"Meu nome é Enéas"

Hoje a bandeira nacional amanheceu a meio pau em Brasília. Homenagem ao deputado federal Enéas Carneiro, falecido ontem em decorrência de leucemia. Aos 68 anos, o folclórico político da barba cerrada foi uma das figuras mais representativas da política brasileira.

Tem como não ser macho com uma barba dessas?

Biografia

"Personalidade contrastante no folclore brasileiro, Enéas perdeu os pais aos nove anos de idade, sendo obrigado a trabalhar para sustentar seus irmãos. Em 1958 abandonou a vida humilde no estado do Acre para iniciar seus estudos no Rio de Janeiro. Em 1959 formou-se terceiro-sargento auxiliar de anestesia. Em 1965 formou-se em Medicina pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, com especialidade em Cardiologia. O livro didático dele sobre eletrocardiograma fez tanto sucesso entre os alunos de medicina que era conhecido como A Bíblia do Enéas. A produção acadêmica de Enéas, entretanto, não se restringe à medicina, e ele é autor de artigos sobre diversos assuntos, desde Cardiologia, até Filosofia, Lógica e Robótica. Em 1980 foi diplomado como médico do Hospital do Câncer do Rio de Janeiro.
Enéas fundou, em 1989, o Prona, lançando-se imediatamente candidato à Presidência nas primeiras eleições diretas do Brasil, após o período da Ditadura Militar. O seu tempo na propaganda eleitoral gratuita era de apenas dezessete segundos. Todavia, sua imagem exótica (um homem pequeno, calvo, com enorme barba cerrada e grandes óculos), aliada a uma fala rápida e discurso inflamado e ultranacionalista (terminado sempre por seu indefectível bordão: "Meu nome é Enéas"), fez com que o então desconhecido político angariasse mais de 360 mil votos, colocando-o em 12º lugar entre 21 candidatos. A propaganda vinha sempre acompanhada pela Quinta sinfonia de Beethoven."

Indignado

Enéas já sem barba e diagnosticado com leucemia

Esse pequeno trecho acima, retirado da Wikipedia, já nos dá uma boa noção do tipo de pessoa que estamos falando. Não era a favor de muitas de suas idéias, mas Enéas foi um homem de verdade.

Em 2002, foi o deputado mais votado do país, com mais de 1,5 milhão de votos. Se candidatou à Presidência da República três vezes. Obteve mais de 4,5 milhões de votos na eleição presidencial de 1994.

Ao ler a notícia, fiquei meio chocado. É estranho o modo como criamos uma certa relação de proximidade com pessoas que nunca conhecemos. Ainda me lembro como se fosse hoje de quando o Senna morreu. Era um garoto e desabei a chorar.

Rodeios à parte, esse texto é sobre minha indignação com a postura que algumas pessoas assumem. Entrei em um fórum online que frequento ontem à noite e foi criado um tópico sobre a morte do Enéas. E, meio aos comentários, li coisas como:

"Um bandido a menos"
"Não vai fazer falta"
"Já vai tarde"

Ridículo, esse tipo de postura é deprimente. São pessoas que não fazem absolutamente nada pelo país. Sujeitos acostumados a denegrir políticos por esporte. Esporte de butiquim, sabe. Encontrar com os amigos e xingar a "corja toda" de ladrões desalmados.

Vou te dizer uma coisa, ser político é uma das profissões mais desgraçadas que alguém pode desejar hoje. Apesar de trabalhar para a sociedade, é criticado cruelmente e ser chamado de bandido é premissa básica da carreira.

Não vou ser hipócrita a ponto de dizer que a maioria de nossos representantes são honestos. Não tenho dados para tanto. Mas também não vou ser mais uma ovelha abastecida por periódicos semanais, a repetir: "o Brasil não tem jeito... méeee... o Brasil só tem ladrões... méee..."

A minha regra é a seguinte. Só abro a boca pra meter o pau quando faço algo. De preferência mais bem feito do que quem estou criticando.

E para o Enéas dedico meu respeito e agradecimento, por ter sido um exemplo de homem. Corajoso, audaz, sem medo de enfrentar obstáculos intransponíveis. Esse vai fazer falta.

O clássico


publicado em 07 de Maio de 2007, 13:29
File

Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura