O Brasil tratando a Espanha do jeito que a Espanha trata o Brasil?

A partir de abril, os viajantes espanhóis que chegarem ao Brasil terão que responder às mesmas exigências que os brasileiros que chegam à Espanha. Ou seja, da mesma forma que nenhum de nós pode apenas desembarcar em Madri com a roupa do corpo, cinco euros em moedas e uma imitação questionável do Alejandro Sans, agora os espanhóis que chegam ao nosso país terão que mostrar que não apenas têm dinheiro pra se manter aqui, como também passagem de volta e lugar pra ficar.

Mais ou menos nos padrões do Acordo de Schengen, que boa parte da galera que já visitou a Europa conhece bem, e que visa garantir, em linhas gerais, que você está viajando para visitar e não tem a menor intenção de mudar seu nome pra Juan e fixar moradia.

Link YouTube | Esse vídeo é de 2008, mas será que os tempos são outros?

Mas mais do que algum tipo de vingança diplomática direcionada aos espanhóis – a Espanha é um dos países que mais tem barrado brasileiros em seus aeroportos – esse tipo de medida provavelmente é um sinal da nova realidade e do novo contexto geopolítico em que nos encontramos, com uma Europa em crise e um Brasil emergindo enquanto 1) destino turístico e 2) possível rota de fuga nesse novo quadro econômico.

Se antes apenas exportávamos ilegais e toda aquela galera que ia com visto de estudante mas cuja matéria seria “introdução a morar na Europa pelo resto da vida”, hoje em dia começamos a notar que talvez o fluxo possa se inverter. Que talvez o Brasil deixe de ser a origem e sim e passe a ser o destino dos imigrantes.

E como isso vai afetar a relação com os nossos visitantes estrangeiros? Num futuro em que o Brasil for rota de imigração, será que deixaremos de lado nossos modos simpáticos e cordatos? Será que começaremos a desenvolver aquela velada xenofobia de quem não vê o visitante como amigo e sim como “ladrão de empregos”?

Num contexto de emergência econômica nacional, começaremos a achar estranho que para visitar outro país sempre tentemos aprender outra língua, enquanto os estrangeiros que aqui chegam continuam só sabendo falar “samba”, “bunda” e “caipirinha”? Diante de uma Europa quebrada, teremos escoceses tocando gaitas de fole em nossas praças tal qual os bolivianos fazem com suas melódicas flautas andinas hoje?

Talvez ainda seja cedo pra especular coisas assim – principalmente a parte da gaita de fole – mas quem sabe estejamos começando a presenciar uma significativa mudança na forma como lidamos e vemos o estrangeiro no nosso país, seja pra melhor ou pra pior.

Só por via das dúvidas, é sempre bom preparar com cuidado aquela carta comprovando que seu amigo de Barcelona vai ficar na sua casa e não planeja abrir uma casa de paellas na zona sul. Só pra evitar problemas com a imigração, sabe como é.


publicado em 09 de Março de 2012, 11:31
Selfie casa antiga

João Baldi Jr.

João Baldi Jr. é jornalista, roteirista iniciante e o cara que separa as brigas da turma do deixa disso. Gosta de pão de queijo, futebol, comédia romântica. Não gosta de falsidade, gente que fica parada na porta do metrô, quando molha a barra da calça na poça d'água. Escreve no (www.justwrapped.me/) e discute diariamente os grandes temas - pagode, flamengo, geopolítica contemporânea e modernidade líquida. No Twitter, é o (@joaoluisjr)


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