No final do ano passado, aproveitei o recesso do trabalho e da faculdade para fazer um mochilão pela Europa. Apesar de ter sido muito menos tempo do que o ideal, foi a primeira vez que saí do país e isso fez a viagem valer a pena num nível inimaginável.

A quantidade de igrejas, parques, praças, monumentos e museus que visitei e conheci nesse período provavelmente é maior do que acumulado no resto da minha vida inteira. O que é, paradoxalmente, um orgulho e uma vergonha.

Isso porque, em geral, a relação que nós brasileiros temos – eu, incluso – com a arte não é próxima. E não apenas com a arte formal, mas com qualquer forma de arte. E não é culpa particular de nenhum de nós. É apenas um fato que nossa formação social e cultural simplesmente não privilegia isso.

 Conheço o Museu Nacional Húngaro, mas nunca fui numa exposição do MASP, há 400m de casa.

Devo dizer, porém, que foi preciso ir muito longe para perceber de fato que é uma grande bobagem essa de que a gente não entende nada de arte e que não se interessa por ela. Ver obras de Rodin, Magritte, Monet, Van Gogh, Picasso, Da Vinci e tantos outros foi decisivo para que eu tomasse consciência de que essa situação precisa mudar. E devo dizer que os museus estão se esforçando cada vez mais para possibilitar isso.

São tentativas de fazer exposições mais pops para atingir um público novo. Investimento em interatividade para se tornar mais atrativo. E até parcerias com artistas e outros museus para ganhar repercussão e visibilidade. Sinal de que, ao contrário do que parece, os nossos museus não vivem mais só de passado.

É levando isso ao extremo que o Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque fez um movimento ousado nessa semana. Depois de já ter digitalizado todo seu acervo e colocado à disposição de quem quisesse vê-lo, gratuitamente, na internet desde 2014, agora o MET ousou ainda mais e tornou seu acervo e arquivo de domínio público passível de reutilização e edição, inclusive para fins comerciais.

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Além dos dados de mais de 200 mil objetos datados de até 5 mil anos atrás, há ainda mais de 200 mil obras, incluindo pinturas de Monte, Degas, Da Vinci e Van Gogh, colocadas em Creative Commons Zero (CC0) como essas aqui:

"Wheat Field with Cypresses", Van Gogh, 1889.
"Self-Portrait with a Straw Hat", Vincent van Gogh, 1887.

A decisão faz parte de um movimento global entre museus e bibliotecas de disponibilizar seus acervos online para visitação pública e tem um objetivo muito claro: adaptar-se aos novos tempos.

"Ao tornar nossas obras de arte de domínio público disponíveis para o público sob CC0, o Museu está adaptando sua prática para tornar nossa coleção disponível de uma forma que melhor atenda às necessidades do público digital do século XXI. Estamos entusiasmados em compartilhar com o público novos caminhos para a criatividade, o conhecimento e as ideias, como se manifesta na maior utilidade de nossas coleções que abrangem 5.000 anos de arte."

Thomas P. Campbell – Diretor do Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque 

Agora, ninguém mais precisa ficar horas dentro de um avião ou gastar muito dinheiro pra ter acesso à arte. Basta entrar na página do museu, ver tudo que está disponível publicamente e perceber que nossas desculpas estão acabando.

Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a <a>Jornalismo Júnior</a>