Narcos: essa série é boa mesmo?

A primeira temporada da produção, estrelada por Wagner Moura, chega ao Netflix amanhã

Estamos esperando Wagner Moura deslanchar nos estrangeiros e deixar nosso país desde Elysium. Não sei pra vocês, mas pra mim é um trauma. Eu gosto do cara. Talvez seja o top da minha lista de melhores atores brasileiros. Fica, por favor, Wagner.

Mas ele já foi, e amanhã o Netflix libera os dez episódios da primeira temporada de Narcos. A série é uma produção própria, na linha do que o serviço de streaming anda fazendo bastante, dirigida pelo José Padilha, também brasileiro.

A história é baseada no traficante Pablo Escobar, colombiano chefão do tráfico de cocaína para os Estados Unidos que chegou a controlar 80% do mercado. Apesar da produção ser estadunidense, foi filmada na Colômbia, e vários diálogos estão em espanhol.

Pablito

Mais do que provocar orgulho aos latinoamericanos como nós - que vamos assistir uma série popular ter que colocar legendas em inglês, pra variar -, tem quem diga que Narcos é uma tentativa do Netflix de conquistar diferentes públicos, pra além dos Estados Unidos. Isso estaria bem alinhado com o crescimento que o serviço está tendo nos últimos anos.

Mas estão dizendo muitas coisas - no que podemos confiar?

Assim como vocês, eu não tenho nenhuma senha VIP pra assistir Narcos antes de todo mundo. Também pago meus dezessete reais todos os meses. Mas alguns assistiram, e saiu coisa boa.

O NY Times gostou:

“[Narcos] é construído em cima de texto e atuação afiados, como deve ser uma série. O papel central, do ator brasileiro Wagner Moura, é de uma performance digna de prêmios.

Quanto mais envolvido na série ficamos, mais percebemos que, apesar da clássica estrutura mocinho vs. vilão, o coração da produção é o estudo sobre Escobar, apresentado como um homem cujo grandioso apetite não é satisfeito pela incrível quantidade de dinheiro que ganha com seu negócio.”

Nossos conterrâneos do Omelete, nem tanto:

“Ao escolher contar a trajetória de Escobar entrecortada pelo dia a dia público e privado dos homens da lei responsáveis por sua caçada, e ao fazer desses personagens peões numa grande competição de gato e rato, Narcos não consegue escapar da armadilha de reduzi-los todos a um caráter funcional: mesmo os protagonistas da série parecem movidos por decreto e não por uma verdade interior, que os torne de fato personagens multidimensionais.

Nessa gangorra, em que pouco tempo de cena acaba determinando que certo arco pareça mais simplista que outros, o Escobar de Moura é quem sai perdendo mais. Depois dos primeiros três episódios, ele se torna um personagem apático. Realmente não é fácil gerar empatia com uma figura real que, por anos, personificou o mal puro na Colômbia, mas a série se ilude ao acreditar que o rancor de Escobar contra a classe política pudesse dar tudo o que o personagem precisa para ter uma autonomia dramática, um moto. Mas o fato é que esse Escobar se revela na série um personagem sem propósito.”

E os ingleses do The Guardian discordam completamente:

“Narcos resiste a reduzir Escobar a um personagem estereotipado de história em quadrinhos. Ao final do primeiro episódio, quando os créditos apareceram, Padilha havia deliberadamente apagado os limites entre heróis e vilões, policiais do DEA e traficantes, todos os que haviam se envolvido com esse mundo, de um jeito ou de outro.

‘Escute’, ele diz, ‘os vilões e os mocinhos têm algo em comum: são seres humanos. Pessoas que, dependendo do contexto, talvez deixem seus princípios éticos de lado pra fazer o que têm de fazer… É isso o que acontece na vida real.’”

Agora, põe na balança: é sexta-feira, tem temporada nova no Netflix e tem balada que começa meia-noite, com aquela música alta estourando sua orelha, vodca barata caindo no seu mocassim, e o táxi tá caro.

Eu tô torcendo pro negócio ser bom. Você não?

* * *

Nota da editora: procuramos, mas não achamos críticas colombianas ou na língua espanhola. Se você manja dos veículos de mídia e achar uma, dê um alô nos comentários que a gente atualiza.


publicado em 27 de Agosto de 2015, 17:43
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Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


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