras de ferro e pedaços de madeira quando os militares chegaram para a desocupação. Entre os 18 presos está Roquevam Alves Silva, do MAB, que em maio de 2007 foi um dos líderes de invasão à hidrelétrica de Tucuruí, que até agora estava solto.

A conivência do governo brasileiro para com essas organizações criminosas ficou um pouco mais clara após reportagem da revista Veja em abril de 2009. A análise dos dados financeiros das ONGs Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca), da Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil (Concrab), do Centro de Formação e Pesquisas Contestado (Cepatec) e do Instituto Técnico de Estudos Agrários e Cooperativismo (Itac) revelaram que o MST montou uma gigantesca rede de abastecimento financeiro que capta recursos estrangeiros e do próprio governo federal.

Entre 2003 e 2007, as ONGs captaram 20 milhões de reais não informados à Receita Federal. As quatro entidades receberam 43 milhões de reais em convênios com o governo federal de 2003 a 2007.

O Brasil está sob ataque. Quando iremos declarar guerra e reagir às investidas dessas organizações criminosas, auto-proclamadas movimentos sociais, que atacam sistematicamente as instituições de nosso país?


publicado em 30 de Janeiro de 2010, 08:32
3861595431ec39c257aee5228db3092a?s=130

Rodrigo Almeida

Engenheiro, apaixonado pela vida e por qualquer coisa com um motor potente, nostálgico entusiasta de muitas daquelas boas coisas que já não mais se fazem como antigamente.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura