Mochilar pelo Brasil pode ser melhor do que você imagina

Dicas para mochileiros nacionais de primeira viagem

Digo com certeza que o sonho de muita gente é montar um as malas, um roteiro e sair viajando, conhecendo lugares, texturas, histórias e vivendo experiências.

Eu resolvi viver isso não muito longe de casa. Caí na estrada de São Luís, a capital do Maranhão, até o Recife, no Pernambuco. A ideia era simples: conhecer mais a vizinhança, a minha própria região. Nessa brincadeira foram nove cidades em quatro estados do Nordeste. Lugares incríveis, realidades contrastantes e uma constatação de que o nordestino é acolhedor por natureza.

Saí no dia 4 de novembro com a data de volta para o dia 24. Para isso, montei toda uma agenda com dicas, conselhos, curiosidades e pessoas que iria topar e algumas que até então só conhecia pela internet.

Como um bom jornalista, curioso que é e aliado à ideia de encarar o mundo de peito aberto, resolvi documentar tudo num curto manual. Essas dicas não são nem um pouco absolutas, pelo contrário: tire daqui o que lhe for de proveito.

Vá sabendo que para viajar não é preciso de muita grana ou coisa do tipo, mas planejamento e disciplina. Aprendi isso na marra e foi fundamental para essa jornada. Grana conta, mas não é o essencial.

E sim, sinto que foi o melhor investimento da vida e uma lição de valor imensurável. Foram vinte dias, quatro estados, nove cidades e vários sentimentos, lugares e várias pessoas e sensações. E esse registro foi sendo feito de forma instantânea na minha conta do Instagram e os mais bonitos posts e fotos agora ilustram esse artigo.

O Brasil é um país cheio de gente comum a fim de compartilhar e protagonizar momentos bons e não há melhor sensação do que sentir uma ponta de orgulho ao falar de um lugar que é diariamente bombardeado por desgraças. Não custa nada ter orgulho de cuidar do que é nosso.

Pesquise

Felizmente a internet está aí para quem está atrás destas informações e não existe problema nenhum em perguntar algo, por mais bobo que seja. Então, pesquise, anote e salve tudo que vê.

Mas conte com a troca humana também nesse processo. Eu tive um pouco de dificuldade de conseguir algumas informações, e se não fosse contatar alguns amigos e buscar em redes sociais pessoas que moravam em alguns desses lugares, eu não teria conseguido as coisas. O que me leva ao próximo tópico.

Estabeleça contatos

Isso é muito importante, se feito com cuidado.

Por que? Bom, escutar a opinião de uma pessoa que está bem descontente com o local que você está visitando pode tornar tudo um pouco mais desagradável. Não os culpe por isso, apenas use da malícia e pesquise se o que essa pessoa falou existe fundamento. Se achar necessário, pesquise e pergunte para mais de uma pessoa.

Sobre o lado bom: quem me conhece sabe que realizo um trabalho envolvendo a produção de conteúdos e textos na internet e, felizmente, isso tem me trazido várias pessoas para minha vida que se identificam com eles, assim criando conexão e boas relações acerca de vários assuntos por meio dos textos e conversas que temos depois do devido contato. E conversar com elas me possibilitou a obtenção de várias informações sobre os lugares que visitei e o que fazer neles, além de possíveis estadias e companheiros de viagem.

Decida o seu tipo de acomodação

Em quase todas as cidades eu tive a sorte ser recebido de braços abertos e com uma acolhida que só reforça que o nordestino é receptivo por natureza.

Fiquei em casas de amigos de infância (como foi o caso de Parnaíba), desconhecidos (vide Jericoacara/Jijoca e Aracati), pessoas que conversava apenas pela internet (Canoa Quebrada e João Pessoa) e hostel (que foi o caso de Natal, Pipa e Recife).

A opção de ficar na casa de conhecidos surgiu pela contenção de gastos e crença na boa fé das pessoas. Pude ter a experiência de me sentir turista, visita e “de casa” de uma vez só, – mas lembre-se que cabe a você saber como se comportar e respeitar o espaço alheio com educação e sensatez.

Já a opção de hostel surgiu por meio de pesquisas e recomendação de sites de busca. Em Natal eu fiquei no Che Largato, em Pipa no Zicatela Hostel e em Recife no Piratas da Praia Hostel, todos com diárias de R$35 a R$40 em quartos coletivos com direito a café da manhã.

E não, não fiquei com medo de dividir quarto com outras pessoas. Pelo contrário, fiz amizades e compartilhei histórias com pessoas de várias partes do Brasil e do mundo. Se você curte conhecer pessoas e suas histórias, é uma ótima experiência.

Mas caso queira tentar algo ainda mais planejado e certo ao chegar ao destino, existem sites como o Couchsurfing e o AirBNB que oferecem hospedagem desde de casa de pessoas à rede de hotéis.

Monte um cronograma

Graças a uma amiga que trabalha em uma agência de viagem, pude programar meus dias de maneira quase impecável. Digo quase impecável porque embarcar em uma aventura dessas sem se permitir o acaso e surpresas no meio do caminho tornam as coisas um pouco sem emoção. Mas o mínimo de agenda eu tinha em cada lugar que parava. Programei cada lugar de acordo com o que visitar no tempo que tinha. As pesquisas prévias ajudaram muito aqui. Recomendo.

Pense nos meios de transporte

Optei me deslocar entre as cidades exclusivamente de ônibus. Nas minhas pesquisas vi que as passagens eram em média R$ 50 a R$ 60, então separei um determinado valor para ter como ir de uma cidade para outra. Além disso, dentro das cidades em praticamente não me desloquei de táxi, mas também de ônibus.

Pra minha grata surpresa, consegui uma carona de João Pessoa pra Recife (obrigado, Orcina!). Boas venturas de fazer amigos por aí.

Pesquise qual o meio de transporte mais abundante na sua região e planeje, junto com o cronograma de passeios, os gastos que serão destinados a isso dependendo do nível de conforto pelo qual você optar.

Praia de Canoa Quebrada - Aracati/CE

Faça anotações

Leve sempre consigo um bloco de anotações, agenda ou algo do tipo. No meu caso, ganhei uma agenda artesanal de uma amiga e lá anotei tudo que vivi nesses dias. Não que seja necessariamente um diário de bordo, mas você ainda vai olhar para aquelas anotações e sentir novamente as sensações que viveu naquela jornada. Vale a pena!

Saiba qual é o seu estilo de viagem

Por fim, friso esse tópico como, talvez, o mais importante. Porque o recado é simples: não adianta nada você planejar tudo e não saber que tipo de viagem faz parte da sua aura.

Minha viagem foi o que foi por simples motivos: gosto de aventura, natureza, sou muito curioso sobre as coisas e acho que não consigo ficar muito tempo em um só lugar.

Acabei optando pelo litoral do Nordeste por ser uma das ideias que tinha de viajar que originalmente envolviam descer o litoral do Brasil, mas como em um mês isso ficou impossível, enxuguei para a região que moro.

Você tem que saber que estilo de viagem você curte antes de tudo. E pode usar essas mesmas dicas pra um planejamento que se adapte ao seu perfil, afinal, são todos flexíveis – acomodação, transporte, gastos e cronograma.

Praia de Pipa - Tibau do Sul/RN

Atente para as dicas

Porque é de graça e, sim, é bom:

  1. Confie na sua intuição;

  2. Se tiver a sensação de que está sendo seguido, abrigue-se em um estabelecimento comercial até se sentir seguro;

  3. Pergunte se os locais em que se hospeda dão acesso à internet;

  4. Olhe nos olhos das pessoas e as trate como igual;

  5. Respeite os limites do seu corpo e beba muita água;

  6. Tenha uma bateria móvel e economize a do seu celular configurando-o no modo avião sempre que possível;

  7. Se sentir medo sem motivo, vá com medo mesmo;

  8. Se estiver perdido, não se desespere. Procure alguém cujo olhar lhe transmita confiança;

  9. Coma muito no café da manhã.

Foram vinte dias intensos, incríveis, de trocas sinceras com o universo. Conheci lugares lindos e voltei para casa com a alma leve, energias recarregadas e com ideias que poderão ajudar moldar os próximos direcionamentos da minha vida.

Afinal, uma experiência como essa ajuda você a notar se tem raízes ou asas. Eu ainda estou decidindo e me divertindo no meio do caminho.


publicado em 17 de Janeiro de 2016, 03:11
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Jonas Sakamoto

Jornalista. Maranhense. Descendente da Terra Nipônica. Alquimista Mental, praticante de Slackline, um apaixonado pela natureza e malabarismo. Tem um espaço chamado Sobre o Tatame. No mais, tenta viver as coisas boas e simples, sempre de maneira 'paciente, confiante, intuitiva'.


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