Ela sempre achou sexy demais. Eu achava meio triste, mas gostava de vê-la com as cadeiras soltas quando tocava essa do Elvis. Então eu fui até a jukebox e coloquei para ela escutar. Voz e guitarra, o grave de Heartbreak Hotel ecoou por todo o bar. 

Na ponta do balcão ao lado, uma mulher me deu um sorriso e acenou positivamente com algum drink na mão, desses enfeitados com algum palito, alguma fruta. Mas nem deu tempo de eu retribuir o aceno, já que voltei rapidinho rapidinho na minha mesa para pegá-la com os olhinhos fechados e ensaiando um remelexo enquanto cantava baixinho "I get so lonely I could die".

Eu sempre fui louco por ela, especialmente naquela noite, enfiada em um shortinho preto, as pernas nuas, musculares, blusinha sem sutiã e uma jaquetinha de couro por cima. Brincos grandes e um coque exibido no alto da cabeça. Ah, a nuca dela exposta, o queixo pungente, pontudo que deixava seu sorriso ainda mais oblíquo, sempre malicioso.

Ela arriscava algum rebolado sentada, eu pedia mais uma rodada pra gente, a clássica. Era sempre uma cerveja grande, pra nós dois, e um copinho da cachaça da casa para ela. Esquentava a goela com o destilado e esfriava com a cerveja. E me ria um riso sempre hipnótico. Naquela noite ela estava me contando o quanto era apaixonada por mim, como a gente fazia bem um para o outro. Eu apenas acenava com a cabeça e deixava as ideias dela preencherem o espaço da mesa, seus gestos com a mão segurando o copo, o olhar tímido de quem se abre demais e olha para a mesa, a coragem de olhar nos meus olhos depois de contar o que apenas se sabe, mas pouco se diz. Abriu de todo o coração suas coisinhas e me deixou suspirando.

Que mulher, gente. Que mulher.

A garota que estava sentada no canto do balcão passou por nós e olhou novamente. Mas eu não conseguia me desprender da imagem dela. "E aí? Mas a gente vai ficar só conversando ou você vai pular para este lado da mesa e me dar um beijo?". Ela perguntou isso provavelmente se antecipando em marcar algum tipo de território e me fez rir. A essa altura do campeonato já deveria saber que não havia chance alguma para qualquer outra pessoa.

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Eu estava completamente fisgado.

"Mas espera. Antes de você me atacar, eu preciso ir ao banheiro… retocar a maquiagem". Se levantou e rumou ao toalete feminino. No caminho, as duas garotas do bar se cruzaram. Uma delas, a que tomava drink de fruta no balcão, sumiu pela porta de entrada, indo para algum outro lugar que eu nunca saberei qual é. A outra, a minha garota, sumiu quando a porta do lavatório se fechou na minha frente.

Meus olhos pesaram e parecia que o ar entrando nos meus pulmões se agarrava e não queria sair. O peito pesado. Mão na testa, dois murros na mesa. Chamei o garçom e pedi a conta e a saideira. "Uma cerveja, por favor". Dispensei a cachaça porque, afinal, não havia ninguém para bebê-la comigo, já que havia mais de dois anos que ela terminou o nosso namoro.

 

O amor é um fantasma que aparece de quando em quando.

E faz a gente vacilar.

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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados