Kazuo Ohno viveu 103 anos e parou de respirar. A morte era sua parceira há tempos, presente em várias obras de seu teatro-dança butô.
Perdi a chance de vê-lo ao vivo (esteve no Brasil em 1986, 1992 e 2007), mas lembro bem da instalação com vídeos e citações do projeto Tokyogaqui, no SESC Avenida Paulista. Gestos lentos, presença visceral, precisão, ausência de controle ou exibicionismo e a capacidade de criar mundos, de espreitar nossos subterrâneos sem falar nada.
Para quem não sabe o que é butô, deixo uma bela explicação:
O ideograma “bu” evoca as danças xamânicas, as miko da Antiguidade, realizadas pelas sacerdotisas que rodopiavam para provocar chuva. Ou as tamafuri, movimentos vibratórios dos corpos dos xamãs em transe. O caractere “toh” simboliza o fato de pisar a terra, uma ação que consiste em chamar para si as forças dos espíritos da terra ou ainda a vontade de sacudir, acordar ou abalar o mundo. –Maura Baiocchi
E para quem desconhecia Kazuo Ohno, três vídeos:
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