Neil Hiborn ficou conhecidão por ter performado, em 2013, este vídeo que ganhou a Internet toda naquela época. Ele é um poeta americano com TOC, o Transtorno Obsessivo Compulsivo, e escreveu esse poema sobre o fim de um relacionamento.
O Huffington Post escreveu, na época, sobre o ocorrido e sobre a beleza de o vídeo ter dado um efeito bem positivo sobre a desordem e em pessoas que a possuem. Alguém escreveu "como alguém que tem Tourette e TOC, eu só queria dizer, muito obrigado" (Tourette, da Síndrome de Tourette, outro transtorno neuropsiquiátrico).
Bonito em todos os sentidos.
A minha coluna do Bom Dia, aqui no PapodeHomem, é espaço para que eu publique contos e crônicas que escrevo. Mas, hoje, por exceção, vou publicar o vídeo e texto do Neil, intitulado "OCD" (TOC em inglês).
Neil Hilborn - "OCD"
"Na primeira vez que eu a vi, tudo em minha cabeça se aquietou. Todos os tiques, as imagens repetitivas, elas apenas sumiram.
Quando você tem transtorno obsessivo compulsivo (TOC), você realmente não consegue momentos de paz. Mesmo na cama eu fico pensando: tranquei a porta? Sim. Apaguei as luzes? Sim. Lavei as mãos? Sim. Mas quando eu a vi, a única coisa que pude pensar era sobre as curvas dos seus lábios ou o cílio na sua bochecha, o cílio na sua bochecha, o cílio na sua bochecha.
Eu sabia que tinha que chamá-la para sair. A chamei para sair seis vezes... em trinta segundos. Ela disse sim depois da terceira, mas nenhuma me pareceu perfeita, e por isso tive que repetir. No nosso primeiro encontro passei mais tempo organizando minha comida por cor do que comendo ou falando com ela, mas ela amava isso. Ela amava que eu tinha que beijá-la dezesseis vezes pra dar tchau, ou vinte e quatro, se fosse uma quarta-feira. Ela amava que eu levava uma eternidade para chegar em casa, porque tinha um monte de rachaduras na nossa calçada. Quando fomos morar juntos, ela dizia que se sentia segura, como se ninguém pudesse nos roubar porque eu definitivamente tranquei a porta dezoito vezes.
Eu sempre olhava para a sua quando falava, quando falava, quando falava, quando falava. Quando dizia que me amava, sua boca se curvava nos cantos. À noite ela deitava na cama e olhava como eu apagava e acendia todas as luzes, ligar e desligar, ligar e desligar, ligar e desligar, ligar e desligar, ligar e desligar, ligar e desligar. Ela fechava os olhos e imaginava que dias e noites passavam diante dela.
Algumas manhãs, eu começava a dar beijos de despedida, mas ela ia embora porque se atrasaria pro trabalho. Quando eu parava em uma rachadura na calçada, ela continuava andando. Quando ela dizia que me amava, a boca dela ficava reta. Ela me disse que eu estava tomando muito tempo dela. Na semana passada ela começou a dormir na casa da mãe dela. Disse que não devia ter deixado eu me aproximar, que foi tudo um erro, mas como pode ter sido um erro se eu não tenho que lavar as mãos depois de tocá-la?
Amor não é um erro!
Isso me mata, que ela consegue fugir disso e eu não. Não consigo sair de casa e achar alguém novo, porque eu sempre penso nela. Em geral, quando fico obceco com as coisas, vejo germes se escondendo na minha pele, me vejo sendo esmagado por uma sucessão sem fim de carros e ela foi a primeira coisa bonita à qual me agarrei. Quero acordar todas as manhãs pensando no jeito em que ela segura o volante, em como ela abria o registro do chuveiro como se fosse um cofre, em como ela soprava as velas, soprava as velas, soprava as velas, soprava as velas, soprava as velas.
Agora penso em quem a beija. Não posso respirar porque ele só a beija uma vez. Ele não se importa se é perfeito. Eu a quero de volta tanto, que eu deixo a porta destrancada.
Eu deixo as luzes acessas."
O amor.
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publicado em 22 de Abril de 2016, 00:10